domingo, 1 de maio de 2016

FRUTICULTURA IRRIGADA NO RN

Depois de anos de sucessivas perdas, a fruticultura irrigada volta a respirar com mais ânimo no Rio Grande do Norte. Somente em 2015, quase 500 mil toneladas de frutas foram produzidas no Alto Oeste do estado. Os dados são do Comitê Executivo da Fruticultura Irrigada do Rio Grande do Norte (Coex), que reúne 23 produtores associados. 
 
Metade de toda a produção potiguar, entre 200 mil e 220 mil toneladas, foi para o mercado externo - basicamente o continente europeu, servindo mesas principalmente na Inglaterra, na Holanda e na Espanha. As exportações foram responsáveis pelo ingresso de US$ 98 milhões no estado. Cerca de 20 mil empregos diretos e 50 mil indiretos são gerados por essa cadeia. Apesar dos resultados, a produção potiguar ainda é ameaçada pela falta de água. 

Para os produtores, a redenção da cadeia foi a desvalorização do real frente ao dólar, no ano passado. Isso tornou o preço das frutas mais atrativo e competitivo. Eles estimam que vão aumentar em 10% a produção neste ano, buscando expandir as vendas para a Ásia, Leste Europeu, Estados Unidos e Canadá, além do Oriente Médio. 
 
Praticamente dois terços do total do exportado é melão. O produto teve um crescimento de 17,44% no ano passado, passado de 84,4 mil para 99 mil toneladas, que renderam US$ 63 milhões. 
 
O mamão e a melancia tiveram crescimentos mais vultosos: 55% e 54%, respectivamente. De acordo com levantamento do Centro Internacional de Negócios da Federação da Indústria do Estado (Fiern), esses produtos vêm tendo sucessivos crescimento desde 2012. Nos últimos três anos a melancia cresceu um total de 59,5% e o mamão, 171%.
 
Mangas também tiveram leve aumento nos últimos dois anos. Os três produtos somados renderam mais de US$ 30 milhões em 2015.
 
“O estado perdeu um pouco do espaço na fruticultura nos últimos anos, até praticamente 2012 ou 2013. De lá para cá, voltou a crescer e está aumentando. O resultado do ano passado coloca o estado como o quarto maior exportador do país, atrás da Bahia, Pernambuco e o Ceará. Acho que ele tem como ultrapassar o Ceará já este ano, em termos de valor de exportação e ser o terceiro maior exportador de frutas do Brasil. Acho que essa é uma perspectiva bastante positiva”, afirma o produtor Luiz Roberto Barcelos, da Fazenda Famosa, que preside o Coex e a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). 
 
De acordo com ele, embora o país viva um momento de crise, há setores que estão em uma situação favorável ao crescimento e que podem ser vetores para a retomada do desenvolvimento. Um deles é a fruticultura. “Quando a crise vem, todo mundo reduz investimentos. Quando você reduz investimentos, reduz a produção e alimenta mais a crise, ao invés de sair”, diz ele. “A saída da crise é trabalho e produção, não tem outra forma de fazer isso. E o agronegócio tem sido a locomotiva da economia brasileira nos últimos anos. A fruticultura, mais ainda”, pontua. 
 
Situação dos aquíferos preocupa
 
Apesar da perspectiva de crescimento, a exportação das frutas registrou queda superior a 20% no primeiro bimestre deste ano em relação a 2014. Isso por causa de um contraste próprio desse segmento. Ao mesmo tempo em que ele precisa da chuva para restabelecer os aquíferos subterrâneos, após uma seca de praticamente cinco anos, o excesso de água prejudicou a produção de janeiro. No primeiro mês do ano caíram 280 milímetros, quando a média é de 80.
 
“Para a fruta, tem que ter chuva no momento correto. E o momento correto seriam esses meses de março e abril, quando todos os produtores reduzem bastante a produção, para não correr riscos. Nos últimos quatro - estamos acabando o quinto período de chuva - foi abaixo da média. Então isso, por um lado, ajuda uma produção de melhor qualidade durante o ano inteiro, mas por outro deixa preocupação em saber como está esse aquífero, se ele é capaz de suportar mais uma safra”, alerta o empresário. 

Embora não tenham certeza de como se encontra os aquíferos Jandaíra e Açu, muitos produtores já saíram de Mossoró em busca da região de Apodi ou transferiram a produção até para Pernambuco. Quem tem mais recursos investe em poços de grande profundidade. 
 
Apesar dos temores, Luiz Barcelos leva em conta que a concentração de chuva de janeiro pode ter reabastecido bem os aquíferos. Para evitar desperdício, afirma, os produtores têm sempre buscado novas técnicas para usar a água racionalmente. Como exemplo, cita a irrigação por gotejamento.  “Também não dá para pensar muito em frutas perenes, aquelas que você tem o ano inteiro, que consome muito mais água do que o ciclo do melão, que é curto, de 60 dias. Tem que ter esse manejo adequado do recurso para não ter desperdício”, argumenta.
 
Dólar favorece produtores
 
Antônio Carlos Nazaré é representante comercial do Grupo Real, que pertence a empresários japoneses, com fazendas em Baraúnas, Apodi e Mossoró, compreendendo 1500 hectares. No ano passado o grupo exportou 847 contêiners, o que representa cerca de 21.170 toneladas. De acordo com ele, a produção vem crescendo ano a ano e deve manter os mesmos volumes neste ano. Entre novembro e dezembro do ano passado, os produtores tiveram perda de 15% do faturamento previsto por causa de um excesso de oferta no mercado exterior.  “Isso refletiu um pouco no preço, que teve uma pequena queda, mas a gente teve a compensação que foi a taxa de câmbio, que melhorou bastante”, reforça.
 
Para os produtores, o preço do dólar a R$ 3,50, que é a média deste ano, torna o produtor local mais atrativo para o mercado Europeu. 
 
“Sem dúvida nenhuma a desvalorização do real ajudou. Isso fez com o que o Dólar, o Euro e a Libra se valorizassem e nos ajudou muito, porque deu mais competitividade, estimulou a exportação e fez com que os produtores voltassem mais para o mercado da exportação”, reforça Luiz Barcelos.
 
Produtores esperam aumento de demanda no mercado europeu
 
Embora o número de empresas produtoras de frutas tenha caído nos últimos anos, as que ficaram aumentaram a produção  e assumiram o espaço deixado pela que saíram da região. O Coex, que abrange a região Oeste, já teve mais de 100 associados. Hoje são pouco mais de 20. A produção, por outro lado, se manteve, ou cresceu. “Na crise entre 2004 e 2006, também com o agravamento de pragas, muita gente perdeu a produção e fechou as portas, pequenos e médios produtores. O mesmo aconteceu na crise de 2008.
 
Com isso aqueles que já estavam, já tinham conhecimento, tecnologia melhor e persistiam mais, assumiram essa fatia”, diz Francisco Vieira, produtor da fazenda Brasil Melo, que exportou 25 mil toneladas de frutas no ano passado – basicamente melão e melancia.
 
Apesar dos bons resultados os produtores ainda esperam por um aumento de demanda na Europa, nos meses de janeiro, fevereiro e março. Nesse período geralmente a produção local diminui por causa das chuvas e a Europa se abastece principalmente dos países da América Central. “A América Central vem tendo problemas climáticos, de muita chuva e tem o mercado norte-americano mais perto dela, que acaba competindo muito pelo produto, então existe uma demanda da Europa para que a gente continue com um volume alto nesses meses. São meses em que geralmente a gente corre muito risco por causa da chuva, mas as tecnologias que a gente tem desenvolvido tem nos permitido arriscar um pouco mais e ter mais fruta”, diz Luiz Roberto Barcelos. 
 
Os empresários buscam abertura de novos mercados, como a China,   uma provável compradora, mas, para isso, são necessárias certificações. O estado já recebeu uma missão do país e os chineses devem voltar a Mossoró em setembro, quando ocorre a Expofruit – uma feira internacional que envolve todo esse mercado.
 
A feira, no seu 20º ano, vai ocorrer entre os dias 21 e 23 de setembro, no Expocenter, na Universidade Federal do Semiárido (Ufersa) e vai reunir toda a cadeia produtiva, incluindo fornecedores e compradores internacionais.

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