1 Introdução
A trajetória econômica do Rio Grande do Norte (RN) no
século XX e início do XXI esteve profundamente marcada pela presença da
indústria petrolífera. A descoberta e exploração da Bacia Potiguar pela
Petrobras transformaram o RN em um dos principais produtores terrestres de
petróleo no Brasil, modificando sua estrutura produtiva, perfil urbano e
relações interinstitucionais.
O presente texto busca compreender essas transformações
por meio de uma leitura crítica da literatura especializada, destacando o papel
do Estado, das universidades e os efeitos fiscais da atividade petrolífera,
assim como os impactos do recente processo de desinvestimento da Petrobras no
território potiguar.
2 A emergência de um Estado-produtor:
transformações nos anos 1980
Rodrigues Neto (1994) aponta que a década de 1980 marcou
uma inflexão significativa na economia potiguar com a consolidação do estado
como produtor de petróleo. A atuação da Petrobras foi decisiva para o
crescimento regional, especialmente na região Oeste, dinamizando cidades como
Mossoró e Guamaré. A emergência do "estado-produtor" implicou uma
reconfiguração da economia regional, promovendo uma crescente dependência da
renda petrolífera, notadamente por meio dos royalties.
3 Universidade e indústria: cooperação em
pesquisa e desenvolvimento
A relação entre a Petrobras e a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) tornou-se estratégica para a consolidação de uma
infraestrutura de ciência e tecnologia no estado. Poletto (2011) destaca que a
criação de programas de pós-graduação e centros como o Instituto de Pesquisa em
Petróleo e Energia (INPE) promoveu externalidades positivas, sobretudo na
formação de capital humano qualificado. Essa relação evidencia que, além de
extrativa, a indústria petrolífera teve potencial para estimular setores de
maior valor agregado na economia local.
4
Reestruturação produtiva e a nova geografia econômica do RN
Segundo Azevedo (2013), o RN passou por um processo de
reestruturação produtiva nas últimas décadas, marcado pela reorganização do
espaço econômico. A indústria petrolífera teve papel central nesse processo,
promovendo a interiorização do desenvolvimento e alterando a lógica de
especialização regional. Contudo, a ausência de planejamento territorial
articulado comprometeu a sustentabilidade dessas transformações.
5
Petróleo e finanças públicas: o desempenho dos municípios produtores
Teodósio (2024) analisa o desempenho fiscal dos
municípios produtores de petróleo no RN, revelando que, embora os royalties
tenham elevado a receita corrente, essa melhoria nem sempre se traduziu em
aumento dos investimentos em infraestrutura ou melhoria da qualidade dos
serviços públicos. Observa-se, assim, a presença de um ciclo rentista que
limita a autonomia financeira e o planejamento de longo prazo dos entes
subnacionais.
6 O século XXI e o desinvestimento da
Petrobras
A saída progressiva da Petrobras do estado, intensificada
na década de 2010, representa uma ruptura estrutural na economia potiguar. Para
Fabrício e Locatel (2025), o desinvestimento trouxe impactos imediatos sobre
emprego, arrecadação e capacidade de inovação tecnológica, revelando a fragilidade
de um modelo fortemente ancorado em uma única empresa estatal. A transição para
operadoras independentes trouxe incertezas quanto à manutenção da cadeia
produtiva local e à sustentabilidade fiscal dos municípios.
7 Perspectivas e alternativas para o
desenvolvimento
Aquino e Nunes (2021) indicam que, apesar da crise do
setor petrolífero, o RN possui vantagens comparativas em outras áreas, como
energias renováveis (eólica e solar), fruticultura irrigada e turismo. No
entanto, a viabilidade dessas alternativas depende da articulação de políticas
públicas regionais e da valorização dos ativos locais de ciência e tecnologia.
8 Considerações finais
A trajetória do Rio Grande do Norte como estado produtor
de petróleo revelou tanto o potencial transformador quanto os riscos da
dependência da indústria extrativa. O desafio atual é construir alternativas de
desenvolvimento que aproveitem os recursos acumulados e as capacidades
instaladas, promovendo uma transição econômica mais resiliente e menos
dependente da volatilidade dos mercados internacionais de energia. Para isso, é
fundamental fortalecer os arranjos institucionais locais e promover uma
governança territorial integrada e estratégica.
Referências
AQUINO,
Joacir Rufino de; NUNES, Emanoel Márcio. Desempenho recente e perspectivas
da economia do Rio Grande do Norte no século XXI [em linha].
Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/.
Acesso em: 22 maio 2025.
AZEVEDO,
Francisco Fransualdo de. Reestruturação produtiva no Rio Grande do Norte. Mercator: Revista de Geografia da UFC, Fortaleza, v.
12, n. 2, p. 113–132, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufc.br/mercator.
Acesso em: 22 maio 2025.
FABRÍCIO,
André Rodrigues; LOCATEL, Celso Donizete. Novos caminhos, velhas práticas e o
presente: o desinvestimento da Petrobras no Rio Grande do Norte, uma primeira
aproximação do evento. Revista Contemporânea, v. 5, n. 3,
p. e7817, 2025. Disponível em: https://revistacontemporanea.com.br. Acesso
em: 22 maio 2025.
POLETTO,
Carlos Alberto. Gestão compartilhada de P&D em petróleo: a
interação entre a Petrobras e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
2011. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/.
Acesso em: 22 maio 2025.
RODRIGUES
NETO, João. O Estado-produtor de petróleo e as transformações
na economia do Rio Grande do Norte, nos anos 80. 1994. Tese
(Doutorado em Economia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1994.
TEODOSIO, Filipe Moises Santos. Petróleo e
finanças públicas: uma análise do desempenho fiscal dos municípios produtores
de petróleo no Rio Grande do Norte. 2024. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2024.
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