domingo, 29 de janeiro de 2012

Poupança? Para quê?


Por Carlos Magno Lopes
É a parcimônia, e não o trabalho, que é a causa imediata do aumento de capital. Mas é o trabalho que fornece aquilo que a parcimônia acumula. No entanto, por mais que o trabalho fornecesse capital, se a parcimônia não o poupasse e acumulasse, ele nunca cresceria.
Adam Smith (1776), A Riqueza das Nações, Capítulo 3, Volume II

Não! No país de Paulo Coelho, Adam Smith jamais será um best-seller. Pelo menos é o que sugere pesquisa do Credit Suisse, realizada em sete países emergentes, segundo a qual os brasileiros poupam apenas 10% dos rendimentos, só superando o Egito (7%). Em contraste, na China 31% da renda pessoal é poupada.

No Brasil, o expressivo aumento da renda e do emprego observado nos anos recentes levava a supor que o consumo também cresceria como, de fato, ocorreu. Fenômeno semelhante ocorreu na China. Contudo, a reação dos brasileiros frente ao aumento da renda é distinta e baseia-se na crença de que “é preciso gastar como se não houvesse amanhã”. É possível que esse tipo de comportamento tenha como fundamento o “pensamento positivo”, apregoado nos livros de autoajuda do mago Paulo Coelho. Este princípio funcionaria mais ou menos assim: “Se tenho dinheiro para gastar hoje, terei amanhã”. É, pode ser e, no Brasil, será. Com efeito, a mesma pesquisa do Credit Suisse revela que cerca de 20% das famílias pretendem comprar uma casa nos próximos dois anos e até 34% (dependendo da renda) planeja adquirir um carro.

Como se sabe, casa e carro são sonhos de consumo desde os tempos bíblicos. Nada há de novidade, portanto. O que não se imaginava era que os brasileiros também gostam tanto de andar na moda, pois 62% dos que têm renda mensal de até 1.000 dólares planejam comprar tênis e roupas de grife. Que chique!

Outra pesquisa, desta vez da Data Popular, dimensiona o mercado de roupas no Brasil, que movimentou R$ 72,9 bilhões em 2011 (ver tabela abaixo). O Nordeste só é superado pelo Sudeste, mas possui o menor gasto per capita. O fato é que os brasileiros também gostam de andar na moda e, o dinheiro, graças ao “pensamento positivo”, não falta. Só tem um problema: sem poupança, vai ser difícil investir. Investir? Para quê?

Datamétrica

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