terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Tecnologias para fruticultura tropical


A fruticultura é uma atividade de grande relevância para as regiões tropicais brasileiras, sendo geradora de emprego e renda e demandadora de tecnologia...

Com o aumento da expectativa de vida do brasileiro e a busca cada vez maior por alimentos de qualidade, consequentemente por uma alimentação saudável, a demanda e a exigência dos mercados são crescentes.

Como o sucesso de qualquer atividade agrícola depende da utilização de tecnologias apropriadas, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) lança a revista Informe Agropecuário “Cultivo tropical de fruteiras”, com resultados de pesquisas para abacaxi, acerola, atemoia, banana, coco, goiaba, graviola, mamão, manga, maracujá, pinha, uva, além de umbu, cajá, seriguela e seus híbridos.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, depois da China e da Índia. No ranking dos países produtores, destaca-se como maior produtor de goiaba vermelha (297 mil toneladas) e de maracujá (664,3 mil toneladas), segundo colocado na produção de mamão (1,9 milhão de toneladas), quarto maior produtor de banana (7,1 milhões de toneladas) e quinto colocado na produção mundial de abacaxi (3,2 milhões de toneladas).

Com esta edição, a EPAMIG disponibiliza informações para 11 grupos de fruteiras, desde o plantio até a pós-colheita, com a finalidade de promover qualidade e produtividade para a fruticultura nacional.

UM BALANÇO SOBRE A CRISE EUROPEIA



Um crescente número de analistas vem advogando o fim do euro. Até recentemente isso era impensável, apresentado como idéia completamente especulativa de saudosos do antigo nacionalismo europeu que, sempre é bom lembrar, é sempre conservador e xenófobo. Já há até quem advogue que a iniciativa deveria partir não dos insolventes Grécia e Portugal, mas da própria Alemanha, “antes que seja tarde demais”. O artigo é de Flávio Aguiar.
   

A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países. O artigo é de Amir Khair.

A crise financeira limitou profundamente o papel do Conselho Econômico e Social de Portugal, que foi uma das primeiras vítimas da hecatombe financeira que atingiu, em primeiro lugar, as nações mais frágeis da União Europeia. "Nós estamos numa situação de ocupação, imposta pela troica FMI, BC Europeu e União Europeia", afirmou o dirigente sindical Manuel Carvalho da Silva, da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses. Presidente do conselho português diz que crise é sistêmica e requer solução sistêmica.


Os países que preservaram instituições estatais conseguiram resistir às pressões neoliberais e priorizar desenvolvimento, geração de emprego e combate à pobreza. A maior parte está na Ásia e América Latina e é menos afetada pelas desregulamentação financeira. Nestes países, entre eles o Brasil, o Poder Político não está submetido ao Poder Econômico. No Primeiro Mundo, os sacrifícios impostos à classe trabalhadora suscitam o surgimento de uma nova esquerda.

Nações Unidas lançam campanha contra a corrupção


Ação global visa promover o debate e mobilizar a sociedade; material da campanha pode ser distribuído e impresso livremente...

“Faça sua parte contra a Corrupção”. Esse é o mote da nova campanha global das Nações Unidas contra a corrupção, lançada nas mídias sociais hoje, 09 de dezembro, Dia Internacional contra a Corrupção, pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC)e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Esta campanha busca estimular todos os segmentos da sociedade a agir contra a corrupção: político, jurídico, legislativo, público, privado, empresarial. A ideia é que cada cidadão se sinta responsável por combater a corrupção, seja nos menores episódios do seu cotidiano, ou nos atos de acompanhamento, investigação e de denúncia da corrupção.

De acordo com a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, a prevenção e o combate à corrupção requer uma abordagem multissetorial, que envolva diversos atores, particularmente aqueles fora do setor público, como a sociedade civil, organizações não governamentais e a comunidade.

Na mensagem pelo Dia Internacional contra a Corrupção deste ano, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, fez menção à chamada “Primavera Árabe” e pediu a união de todos no combate à corrupção.

“Embora os pobres possam ser marginalizados pela corrupção, eles não serão silenciados. Nos acontecimentos em todo o mundo árabe e durante este ano, os cidadãos comuns uniram suas vozes para denunciar a corrupção e para exigir que seus governos combatam este crime contra a democracia. Os seus protestos provocaram mudanças no cenário internacional que meses antes dificilmente poderíamos imaginar... Todos temos a responsabilidade de tomar medidas contra o câncer da corrupção”, disse Ban Ki-moon.

Desde 2009, o PNUD e o UNODC trabalham juntos na promoção de campanhas de conscientização sobre o Dia Internacional contra a Corrupção, com o objetivo de envolver e mobilizar toda a sociedade para agir contra a corrupção.

Impactos da corrupção

Dados do Banco Mundial apontam que a corrupção movimenta USD$1 trilhão por ano no mundo inteiro. Só no Brasil, os recursos envolvidos em atos de corrupção no setor público federal são estimados em R$ 41 bilhões.

A corrupção prejudica os esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), mina a democracia e o Estado de Direito, induz a violações de direitos humanos, distorce mercados, deteriora a qualidade de vida e favorece o surgimento de organizações criminosas, terroristas e de outras ameaças à segurança. Contribui para a instabilidade e a pobreza e é um fator preponderante que conduz países frágeis ao colapso do Estado.

Presente em países ricos e pobres, a corrupção atinge principalmente as pessoas mais vulneráveis. Isso porque o dinheiro desviado pela corrupção deixa de ser investido em melhorias em áreas essências.

Para a diretora do Grupo de Governança Democrática do PNUD, Geraldine Fraser-Moleketi, a corrupção dificulta a atuação de organismos internacionais em busca do desenvolvimento humano. “Ela representa uma ameaça ao nosso trabalho atual e futuro em áreas como redução da pobreza, governança democrática, mitigação e adaptação às mudanças climáticas”, diz a diretora.

Durante o último ano, o PNUD tem feito progressos significativos no combate à ameaça global da corrupção, que afetou o sustento de milhões de pessoas em todo o mundo. “Nós estamos na vanguarda de medidas anticorrupção a nível setorial - especificamente nas áreas de saúde, educação e água - para melhorar a qualidade e acesso da população aos serviços básicos”, afirma Fraser-Moleketi, que cita como o exemplo a abertura de uma discussão global para frear os fluxos financeiros ilegais e revertê-los para o desenvolvimento local.

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Como forma de enfrentar o problema da corrupção, desde 2005 as Nações Unidas trabalham junto aos Estados-Membros para a ratificação e implementação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Ratificada por 155 países, a Convenção estabelece quatro eixos principais de ação: prevenção, investigação, persecução penal e recuperação de ativos.

Como guardião da convenção, o UNODC mantém um programa global para auxiliar os Estados-Membros, especialmente os países em desenvolvimento, a aplicar as disposições previstas na convenção. Para isso, promove assistência técnica direcionada tanto ao setor público quanto ao setor privado. O UNODC tem como objetivo auxiliar os países signatários da convenção a desenvolver a capacidade técnica necessária para aplicá-la de forma efetiva.

O PNUD combate a corrupção por meio de seus esforços para reduzir a pobreza, alcançar o desenvolvimento sustentável e ajudar os países a alcançar os ODM. Atingir os oito objetivos e garantir um futuro melhor para as pessoas mais vulneráveis do planeta depende, em grande parte, de como os países em desenvolvimento são governados e de quão eficientes e justos são em gerar, distribuir e administrar seus recursos.

Por isso, o PNUD ajuda a fortalecer a capacidade das instituições de governança para que estas sejam mais eficazes e superem o obstáculo da corrupção. O PNUD busca também fortalecer a mídia e a sociedade civil para mobilizar cidadãos a participarem de assuntos públicos.

Para fazer o download do material da campanha, clique aqui

Devagar com o ufanismo exagerado!


Nada contra quem queira comemorar a ultrapassagem da Inglaterra e a conquista do sexto lugar. Mas o fundamental é que não se perpetue a tradição secular de se acomodar nos louros desse tipo de vitória parcial e continuar esquecendo a urgência de compartilhar esses frutos com a maioria da população.


As principais manchetes do ano que se inicia, na verdade, já estavam anunciadas antes mesmo de 31 de dezembro. De acordo com previsões divulgadas antecipadamente por algumas empresas de consultoria econômica, o Brasil estaria a ponto de se tornar a sexta maior economia do mundo em termos de seu Produto Interno Bruto, o tão falado PIB.

Para quem acompanha a evolução do desempenho econômico dos principais países do mundo, tal fato não apresentava nenhuma surpresa. Há algumas economias que formam um meio de campo embolado, logo depois dos 4 primeiros: Estados Unidos, China, Japão e Alemanha. Esse grupo é composto por França, Inglaterra, Brasil e Itália. E existem várias metodologias possíveis para mensuração dos PIBs nacionais.


É fato inquestionável que, ao longo da última década, a economia brasileira avançou de forma significativa, bem acima da média de crescimento dos países industrializados, em especial os do espaço europeu. Mas também contribuiu para o salto mais recente a política de valorização cambial de nossa moeda, o real. Os PIBs nacionais são apurados e calculados nas moedas de cada país e depois convertidos para uma comparação padronizada.

No caso, utiliza-se o dólar norte-americano. Assim, caso nossa política cambial fosse mais realista e menos fantasiosa, provavelmente o resultado de nosso PIB em US$ fosse menor. E aí não estaríamos ocupando aquela que passou a ser considerada por muitos como a “gloriosa sexta posição”. Ou seja, não teríamos ultrapassado os britânicos.


Daí a razão de ser o título do artigo. “Devagar com o andor, pois o santo é de barro”. A sabedoria popular muitas vezes nos empresta imagens que contribuem bastante para analisar a realidade social e econômica. É sempre recomendável um pouco de cautela nessas comemorações ufanistas. Essa forma de torcida irracional, como se o ranqueamento dos PIBs pudesse ser tratado como as posições dos carros em uma corrida de fórmula 1, sob a narração daquele famoso locutor televisivo, infelizmente ainda tão conhecido dos lares brasileiros. “Lá vem o Brasil em sétimo lugar, antes da curva de chegada, e atenção, agora acelera de forma inesperada e passa a Inglaterra! A partir desse instante, ocupa a sexta posição na competição”...

O PIB procura medir o conjunto de bens e serviços produzidos por um país ao longo de um determinado período – a padronização geralmente aceita é de um ano. Muitas vezes os meios de comunicação transmitem uma falsa idéia desse importante conceito das chamadas Contas Nacionais. O PIB não mede o total das riquezas de um país. Riqueza é um conceito que a teoria econômica classifica como “estoque”, pois reflete uma variável acumulada ao longo da história. O PIB reflete a renda (contraponto do produto) gerada durante um certo período – trata-se de uma variável classificada como “fluxo”.

Assim, por exemplo, a riqueza petrolífera potencial de um país não é contabilizada no PIB e sim a produção de petróleo efetivada no ano. O valor de uma indústria ou do total de um parque industrial tampouco é contabilizado no PIB e sim a produção industrial realizada nesse período (além da parcela do investimento do empreendimento efetuado nesse mesmo período).


Apesar disso, é claro que existe uma forte correlação entre riqueza e renda. E os países que apresentam um estoque de riqueza elevado tendem a apresentar uma renda também mais alta do que os demais. Como se pode perceber, apenas a utilização do PIB como único elemento de comparação entre países é bastante limitada. O volume do PIB depende do tamanho do país em termos geográficos, das suas facilidades de obtenção de riquezas naturais, da dimensão de sua população, entre outros tantos aspectos.


Assim, as análises devem incorporar outras dimensões para se buscar algo mais efetivo em termos da compreensão da realidade social e econômica que se pretende estudar e comparar. Uma primeira “sofisticação” seria a avaliação do PIB na sua relação com a população do país considerado. Afinal para que serviria a renda de uma nação senão para beneficiar o seu povo? E aqui surge uma importante diferença de conceito, que parece pouco expressiva, mas é bem sutil.

Trata-se do conceito de “PIB per capita”, ou seja, o valor do produto dividido pelo total da população. Países pouco populosos tendem a apresentar PIBs menos elevados, mas que podem ser muito expressivos caso seja levado em consideração o fato de que ocorreram em contextos demográficos de diminuta população.

Bom, nesse caso a nossa sexta colocação já vai lá prá baixo e somos ultrapassados por outros países que parecem ser mais “eficientes” na geração de renda ou produto com menos recursos humanos. Segundo as classificações do PIB per capita dos organismos multilaterais, o Brasil ocuparia a 71ª posição. Ou seja, alguns países grandes descem e outros menores sobem. Afinal, para que pretenderiam cidadãos uruguaios ou finlandeses concorrerem ao título de campeões mundiais do PIB total? Seus territórios são pouco extensos, suas populações não são enormes, mas esses países oferecem condições razoáveis para a vida social e econômica.


Em seguida, a evolução mais recente de avaliação sócio-econômica começou a incorporar outros indicadores para avaliar os países. Foi quando surgiu o conceito, hoje bastante difundido, do Índice de Desenvolvimento Humano – o famoso IDH. Tratava-se da tentativa de incorporar outras dimensões para além das variáveis econômicas “stricto sensu”. Assim, o índice introduz a educação (taxa de analfabetismo) e saúde (mortalidade infantil) junto com o PIB per capita. Ou seja, procura-se de alguma forma verificar como a performance econômica está sendo apropriada pela população em termos de alguns elementos básicos de mensuração de sua qualidade de vida.

A geração dos dados é polêmica, principalmente pelas reclamações dos países que se sentem prejudicados na comparação internacional. Por isso, as avaliações oficiais são levadas a cabo por organismos vinculados à Organização das Nações Unidas - ONU. Nesse caso, a posição brasileira se vê ainda mais distanciada dos primeiros colocados. De acordo com as últimas classificações, o nosso País ocuparia a 84ª posição. Desnecessário comentar muito aqui a respeito da precariedade de nossas condições de saúde e educação em termos de comparação internacional. Uma pena, é triste, mas é a verdade nua e crua!


Por outro lado, as correntes da economia política mais crítica avançaram na elaboração de uma família de indicadores ainda mais sensíveis. Os mais conhecidos são os “Indicadores de Exclusão Social” – IES. Por meio deles, pretende-se apreender não apenas o produto gerado e as condições gerais de saúde e educação. Assim, o IES incorpora elementos como a concentração de renda e da riqueza, bem como a existência de disparidades regionais.

Na verdade, reflete uma forma de buscar desvendar a realidade existente por trás das “médias estatísticas”, que podem muito elegantemente estar a esconder acentuados graus de desigualdade no interior do país. Outras formas de mensuração estão em pleno desenvolvimento, tal como incorporar a dimensão da preservação ambiental e de qualidade de vida, entre outras. Em todas elas, mais uma vez o Brasil não consegue obter vantagem comparativa com os países que estão à sua frente no quesito de PIB puro e simples.


Com essas informações, o que se pretende oferecer aqui é uma visão mais realista e menos ufanista da comparação apressada dos PIB, tal como vem ocorrendo ao longo dos últimos dias. A lista de tarefas que o Brasil ainda tem a cumprir para com a maioria de sua população é longa. Os elevados índices de morte violenta, como a taxa de homicídios e a taxa de mortos nos acidentes de trânsito. Os elevados índices de analfabetismo entre adultos e as preocupantes proporções do chamado “analfabetismo funcional” no conjunto da população.

As altas taxas de ocupação residencial sem as mínimas condições de oferta de serviço de saneamento, como água e esgoto. Os números expressivos de famílias residindo em condições de favela e áreas consideradas como de alto risco. As péssimas condições associadas ao tempo e à qualidade no uso de transporte público. A falta de acesso à terra para quem vive no campo. Os vergonhosos índices de trabalho escravo denunciados a cada ano. E por aí vai.


Nada contra quem queira comemorar a ultrapassagem da Inglaterra e a conquista do sexto lugar. Mas o fundamental é que não se perpetue a tradição secular de se acomodar nos louros desse tipo de vitória parcial e continuar esquecendo a urgência de compartilhar esses frutos com a maioria da população. Ou seja, a tarefa de transformar o mero crescimento econômico em efetivo desenvolvimento social e econômico para todos.

E para isso é necessário mexer na questão da profunda desigualdade que continua a ser a marca de nossa sociedade. Não apenas essa redução de fachada, onde se comparam os rendimentos dos que estão no topo dos 10% de renda mais alta. Isso porque nossa sociedade é tão profundamente desigual, que nesse último decil estão presentes parcelas expressivas das classes médias, a esconder a verdadeira face da permanência da elevada disparidade.


Trata-se, isso sim, de reduzir a vergonhosa concentração da riqueza em mãos dos 0,5% ou 1% mais abastados, na comparação com a absoluta maioria que se vê obrigada a sobreviver com uma renda equivalente ao salário mínimo. Aí, sim, teríamos então algo que mereça realmente ser comemorado com tanto orgulho.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

A miséria do 'novo desenvolvimentismo'


Na América Latina e na Ásia, governos desenvolvimentistas sempre utilizaram políticas ortodoxas, segundo as circunstâncias, e o inverso também se pode dizer de muitos governos europeus ou norte-americanos ultra-liberais ou conservadores que utilizaram políticas econômicas de corte keynesiano ou heterodoxo.

 

José Luís Fiori

“O capitalismo só triunfa quando se identifica com o estado, quando é o estado”
Fernand Braudel, “O Tempo do Mundo”, Editora Martins Fontes, SP, p: 34

O "debate desenvolvimentista” latino-americano não teria nenhuma especificidade se tivesse se reduzido à uma discussão macro-econômica entre “ortodoxos”, neo-clássicos ou liberais, e “heterodoxos”, keynesianos ou estruturalistas. Na verdade, ele não teria existido se não fosse por causa do estado, e da discussão sobre a eficácia ou não da intervenção estatal, para acelerar o crescimento econômico, por cima das “leis do mercado”. Até porque, na América Latina como na Ásia, os governos desenvolvimentistas sempre utilizaram políticas ortodoxas, segundo a ocasião e as circunstâncias, e o inverso também se pode dizer de muitos governos europeus ou norte-americanos ultra-liberais ou conservadores que utilizaram em muitos casos, políticas econômicas de corte keynesiano ou heterodoxo. O pivô de toda a discussão e o grande pomo da discórdia sempre foi o estado, e a definição do seu papel no processo do desenvolvimento econômico.


Apesar disto, depois de mais de meio século de discussão, o balanço teórico é decepcionante.. De uma forma ou outra a “questão do estado” sempre esteve presente, nos dois lados desta disputa, que acabou sendo mais ideológica do que teórica. Mas o seu conceito foi sempre impreciso, atemporal e ahistórico, uma espécie de “ente” lógico e funcional criado intelectualmente para resolver problemas de crescimento ou de regulação econômica.

Desenvolvimentistas e liberais sempre compartilharam a crença no poder demiúrgico do estado, como criador ou destruidor da boa ordem econômica, mas atuando em todos os casos, como um agente externo à atividade econômica. Um agente racional, funcional e homogêneo, capaz de construir instituições e formular planos de curto e longo prazo orientados por uma idealização do modelo dos “capitalismos tardios” ou do estado e desenvolvimento anglo-saxão. E todos olhavam negativamente para os processos de monopolização e de associação do poder com o capital, que eram vistos como desvios graves de um “tipo ideal” de mercado competitivo que estava por trás da visão teórico dos desenvolvimenjtistas tanto quando dos liberais.


Além disto, todos trataram os estados latino-americanos como se fossem iguais e não fizessem parte de um sistema regional e internacional único, desigual, hierarquizado, competitivo e em permanente processo de transformação. E mesmo quando os desenvolvimentistas falaram de estados centrais e periféricos, e de estados dependentes, falavam sobretudo de sistema econômico mundial que tinha um formato bipolar relativamente estático, onde as lutas de poder entre os estados e as nações ocupavam um lugar bastante secundário..


No final do século XX, a agenda neoliberal reforçou um viés da discussão que já vinha crescendo desde o período desenvolvimentista: o deslocamento do debate para o campo da macroeconomia. Como volta a acontecer com o chamado “neo-desenvolvimentismo” que se propõe inovar e construir uma terceira via (uma vez mais), “entre o populismo e a ortodoxia”. Como se tratasse de uma gangorra que ora aponta para o fortalecimento do mercado, ora para o fortalecimento do estado.


Na prática, o “neo-desenvolvimentista” acaba repetindo os mesmos erros teóricos do passado e propondo um conjunto de medidas ainda mais vagas e gelatinosas do que já havia sido a ideologia nacional-desenvolvimentista dos anos 50. Passado a limpo, trata-se de um pastiche de propostas macroeconômicas absolutamente ecléticas, e que se propõem fortalecer, simultaneamente, o estado e o mercado; a centralização e a descentralização; a concorrência e os grandes “campeões nacionais”; o público e o privado; a política industrial e a abertura; e uma política fiscal e monetária, que seja ao mesmo tempo ativa e austera.

E, finalmente, com relação ao papel do estado, o “neo-desenvolvimentismo” propõe que ele seja recuperado e fortalecido mas não esclarece em nome de quem, para quem e para quê, deixando de lado a questão central do poder, e dos interesses contraditórios das classes e das nações.


Neste sentido, fica ainda mais claro que o desenvolvimentismo latino-americano sempre teve um parentesco maior com o keynesianismo e com “economia do desenvolvimento” anglo-saxônica, do que com o nacionalismo econômico e o anti-imperialismo, que são a mola mestra do desenvolvimento asiático.

E que, além disto, os desenvolvimentistas latino-americanos sempre compartilharam com os liberais, a concepção econômica do estado do paradigma comum da economia política clássica, marxista e neo-clássica. Este paradoxo explica – aliás - a facilidade teórica com que se pode passar de um lado para o outro, dentro do paradigma líbero-desenvolvimentista, sem que de fato se tenha saído do mesmo lugar.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Contra o estrago do liberalismo, recuperar o Marx filósofo


O filósofo francês Dany-Robert Dufour refletiu sobre as mutações que esvaziaram o sujeito contemporâneo de relatos fundadores. Essa ausência é, para ele, um dos elementos da imoralidade liberal que rege o mundo hoje. Seu trabalho como filósofo crítico do liberalismo culmina agora em um livro que pergunta: que indivíduo surgirá depois do liberalismo? Talvez seja o caso, defende, de recuperar o Max filósofo, que defendia a realização total do indivíduo fora dos circuitos mercantis.

Entenda a rentabilidade dos títulos públicos


Uma das modalidades de investimento mais comentadas e incentivadas no Quero Ficar Rico é, sem dúvidas, o Tesouro Direto. Recebemos diariamente várias dúvidas sobre o tema e, muitas vezes, percebo algumas que são recorrentes.

O objetivo deste artigo é explicar a rentabilidade dos títulos públicos, para que todos possam entender porque alguns títulos apresentam suas rentabilidades em taxas e outros mostram índices.

Prefixado ou pós-fixado?

Ao consultar os preços e taxas dos títulos públicos, é possível observar facilmente três categorias de títulos ofertados: indexados ao IPCA, prefixados e indexados à taxa Selic.

De uma forma sucinta, o primeiro tem sua rentabilidade acrescida da variação da inflação no período, o segundo tem a taxa definida desde o momento da compra e o terceiro renderá de acordo com a variação da taxa Selic.

Por que a LTN é a preferida?

Após receber vários e-mails e comentários, cheguei à conclusão que muitos investidores preferem a LTN (título prefixado) justamente por ter sua rentabilidade definida desde o momento da compra.

Além da maioria preferir saber a exata rentabilidade assim que adquire o título, existe também outra causa: alguns simplesmente não entendem a rentabilidade dos demais títulos públicos. E, apesar de parecer complicado, é muito simples e explicarei a seguir como decifrar esses números e taxas.

Rentabilidade dos títulos públicos

Para ilustrar essa explicação, utilizarei os primeiros títulos de cada categoria, apresentados na figura acima: LTN 010113LFT 030715NTN-B Principal 150515 .

A LTN, pode ser prefixada, é muito simples de entender. Como a taxa de compra é 10,13%, isso significa que esse título vai render 10,13% ao ano até o vencimento.

A taxa de compra da LFT é 0,00%, mas isso não significa que ela não renderá nada. Não precisa se preocupar. Como esse título é indexado à taxa Selic, vai render exatamente a variação dessa taxa durante o período que o investidor permanecer com ele.

De acordo com o último relatório Focus publicado (30/12/2011), a previsão é que a taxa Selic tenha uma variação média de 9,69% durante o ano de 2012. Em outras palavras, que compra a LFT, deve esperar uma rentabilidade de 9,69% durante esse período.

A NTN-B Principal ficou por último porque tem uma pequena complicação para calcular sua rentabilidade. Ao observar a taxa de compra da NTN-B Principal escolhida, nota-se o percentual 5,25%. A esse percentual deve ser acrescentada também a variação da inflação no período, medida pelo IPCA.

De acordo com o último relatório Focus, a expectativa do ICPA para 2012 é 5,32%. A – pequena – complicação é que a rentabilidade da NTN-B não é definida pela simples soma desses valores. A rentabilidade desse título é assim calculada:
Rentabilidade = (1 + taxa) * (1 + IPCA) – 1

No caso assim, a taxa seria:
Rentabilidade = (1 + 5,25%) * (1 + 5,32%) – 1 = 1,0525 * 1,0532 – 1 = 10,85% ao ano.

Conclusão

Como pode ser visto, a rentabilidade dos títulos públicos não é nenhum bicho de sete cabeças. Como expliquei no artigo ‘Como estimar a rentabilidade dos investimentos pós-fixados‘, o relatório Focus é a fonte mais confiável para coletar os dados (IPCA e taxa Selic) para calcular a rentabilidade prevista para os títulos públicos pós-fixados.

E esse cálculo é a melhor forma para escolher o melhor títulos público para investir e não investir apenas em LTN por não entender a rentabilidade dos demais títulos.

Meta para a inflação de 2011


O ministro Mantega disse que a meta será considerada cumprida se o IPCA for de até 6,5%, dado o critério aceito de arrendondamento, pelo qual a inflação teria sido de 6,5%.

Na minha opinião, o critério de arredondamento não se aplica nesse caso. Qualquer número acima de 6,5% significará que a meta não terá sido cumprida. O problema é que o BC teria que enviar uma carta ao ministro, fornecendo suas justificativas. Nada de mais. Acontece que o governo resolveu levar o assunto mais a sério do que deveria. Garantiu, juntamente com o BC, que eram amplas as chances de cumprimento da meta.

O mundo não cairia se ela não fosse cumprida, mas a Fazenda fez o que pôde manipulando o índice de inflação. Adiou, para 2012, a entrada em vigor do aumento do IPI sobre cigarros, baixou a CIDE sobre a gasolina para evitar o aumento dos seus preços e deixou para o próximo ano o reajuste de tarifas de telefones.

Na verdade, saber se cumpriu ou não a meta por conta de alguns décimos a mais não é o mais relevante. O importante é saber que temos uma inflação muito alta para os padrões que têm prevalecido no mundo dos anos 1990 para cá. A meta de 4,5% é uma das mais altas. Nos mercados emergentes, o mais comum é 3%.

Os governos do PT mantiveram essa meta por nove anos consecutivos. E tudo indica que a inflação ficará descolada do centro da meta durante todo o governo Dilma. A justificativa para essa tolerância com inflação, totalmente furada, é a de que isso permitiria trabalhar com uma taxa de juros mais baixa.

No fundo, temos um governo mais tolerante à inflação, que elegeu o crescimento como meta. Há quem diga que isso é certo, que uma taxa de inflação de 6% a 7% é funcional, que é preciso crescer e criar empregos, e por aí afora. Esse filme é conhecido e seu desfecho costuma ser desastroso. 

O país ainda vai pagar um preço alto por essa tolerância.

Maílson da Nóbrega

Inflação fecha primeiro ano de Dilma em cima do limite da meta: 6,5%

Índice de Preços ao Consumidor Amplo sobre frente a 2010 e é o mais alto desde 2004, mas fica dentro do teto proposto pelo governo pelo oitavo ano seguido. 'Vilões', alimentos repetem maior peso na inflação mas são únicos a desacelerar. Depois de queda de braço com 'mercado' em 2011, presidente do Banco Central comemora IPCA 'em linha com cenário antecipado pelo BC'.

Imposto de Renda: Não caia na malha fina

Cair na malha fina do Imposto de Renda é um dos maiores medos do contribuinte brasileiro. Em 2010, 700 mil contribuintes tiveram que dar explicações à Receita e consertar erros de suas declarações. A melhor maneira para evitar este problema tributário é ter atenção na hora do preenchimento dos dados e não omitir nenhum rendimento ou bem.

“A dica para o contribuinte não cair na malha fina é que ele procure, na hora de fazer a declaração, reunir todos os documentos e procurar não omitir qualquer rendimento recebido”, explica Domingos Chiometo, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo.

Para conseguir identificar os erros das declarações, a Receita Federal faz o cruzamento de dados com outras declarações, com os informes de rendimento distribuídos por bancos e empregadores, declarações de serviços médicos (para checar se aquilo que foi deduzido é realmente o que foi pago), além da movimentação do cartão de crédito do cidadão.

Atenção na hora de preencher

Além de não omitir dados, é importante que o cidadão preencha o formulário com calma e tempo para conferências. Mesmo sem omitir dados, o contribuinte pode errar na hora de digitar as informações e acabar na malha fina na hora do cruzamento feito pela Receita Federal.

“Às vezes até a digitação gera o erro. A vírgula é fundamental na digitação. Se ela não for colocada antes dos valores do centavo, o sistema pode assimilar diferente.  Aí é capaz de se complicar e dar uma informação errada”, explica o contador.

Uma dica para evitar esse tipo de problema é conferir a declaração com os documentos que o contribuinte tem em mãos. Só depois de checar os valores e os bens declarados deve-se fazer a transmissão dos dados. Mas quem cometeu algum erro na declaração não precisa se desesperar. É possível fazer a correção (retificação, no termo utilizado pelos programas da Receita), de preferência até o mês seguinte ao prazo final da entrega.

Acompanhe o status da sua declaração

Depois de enviar a sua declaração para a base de dados da Receita Federal é possível ver o estágio de seu processamento, a liberação da restituição (caso tenha) e as eventuais pendências que fizeram com que ela caísse na malha fina. Visite a página do Extrato da Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física e faça o passo a passo para se cadastrar.

Exportações brasileiras do agronegócio


Do Portal Brasil

As exportações brasileiras do agronegócio registraram um novo recorde histórico em 2011, somando US$ 94,59 bilhões, valor 24% superior ao alcançado em 2010 (US$ 76,4 bilhões). O bom desempenho fez de 2011 o melhor ano para a balança comercial do agronegócio desde 1997. A meta do Ministério da Agricultura para 2012 é ultrapassar US$ 100 bilhões, com estimativa de 5,7% de crescimento.

Os produtos do complexo soja (grão, farelo e óleo) foram os que mais contribuíram para a expansão das vendas externas em 2011, sendo responsáveis por 38,7% do crescimento total de US$ 18,15 bilhões no agronegócio. Na comparação com 2010, as exportações de soja em grãos cresceram 47,8% em valor (US$ 11,03 bilhões para US$ 16,31 bilhões), devido ao crescimento de 30,3% no preço médio de venda. Em volume, o aumento foi de 13,5%. As exportações de farelo e óleo de soja somaram, respectivamente, US$ 5,69 bilhões e US$ 2,13 bilhões em 2011.

Em seguida, encontram-se o café (16,4%), os produtos do complexo sucroalcooleiro (13,2%), as carnes (11,1%) e os cereais, farinhas e preparações (8%). O complexo sucroalcooleiro teve receita de US$ 16,18 bilhões com vendas externas em 2011 (17,45% superior em relação ao ano anterior). O crescimento se deu em função do aumento de 29,9% no preço de venda, apesar da queda de 9,6% na quantidade exportada no período (29,52 milhões para 26,70 milhões de toneladas).

As carnes foram o terceiro setor de maior exportação, com vendas de US$ 15,64 bilhões, o que representa 14,8% de expansão em relação a 2010. Esse crescimento ocorreu em função da elevação de 16,6% no preço médio do produto, o que compensou uma queda de 1,6% na quantidade exportada em relação a 2010. O setor foi responsável por 16,5% do montante total das vendas externas do agronegócio em 2011, com destaque para a carne de frango, cujas vendas somaram US$ 7,49 bilhões, 19,9% a mais do que o ano anterior.

Os produtos florestais ficaram em quarto lugar no ranking de exportações do agronegócio, com US$ 9,64 bilhões e 3,8% de crescimento em relação ao ano anterior. Destaca-se ainda o café, que atingiu a cifra de US$ 8,73 bilhões (51,5% superior ao ano anterior).

Em conjunto, os cinco principais setores somaram US$ 74,33 bilhões em exportações, sendo responsáveis por 78,6% do total das vendas externas de produtos brasileiros agropecuários em 2011. Essa participação representa um aumento na concentração da pauta exportadora. Em 2010, os mesmos setores foram responsáveis por 77,9% dos embarques.

Destinos

Em 2011, as vendas externas concentraram-se, principalmente, em mercados como Ásia e União Europeia, responsáveis, em conjunto, por 57,4% do total exportado pelo agronegócio brasileiro (US$ 54,34 bilhões) – fatia maior q ue os 56,8% registrados em 2010 (US$ 43,38 bilhões). Em seguida, destaca-se a participação do Oriente Médio (10,1%), dos países do Nafta - Estados Unidos, México e Canadá - (8,5%) e da África, excluindo Oriente Médio (8%).

A maior expansão, em relação ao ano anterior, ocorreu na Oceania (55,8% superior), seguida da África excluindo Oriente Médio (43,4% superior) e da Ásia (33,3% superior). Houve redução da participação apenas nos demais países das Américas (com redução de 6,6%). A União Europeia foi responsável por 18,3% do incremento de US$ 18,15 bilhões ocorrido nas vendas externas em 2011 na comparação com o ano anterior.

Na análise por país, destacam-se as exportações para a China, com US$ 16,51 bilhões em 2011, seguida de Estados Unidos (US$ 6,70 bilhões), Países Baixos (US$ 6,36 bilhões), Rússia (US$ 4,05 bilhões), Japão (US$ 3,52 bilhões) e Alemanha (US$ 3,50 bilhões). O bom desempenho nas exportações para a China se deve, em grande parte, às vendas de soja em grãos (US$ 10,96 bilhões), celulose (US$ 1,3 bilhão) e açúcar (US$ 1,22 bilhão). Esses produtos representaram, em conjunto, 81,6% do total das exportações do agronegócio para o país no período.

As importações brasileiras de produtos agropecuários atingiram US$ 17,08 bilhões (valor 28% superior ao registrado em 2010), resultando em um superávit de US$ 77,51 bilhões na balança comercial do agronegócio de 2011. O saldo do setor agropecuário é quase três vezes superior ao acumulado no resultado global da balança comercial brasileira, que fechou o ano de 2011 com superávit de US$ 29,8 bilhões.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Aumenta a interação do Estado com a sociedade


De 2002 a 2010, número de políticas públicas federais que contam com a colaboração social cresceu 64%...

Em 2002, 11,5% dos programas sociais do Estado eram feitos em interação com a sociedade. Em 2010, esse percentual foi de 75,4%. O quadro evolutivo da participação social nessas formulações foram divulgadas na coletiva pública do Comunicado nº132 – Participação social como método de governo: um mapeamento das “interfaces socioestatais” nos programas federais, realizada na tarde desta quarta-feira, 25, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

A apresentação foi feita pelo coordenador de Estudos sobre Estado e Democracia da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest), Roberto Pires, e pelo assessor Técnico da Presidência do Ipea, Murilo Pires.

A principal motivação para que o estudo fosse feito, de acordo com Roberto Pires, é o reconhecimento que tem surgido nas últimas décadas a respeito da importância dos canais de participação social nas decisões sobre elaboração, implementação e monitoramento das políticas públicas do governo federal, principalmente nas áreas de saúde, assistência social e educação.


“Estudos passados do Ipea já vinham apontando o crescimento expressivo da colaboração social nos programas e do peso das conferências regionais voltadas para esses objetivos, mas trabalhos de mapeamento ainda são raros”, pontuou o coordenador.


Os dados que compõem o comunicado são oriundos do Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento (SIGPlan) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que faz o acompanhamento dos Planos Plurianuais, de onde vêm os componentes da pesquisa. O período abordado é o compreendido entre os anos de 2002 a 2010. “Foi possível traçar a evolução do fenômeno na última década e construir o conjunto de dados que apontam como esses canais se distribuem nas áreas de atuação do Estado, e ainda como se dão os desempenhos desses canais”, disse Pires.


Desafio proposto pelo governo federal é estabelecer a participação social como integrante das atividades do Estado, para que essas atuações tenham mais legitimidade, sejam mais eficientes - por meio da proximidade dos problemas -, tornem o governo mais transparente, e criem mecanismos para que a sociedade controle as ações governamentais.


Tipos de inclusão

As ouvidorias criam canais permanentemente abertos, que são usados pelos cidadãos a qualquer momento, e aí o espaço de inclusão se dá de forma mais individualizada, ao contrário das outras formas, que são, por definição, coletivizadas. Os conselhos setoriais, que não acontecem rotineiramente, apresentam regularidade e frequência. As conferências, apesar de terem periodicidade ainda mais alargadas, têm sido mobilizadas de forma relevante na formatação de políticas públicas. No caso das audiências, fóruns, comitês e reuniões com grupos de interesse são mecanismos mais urgentes e usados para projetos específicos.


“Esses instrumentos existem na Constituição, mas estão sendo usados? O estudo permite perceber que sim, e essa ativação tem sido crescente”, avaliou Pires. Em 2010, 92,1% dos programas contavam com esses programas de relação com a sociedade, o que, em 2002 o total era de 60,4%. “Vários órgãos que não possuíam programas de interação, passam a praticá-los, principalmente devido a iniciativas surgidas nos poderes Legislativo e Judiciário”, completou.


Institucionalização

De acordo com Roberto Pires, conselhos setoriais, audiências e consultas públicas vêm se tornando os principais mecanismos de interação do governo com a sociedade no desempenho de seus programas. Ou seja, tem crescido o grau de institucionalização dessas interações, e reduzindo muito mecanismos mais informais.


Tipos de interface e natureza das políticas

Na área de proteção e promoção social estão os mecanismos que mais mobilizam conjuntos de interfaces com a sociedade, nas suas mais variadas formas. Além disso, eles se distinguem por mobilizar as formas mais públicas e coletivizadas, como conselhos e conferências.

Quando a temática é infraestrutura, nota-se a clara associação com outros instrumentos, ou mais individualizantes ou episódicos, que não têm constância, e ainda as ouvidorias. Já quando os programas tratam de desenvolvimento econômico, há baixa mobilização dos mecanismos de interface, “por serem programas menos porosos”, segundo Pires.


Efeitos

Sistematizando 1.370 respostas solicitadas a gerentes de programas, foi constatado que eles consideram que a interações são importantes para gerar transparência, adquirir informações, rever rumos de ações e metodologias e promover correções nos programas, além disso, eles reconhecem o papel de fiscalização das ações e controle de andamentos.


Para os projetos de proteção social, o quesito mais valorizado é da transparência; nas áreas de infraestrutura e desenvolvimento econômico, passa a ser o de aquisição de informação e de correção de metodologias.

Eficiência, gestão pública e desenvolvimento regional


Por Carlos Magno Lopes


A vasta literatura especializada em desenvolvimento regional não parece ser abundante em temas que relacionam a eficiência da gestão pública com o desenvolvimento regional. Nesse sentido, a divulgação de pesquisa da Intelligence Unit da Economist é oportuna e revela uma dimensão das desigualdades regionais, no Brasil, pouco comentada: a eficiência da gestão pública nos diversos estados da federação, como mostra o gráfico abaixo.

O ranking de gestão a que se refere o gráfico acima, tem como objetivo principal informar os melhores estados para se investir, a partir do uso de indicadores relacionados ao ambiente político, ao ambiente econômico, às políticas para investimentos estrangeiros, à infraestrutura, aos recursos humanos, à sustentabilidade, ao regime tributário e regulatório e, por último, à inovação.

Como se observa e, em larga medida já era esperado, a média do Nordeste (33,4) é inferior à média nacional (41,3) que, por sua vez, é significativamente menor que a do Sudeste (65,1). No comparativo das médias, fazer negócio no Sudeste é quase duas vezes mais fácil e melhor que no Nordeste. Um resultado espantoso! Não é à toa que os investidores priorizam o Sudeste ao Nordeste.

Uma característica desse tipo de ranking é que boa parte dos indicadores considerados pouco ou nada dependem da base, estrutura ou tamanho da economia de cada estado. Em contraste, refletem aspectos da gestão pública que não dependem de fundos constitucionais, programas do governo federal, linhas de crédito favorecidas ou qualquer fonte de recursos financeiros imaginável. Há dimensões do desenvolvimento regional que dependem quase que exclusivamente da eficiência da gestão pública. Os eleitores devem, portanto, cobrar menos retórica e mais eficiência de suas lideranças políticas.

O que, então, deve ser feito para aumentar a eficiência da gestão pública? Qualquer que seja a resposta, o ponto de partida certamente é o indivíduo, isto é, capacitar e profissionalizar policy makers e demais servidores públicos. Para tanto, é prescindível aparelhar a administração pública.

Quando os estrangeiros são bem-vindos


Por Gustavo Maia Gomes


De acordo com notícia recente de O Globo online, o governo federal, por meio da Secretaria de Estudos Estratégicos, estuda novas regras para a imigração de trabalhadores: “Brasil quer facilitar vistos para profissionais estrangeiros altamente qualificados”. Será, mesmo, necessário? O leitor pode fazer seu juízo. Para tanto, além de fatos, relaciono abaixo umas poucas proposições acompanhadas de razões que demonstram serem elas, provavelmente, verdadeiras.

•    Leva, pelo menos, dez anos para transformar um bom concluinte do ensino médio em profissional altamente qualificado.


São cinco anos no curso superior e, no mínimo, mais cinco em mestrado, doutorado ou experiência equivalente no trabalho.


•    Portanto, mesmo se começássemos hoje a formar mais técnicos, demoraria uma década para que essas pessoas adquirissem alta qualificação.


Como se infere, facilmente, da proposição anterior. Se não temos este tempo, a importação de profissionais já qualificados pode ser a única solução.


•    O crescimento sustentado da economia brasileira exige uma crescente oferta de técnicos altamente qualificados, especialmente, engenheiros.

Cito um estudo do Ipea: para um crescimento real acumulado do PIB de 26,5%, entre 2003 e 2008, a ocupação de engenheiros e profissionais afins aumentou em 51,6%. (Nascimento et alii, ver referências, ao final.)


•    Nos últimos trinta anos, os cursos de engenharia, no Brasil, foram desvalorizados, acarretando insuficiência destes profissionais.

Com a retomada do crescimento, essa situação está se revelando no mercado de trabalho: em 2011, por exemplo, o salário médio de engenheiros e profissionais afins subiu 20%. (M. Gazzoni, no Jornal da Tarde online)


•    A insuficiência de engenheiros não se deve a que o número de formados pelas faculdades e universidades tenha deixado de crescer.

Nos últimos dez anos, especialmente, ocorreu, na verdade, o oposto. Só que o crescimento não se deu nas engenharias ou carreiras técnicas, em geral. Concentrou-se em cursos de Direito e Ciências Sociais. Um sintoma disto é mostrado a seguir.


•    O Brasil tem mais faculdades de Direito do que todo o resto do mundo junto.


“Temos 1.240 faculdades de direito. No restante do mundo, incluindo China, Estados Unidos, Europa e África, existem 1.100 cursos, segundo os últimos dados a que tivemos acesso”, disse o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça. (Segundo Jefferson Kravchychyn, do CNJ.)


•    Uma última pergunta, que sugere uma conclusão.


Um país que, único no mundo, forma sete vezes mais bachareis em Direito (e em áreas semelhantes) do que engenheiros (e profissionais correlatos) pode sustentar o crescimento econômico e, portanto, continuar criando empregos e ocupações produtivas, inclusive, para advogados e juízes? (Os dados estão no site da Unesco.)


Referências:
http://oglobo.globo.com/pais/brasil-quer-facilitar-vistos-para-profissionais-estrangeiros-3671799#ixzz1kNP2jkPj
http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2010/10/13/brasil-e-campeao-em-faculdades-de-direito/
http://acertodecontas.blog.br/sala-de-justica/faculdades-de-direito-brasil-1240-x-1100-resto-do-mundo/
Paulo A. Meyer M. Nascimento et alii, “Escassez de engenheiros: realmente um risco?”. Radar, n. 6 (02/2010). Brasília, Ipea, Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, Inovação, Produção e Infraestrutura. Em http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/100223_Radar6.pdf.(Pág. 5).
Marina Gazzoni, “Alta procura faz salário de engenheiro subir 20%”. Jornal da Tarde online (03/11/11). Em http://blogs.estadao.com.br/jt-seu-bolso/alta-procura-faz-salario-de-engenheiro-subir-20/.
United Nations, Unesco, Institute for Statistics, em http://stats.uis.unesco.org/unesco/TableViewer/ tableView.aspx?ReportId=169


Este artigo será publicado, simultaneamente, em http://www.blogdatametrica.com.br, http://www.econometrix.com.br e http://www.gustavomaiagomes.blogspot.com (24 jan 2012)