Por: Fernando Dias
A
inflação é um fenômeno econômico que tem muitas causas, e uma das mais
conhecidas é a chamada inflação de custos. É o aumento no preço dos
produtos finais devido há um aumento anterior no preço de um ou mais
insumos, que varia de intensidade de acordo com a importância do insumo
no processo produtivo global. Dentre os grandes “vilões” da inflação de
custo estão à energia e os salários, cujo comportamento é usualmente
monitorado e quando não induzido em quase todos os países.
No
Brasil, país em que a inflação é freqüentemente o principal problema
econômico, isto não é diferente, e as formas de política econômica
utilizadas para lidar com os itens que geram inflação de custos são mais
variadas aqui que em qualquer lugar do mundo conhecido. A este
respeito, vem chamando a atenção nos últimos anos o controle introduzido
desde meados de 2005 sobre a evolução do preço da gasolina, que usa o
poder de mercado da Petrobras para estabilizar o preço final e joga para
a contabilidade da empresa os custos da política econômica.
Como pode
ser observado, o preço da gasolina, medido pela evolução do IPCA/IBGE,
na média pouco variou nos últimos anos, tendo comportamento totalmente
distinto da inflação e do preço médio do petróleo importado pelo Brasil,
com base nos dados da ANP.
A
hipótese que esta estabilidade de preços estaria se dando pelas
condições da demanda não se sustenta, pois a venda de veículos e de
combustíveis cresceu fortemente nos últimos anos. A estabilidade, ao que
tudo indica, está sendo provocada pelo lado da oferta, via controle do
preço de venda para as distribuidoras e uso da rede própria da Petrobras
(BR distribuidora e postos BR) para dirimir eventuais movimentos
especulativos. Em outras palavras a empresa está sacrificando lucros
potenciais para agir como parte da política econômica do governo.
O
que viabiliza a coexistência deste papel de agente público e de empresa
altamente lucrativa vem sendo a alta dos preços do petróleo e a
expansão da produção nacional.
Muito embora as oscilações do preço
externo não sejam repassadas para o consumidor doméstico, sejam elas
positivas ou negativas, elas afetam o comportamento da conta petróleo.
Em síntese, devido a razões técnicas o Brasil importa a maior parte do
petróleo que refina, e exporta a maior parte do petróleo que extrai.
Nosso produto é de qualidade e preço inferior ao que importamos, e tanto
nossa produção quanto o diferencial de preços são cruciais para
determinar a rentabilidade da Petrobras.
Como
pode ser observado a seguir, com base nos dados da ANP sobre os gastos
totais com importação e exportação de petróleo e derivados (conta
petróleo), a tão propagandeada auto-sustentabilidade deve ser entendida
como zeragem dos saldos mensais na conta petróleo. Com efeito, a partir
de meados de 2005 o saldo se estabiliza e o valor acumulado pouco se
altera por um período relativamente longo até a forte expansão dos
preços externos antes da crise de 2008. Na seqüência temos uma forte
queda nos preços externos e nova estabilização do saldo até o final de
2011 quando ele volta a crescer.
Por
outro lado, a estabilização no saldo da contra petróleo veio
acompanhada de um aumento no diferencial dos preços de compra e venda
para o Brasil, cujo comportamento sugere que nosso petróleo não
acompanha perfeitamente os movimentos de alta, mas em compensação é mais
resistente nos momentos de baixa. Na prática, dado que estamos
novamente em período de alta, isto quer dizer que à medida que o
petróleo sobe no mercado internacional o Brasil (a Petrobras) tem de
elevar a produção doméstica apenas para estabilizar o saldo.
Isto
provoca um cenário bizarro para as empresas de petróleo nacionais, pois
tem restrições a repassar a alta para os consumidores ao mesmo tempo em
que os gastos com importação e/ou prospecção aumentam. Não é por acaso
que elas ganham valor no mercado quando os preços externos caem, e
perdem valor quando ele sobe. Dentro deste contexto, o papel das
refinarias em construção no Nordeste passa a ser mais que político e se
torna estratégico para a manutenção economicamente viável desta
estratégia vinda do sócio majoritário do setor (o Estado).
As
novas refinarias usam petróleo nacional, e em tese reduzem o
diferencial nos preços do petróleo à medida que reduzem a necessidade de
uma operação intermediária de compra e venda. Quando se tornarem
operacionais elas permitirão um fôlego adicional para e empresa
continuar a usar os lucros potenciais dos minoritários para fazer
política pública, e isto torna o efeito destas novas unidades dúbio em
termos do valor de mercado da empresa.
Em
um mercado instável como vem sendo o de petróleo é difícil dizer se o
papel social da empresa blindar o consumidor nacional das altas compensa
privá-lo do benefício das baixas. Mas com certeza as novas refinarias
têm um papel estratégico muito maior que simplesmente elevarem a fórceps
o crescimento nordestino, desde que a lógica “empresarial” se mantenha a
mesma nos próximos anos. É esperar para ver, e os sinais indicam que
sim, a gasolina deve ficar mais cara.
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