sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O deserto da política norte-riograndense


Faz alguns dias que não escrevo sobre a política do RN. Talvez tenha a ver com os meus interesses, pois meu olhar se destina para aquilo que considero relativamente substantivo. Assim, como só digito algumas palavras quando sinto que o assunto é, de fato, importante, passo, às vezes, pela ausência de discussão de projetos políticos, incólume.

ONGZAÇÃO 

Há um tema relevante, que é o da “ongzação” do Estado. Se tornou comum – até demais – ver nos jornais casos escabrosos de contratos entre, principalmente, a prefeitura do Natal e Organizações de Terceiro Setor. Esta semana uma “abriu o peito” para receber um milhão de reais do município sem apresentar, sequer, um plano de execução de trabalho e do orçamento. Porém, já escrevi tanto sobre isso, que, às vezes, bate aquele cansaço e um certo desânimo – até quando os recursos públicos serão canalizados para mãos privadas, através do uso da pilantropia e das terceirizações mui suspeitas?

SONHO X REALIDADE

Há também os sucessivos desmentidos da copa do mundo em Natal. Apresentado como o evento que iria mudar nosso cenário urbano – só não disseram realmente para quem -, a concretização do mesmo é a caracterização de uma mentira. Não custa lembrar mais uma vez que, quando o projeto foi apresentado para a cidade, o estádio seria totalmente bancado pela iniciativa privada, as obras de mobilidade viriam a fundo perdido e os natalenses iriam ficar ricos. Natal se transformaria, mais ou menos, numa Dubai. O escopo concreto versa sobre a compra estatal do estádio, derrubando dois equipamentos públicos, obras que virão na modalidade de empréstimo e o comércio natalense, durante o período, será destinado para encher os bolsos da FIFA.

JORNALISMO DE AGENDA

Há ainda a possibilidade de fazer o jornalismo de agenda com coisas do tipo: “cicrano reata namoro com celebridade”, ou, “beltrano torceu o pé em caminhada numa procissão”. Ora, tento fazer algo sério. Me posicionar. Não estabelecer um trabalho como mero fofoqueiro, pois não penso ser valido tiranizar a esfera pública com discussões privadas.

(FALTA DE) ABORDAGEM

Porém, infelizmente, algumas pessoas se alimentam desta (falta de) abordagem. Com o crescimento da Carta Potiguar, passei a receber por email e por telefonema inúmeras notícias sobre o que vem acontecendo no RN. No entanto, 90% é pura bobagem – estou sendo bondoso. Outro dia me liga um amigo para dizer que um deputado estadual estava traindo a mulher e estava com a prova do crime, pois viu e fotografou o parlamentar com “outra” comprando móveis domésticos em uma loja de magazine. Ao dizer para ele que eu não tinha interesse em publicar o “furo”, recebi a seguinte resposta: “É por isso que a Carta Potiguar não vai crescer. Como tu deixa de publicar uma bomba dessas”?! Uma interpelação desta tira o tesão.

(FALTA DE) DISPUTAS

Há a possibilidade de escrever sobre as disputas da base aliada. Porém, eu pergunto: qual a diferença de Henrique se juntar ou se separar de Agripino? Em contexto de puro mandonismo não há espaço para ideologia, para a reflexão sobre ações.

ÁGUA NA BOCA

E a vaga do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que espera a indicação da governadora? Cansativo, pois eu não sei quem saliva mais com a possibilidade de ocupar a cadeira: os postulantes, ou aqueles que dizem fazer a cobertura. Os jornalistas falam dela com água na boca.

PROJETO, CADÊ O PROJETO?

Em um cenário de esgarçamento da estrutura urbana da cidade, falta discussão. Em um Estado em que a governadora assume afirmando que a referida organização se encontra quebrada, era importante ter um projeto de arrumação. Porém, a mesma governadora que aumenta a necessidade de um planejamento estratégico não tem, sequer, um plano, metas, nada. Está se notabilizando como a Prefeita Micarla de Sousa, que toda semana diz ter conseguido algo novo para a cidade, mas não se vê nada de concreto.

Todo poder almeja poder. Porém, há políticos que formulam um projeto para a sociedade, para se perpetuarem no poder. Balela dizer que o PT tem a pretensão de ficar 20 anos no planalto. Não tem a pretensão de permanecer 20, mas o tempo que for possível, pois é da natureza de todo e qualquer partido.  A questão não é essa. A preocupação é de ver uma governadora esboçar um projeto apenas de ficar no poder, desconsiderando a possibilidade de melhorar a sociedade que ela lidera. Apenas projeto de poder. Nada de projeto político.

Já Micarla, talvez para o bem da cidade, não tem organização de nada. Surgiu, como diria Marx, citando Victor Hugo, como um raio em um dia de céu azul. Desaparecerá com a mesma velocidade que apareceu. Resultado de um puro devaneio dos natalenses, de um cansaço com a política que abre espaço para todo tipo de oportunismo.

Natal votou na regra. Não há projeto. Não há debate. A política do RN é um deserto. Resta torcer para que alguém verdadeiramente novo e com conteúdo, sem os truques da Tv e do marketing, sem messianismos e apresentando caminhos para a capital, que nada modestamente se chama “a cidade do sol”,  apareça.

Carta Potiguar

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