"Eu não tenho ligação com políticos ou pessoas ligadas ao governo passado", admitiu George Olímpio [preso na operação “sinal fechado”] fazendo referência ao ex-governador Iberê Ferreira de Souza em uma das entrevistas concedidas à TRIBUNA DO NORTE durante o processo de suspensão da inspeção veicular, entre janeiro e fevereiro passados.
As evidências, porém, provam o contrário. Numa consulta realizada no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, ontem à noite, George Olímpio atua como advogado de defesa do ex-governador [Iberê Ferreira de Souza] no processo 2008.903069-7 distribuído por sorteio no dia 18 de dezembro de 2008.
Ex-governador Iberê Ferreira de Souza é defendido por George Olímpio
Além de George Olímpio, Caio Biagio Zuliani, aparece como o advogado de defesa do ex-governador Iberê Ferreira de Souza em mais seis processos diferentes. Caio Biagio também foi preso de forma temporária na Operação Sinal Fechado, deflagrada pelo Ministério Público quinta-feira passada. Ele é um dos sócios minoritários da GO Desenvolvimento de Negócios com participação societária de 1% e capital investido de R$ 15.750,00.
De acordo com petição do Ministério Público, Biagio participou das fraudes praticadas pela organização de George Olímpio relacionadas ao Consórcio Inspar.
O Ministério Público Estadual aponta Iberê Ferreira de Souza como "possível eminência parda por trás de George Olímpio". De acordo com a petição que embasou a Operação Sinal Fechado, há provas de que Iberê havia recebido pelo menos R$ 1 milhão do esquema fraudulento, além de ter sido agraciado com cotas de participação nos futuros lucros do Consórcio Inspar.
As acusações contra o ex-governador pelo Ministério Público continuam com a afirmação de que ele teria contribuído para a contratação do Consórcio e para a assinatura do contrato fraudulento com a Planet Business Ltda.
Ainda de acordo com a petição, o ex-governador "presidiu a reunião do Conselho Deliberativo do Estado (CDE) que aprovou a minuta de contrato da Planet Business Ltda sem que sequer existisse o órgão para o qual esta empresa prestaria serviço. Enfim, foi quem assinou o contrato da terceirização de serviço do CRC/Detran/RN e o termo de concessão do serviço de inspeção veicular ambiental".
Os promotores definem o modus operandi do processo fraudulento como peculiar e com provas e fortes indícios de uma parceria exitosa entre George Olímpio e os demais citados na petição, sobretudo com membros do mais alto escalão do Governo Estadual à época: Wilma de Faria e Iberê Ferreira.
No início do segundo semestre do ano passado, no lançamento da campanha de reeleição do então ex-governador Iberê Ferreira de Souza, o advogado e empresário George Olímpio dividiu o mesmo palanque com Iberê e a candidata ao senado, Wilma de Faria. Na ocasião, ele ficou ao lado de um dos filhos de Iberê no evento que ficou conhecido como "Iberetion", realizado na Vila Folia, em Parnamirim.
Na nota oficial encaminhada pelo ex-governador à imprensa, Iberê Ferreira de Souza não faz nenhuma menção ao advogado George Olímpio. A assessoria de imprensa de Iberê afirmou que ele jamais havia negado conhecer Olímpio e confirmou que ele era advogado do ex-governador. À época do processo de suspensão da inspeção veicular, entre janeiro e fevereiro, Iberê preferia não comentar qual relação mantinha com George Olímpio.
Fraudes só foram possíveis por rede de influência política
A investigação de noves meses do Ministério Público Estadual (MPE) conseguiu reunir documentos que podem comprovar a ação corruptiva de empresários e agentes políticos no trato com a coisa pública no Rio Grande do Norte.
Os e-mails e telefonemas interceptados pelos promotores, com autorização da Justiça, arrolados na petição apresentada pelo MPE, escancaram como a suposta quadrilha tinham penetração no Governo do Estado e faziam parte da engrenagem de uma máquina que geraram R$ 10 milhões de faturamento em apenas oito meses.
Para colocar a máquina em funcionamento, era necessário influência e bom relacionamento com as pessoas certas. A amizade com algumas pessoas, inclusive, era citada como um diferencial no currículo dos lobistas. Na interceptação de uma telefonema entre Alcides Fernandes Barbosa e Marco Aurélio Doninelli, no dia 13 de maio desse ano, às 01h22, segue o seguinte diálogo começado por Alcides: "Para achar um cara com o nível de e relacionamento que eu tenho é difícil, é difícil".
Um levantamento feito pela TRIBUNA DO NORTE mostra que boa parte dos envolvidos no esquema já tinham algum envolvimento com o Poder Público ou respondem a processos judiciais. Alguns chegaram a ocupar cargos comissionados em instituições como Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte (TRE/RN). É o caso de Marcus Vinícius Saldanha Procópio, genro de João Faustino. Outros, como Marcus Vinícius Furtado da Cunha, já foram condenados por improbidade administrativo.
- Carlos Theodorico de Carvalho Bezerra
Ex-diretor Geral do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RN) é também conhecido como Kaká Bezerra e tem forte influência política no município de Tangará. O irmão dele, Jorginho Bezerra, é o atual prefeito da cidade. Theodorico é vice-diretor administrativo do América Futebol Clube. Segundo o MPE, há provas de que ele contribuiu decisivamente para as fraudes da organização liderada por George Olímpio, uma vez que, como Diretor-Geral do Detran/RN, foi o agente público que celebrou o convênio com o IRTDPJ/RN.
- Marcus Vinícius Furtado da Cunha
Genro de João Faustino, ocupava o cargo de coordenador de Material e Patrimônio do TRE/RN. Era responsável por coordenar, orientar e controlar as atividades de aquisição, guarda, conservação e distribuição do material, e de registro e controle dos bens patrimoniais do Tribunal. Tomou posse no cargo comissionado no dia 6 de setembro passado. Foi exonerado ontem, após ser preso. Para o MPE, Marcus Furtado é um lobista que foi contratado por George Olímpio e recebia R$ 5 mil mensais para colaborar com as fraudes.
- Edson Cézar Cavalcante Silva (Mou)
Segundo o MPE, há provas de que ele teria pago, antecipadamente, R$ 2 milhões para George Olímpio, como aquisição de cotas do negócio, para pagamento de propina a agentes públicos, de modo a obterem garantias de vitória na licitação da inspeção veicular ambiental no RN. Atualmente, responde a cinco 5 processos no TJRN, a maioria deles, corre na 3ª Vara de Execução Fiscal Municipal e Tributária.
- José Gilmar de Carvalho Lopes (Gilmar da Montana)
Para o MPE, há provas de que o empresário teria anuído ao pagamento de propina por parte de George Olímpio a agentes públicos, bem como ao oferecimento de promessa de vantagem indevida a agentes públicos, para manter a sua participação no negócio. No TJRN, há 30 processos nos quais Gilmar da Montana é réu. Boa parte refere-se a execuções na 2ª Vara de Execução Fiscal Municipal e Tributária, mas há casos em Parnamirim e Macaíba.
- Marcus Vinícius Furtado da Cunha
Foi pregoeiro e Procurador Geral do Detran/RN. Em agosto passado, foi condenado pela prática de improbidade administrativa. Como penalidade, teve os direitos políticos suspensos pelo prazo de três anos; está proibido de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos; deve pagar multa civil, de caráter pedagógico-punitivo, em favor da municipalidade de Currais Novos em valor equivalente a R$ 3.412,50.
Tribuna do Norte
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