SECA
Terminamos
o mês de março e a situação é cada vez mais crítica em nossa região. Inúmeros municípios
já vivenciam o colapso no abastecimento: Luís Gomes (quase dois anos), Antônio
Martins, Pilões, Francisco Dantas e tantos outros. Outros tantos se encaminham
para a mesma situação.
REBANHO
DIZIMADO
A luta
diuturna dos criadores para salvar algumas cabeças do rebanho é extenuante,
sofrida e quase certamente inócua. O pequeno criador não tem como superar os
entraves burocráticos criados para acessar linhas de empréstimos, quando
consegue, até pela baixa capacidade de endividamento, os recursos servem apenas
como paliativo. Muitos sacrificam o sustento da família para tentar salvar os
animais, outros tantos, já caíram nas mãos de agiotas e, provavelmente, perderão
as poucas posses que tem.
TRISTE
SINA
Após
anos de luta árdua, de sol a sol, perde-se praticamente tudo. Triste sina Severina.
O
ÓBVIO ULULANTE
O fenômeno climático da seca é antigo, cíclico, previsível e pode-se
conviver com ele de maneira sustentável, desde que se faça uso de soluções
tecnológicas e alternativas adequadas. Esta foi uma das afirmativas de destaque
feitas pelo chefe-geral da Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), Natoniel Franklin
de Melo, em palestra sobre tecnologias da Embrapa aplicadas ao Semiárido, em
audiência pública na Assembleia Legislativa de Sergipe, na terça-feira (26).
Franklin de Melo sabe, as autoridades sabem, todos sabem, o problema não
é a seca em si, afinal, vivemos numa região semiárida. O fato perturbador é a
falta de vontade política para executar as ações necessárias. E quais seriam
tais ações?
Transcrevo outro trecho da palestra de Franklin de Melo:
“As variadas técnicas de captação da água da chuva, extração de águas
subterrâneas e tratamentos para redução de sua salinidade, a construção de
barragens subterrâneas, entre outras, são fundamentais para que as tecnologias
agrícolas tenham sucesso”, reforçou.
O pesquisador defendeu medidas de natureza não emergencial, mas
estruturantes e duradouras. “Num período de seca severa como estamos
atravessando agora, não há muito o que se fazer a não ser se preparar para o
longo prazo, com implementação de práticas que se tornem de fato políticas de
Estado”, defendeu.
Temos instituições de pesquisa
do calibre da EMBRAPA e conhecimentos acumulados para implantar ações estruturantes
e duradouras. O que impede? Falta vontade política.
Reportagem sobre a palestra
AQUI
PAU DOS FERROS
O colapso no abastecimento é só
uma questão de tempo. O odor da água do reservatório da Barragem está cada vez
mais insuportável e seria desejável a CAERN informar a sociedade a causa de tal
situação. É proveniente de algum produto químico adicionado a água para
tratamento? Caso seja característico da água remanescente do reservatório, qual
é a causa? Cianobactérias? Material orgânico?
POÇOS
Não sei se é viável tecnicamente,
mas não seria desejável realizar estudos para verificar a possibilidade de
perfuração de poços profundos? Será que alguns poços profundos com uma vazão significativa
não permitiriam melhorar a qualidade da água distribuída em nosso município e
talvez viabilizar o funcionamento do sistema adutor a partir de Pau dos Ferros?
FRANCISCO DANTAS
Um poço perfurado no perímetro urbano
apresentou ótima vazão, mas alguns cidadãos estão preocupados com a qualidade
da água. O poço parece que tem uma profundidade superior a 50 metros, mas nada
impede que sejam feitos testes para aferir a potabilidade da água e que a
população usuária tome as medidas de precaução, como adicionar cloro na
proporção adequada (funcionários da CAERN podem orientar o uso), filtrar a água
e fervê-la. Ressalte-se: filtrar e ferver, filtrar somente não elimina impurezas.
FOME
Não assistimos nesta seca as
cenas deprimentes de tentativas de saques nas cidades, mas se enganam aqueles
que pensam que não existem pessoas passando fome. A situação é diferenciada,
principalmente devido a universalização do Bolsa Família, mas temos sim pessoas
passando fome. A comprovação é fácil e basta uma visita às áreas mais pobres
das cidades e a zona rural. Os mais pobres são os que mais sofrem e, dentre
estes, as crianças e idosos (o famigerado consignado reduziu drasticamente a
capacidade de consumo destas pessoas).
DOENÇAS
A diminuição da renda disponível
dos mais idosos (consignados e compra de ração por parte de alguns pequenos produtores)
que resulta na diminuição do consumo de alimentos e até na compra de
medicamentos, consumo de água não potável, armazenamento inadequado, além de
outros fatores (intensificação do trabalho, desesperança, maior consumo de
bebidas), têm refletido no aumento de doenças associadas as tais causas. É a
seca, nem sempre como causa direta, mas subsidiária, em toda sua extensão:
desolação e morte.
Não temos
mais a repetição da tragédia humana imortalizada em tantas obras literárias,
como a excelente “Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Não na
mesma extensão, não da mesma forma, mas o sofrimento continua...