terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Brasil cresce. E amadurece?



Há cerca de três anos, Larry Rohter, então correspondente do New York Times no Brasil, escreveu um livro com o título "Deu no New York Times". Era uma coleção dos principais assuntos de que havia tratado em seu período como correspondente, mas o título era também uma brincadeira com a mania dos brasileiros de se impressionar muito mais com o que se publica no exterior a respeito do país - especialmente se escrito em inglês - do que com o que sai em português na mídia local.

Ex-colônias provavelmente têm, todas, essa característica de um certa genuflexão diante da metrópole, mesmo de metrópoles, caso dos Estados Unidos, que não foram a colonizadora original, embora, nos tempos contemporâneos, imponham um evidente colonialismo cultural.

Por isso mesmo, quando um jornal em inglês, no caso o Guardian, recolheu avaliação de um centro britânico de estudos segundo o qual o Brasil ultrapassara o Reino Unido e se tornara a sexta economia do planeta, me preparei mentalmente para ver um festival de ufanismo, para ver o país enrolar-se na bandeira e festejar o progresso.

Felizmente, me enganei. Foi notícia, claro, como não poderia deixar de ser. Até El País, que não tem sede nem no país ultrapassado nem no país promovido, deu a informação, discretamente mas deu.
 
A principal fonte de informação dos brasileiros - o Jornal Nacional, o telejornal das 20h30 da Rede Globo - também reproduziu a notícia, mas cuidou de deixar bem claro que um país com uma população enorme como o Brasil (quase 200 milhões) não é mais rico que um país com população bem menor, como o Reino Unido, só porque a soma dos bens e serviços por ele produzido é maior.

Dividido pela população, o PIB inglês é mais ou menos o triplo do brasileiro, cuidou também de ressaltar Gustavo Patu, na Folha de S. Paulo, ele que é um dos mais lúcidos analistas das contas brasileiras. Mas Patu não desprezou o sexto lugar. Escreveu: "Não é irrelevante, portanto, a projeção de que o PIB brasileiro deverá superar neste ano o do Reino Unido e proporcionar ao país o status de sexta maior economia mundial".

E explicou: "Embora facilitada pela crise europeia, a ascensão do país não é fortuita. Assim como os outros gigantes emergentes, caso de China, Índia e Rússia, o Brasil escalou a hierarquia da geopolítica internacional quando voltou a exibir um processo mais consistente de crescimento".

Da mesma forma, Vinicius Torres Freire, um dos mais competentes colunistas econômicos do jornalismo brasileiro, lembrou que o PIB per capita do Brasil "ainda anda lá pelo 70.o lugar. Sabemos que somos mais pobrinhos que os britânicos".

Sabemos também que, em matéria de desenvolvimento humano, o Brasil ocupa um vergonhoso 84.o lugar, posto ainda mais vergonhoso quando se torna a sexta economia do planeta.
 
O único ufanismo partiu do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para quem, em 20 anos, o Brasil atingirá o padrão europeu de hoje.

"Otimismo exagerado", rebateu Patu, para acrescentar: "No ritmo atual, só depois de 2040 a renda per capita brasileira atingirá o padrão britânico de hoje -para não falar da qualidade da educação, da saúde, das instituições".

Tudo somado, tem-se que o Brasil não apenas está crescendo de forma mais consistente como está amadurecendo o suficiente para não entrar nem em depressão nem em euforia quando alguma coisa sobre ele, negativa ou positiva, aparece em inglês - ou qualquer outro idioma.

Se essas duas características realmente se mantiverem, esse menino chamado Brasil ainda irá longe.

Por:

Nenhum comentário:

Postar um comentário