sexta-feira, 23 de maio de 2025

LIVRO "CAMPONESES E A ARTE DA AGRICULTURA", DE JAN DOUWE VAN DER PLOEG

 

Publicado originalmente em 2013, “Camponeses e a Arte da Agricultura” é uma obra fundamental do sociólogo rural holandês Jan Douwe van der Ploeg, cuja pesquisa tem sido central para os estudos contemporâneos sobre o campesinato, a agricultura familiar e os processos de resistência à lógica do agronegócio. O livro é uma análise densa, mas acessível, que combina teoria crítica, pesquisa empírica e uma defesa política e ética da agricultura camponesa.


Um novo olhar sobre o campesinato

Van der Ploeg parte de uma premissa central: ao contrário das narrativas dominantes que preveem o desaparecimento dos camponeses frente à modernização e à mecanização agrícola, os camponeses não só persistem como reinventam formas de produção que desafiam a lógica industrial do agronegócio. Longe de serem vestígios do passado, os camponeses são agentes ativos de inovação, que desenvolvem modos de vida e de produção baseados na autonomia, na diversidade produtiva e na relação íntima com o território.


Agricultura como arte

O conceito de "arte da agricultura" é uma das contribuições teóricas mais potentes do livro. Para o autor, a agricultura camponesa não pode ser reduzida a um conjunto de técnicas ou a uma atividade subordinada ao mercado. Ela é uma forma de arte porque exige sensibilidade, conhecimento acumulado, criatividade e uma relação contínua com a natureza e o entorno social. Essa arte se opõe à agricultura corporativa e padronizada, que busca maximizar lucros via externalização de custos e homogeneização dos processos.


Reapropriação e resistência

O livro também enfatiza a ideia de reapropriação: os camponeses, segundo van der Ploeg, se apropriam novamente de saberes, recursos naturais, redes sociais e práticas produtivas que haviam sido expropriadas ou marginalizadas pela modernização agrícola. Através dessa reapropriação, constroem alternativas viáveis, sustentáveis e politicamente relevantes à hegemonia do agronegócio.


Um projeto político

Mais do que um trabalho acadêmico, Camponeses e a Arte da Agricultura é também um livro com forte dimensão política. Van der Ploeg denuncia a concentração fundiária, a mercantilização da vida rural e o esvaziamento das políticas públicas voltadas para os pequenos produtores. Ao mesmo tempo, ele articula um horizonte político em que a agricultura camponesa seja reconhecida como parte de um projeto de desenvolvimento rural justo, ecológico e soberano.


Conclusão

Camponeses e a Arte da Agricultura é leitura obrigatória para quem deseja compreender as dinâmicas contemporâneas do mundo rural e as possibilidades de uma agricultura alternativa à lógica destrutiva do capital. Ao valorizar o conhecimento camponês e sua capacidade de inovação, Jan Douwe van der Ploeg oferece não só uma análise sociológica rigorosa, mas também um manifesto em defesa da dignidade e da centralidade dos camponeses na construção de um futuro sustentável. 

Referências

PLOEG, Jan Douwe Van Der. Camponeses e a arte da agricultura: um manifesto Chayanoviano. São Paulo: Editora Unesp, 2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário