terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nordeste avança na convergência salarial


A convergência da renda regional é um dos pontos cruciais no desenvolvimento das economias periféricas. Este ponto é mais visível principalmente nas grandes economias periféricas em desenvolvimento, os chamados BRICS, cuja expansão se deve em geral a políticas centradas em aproveitar vantagens comparativas que são usualmente concentradas em termos geográficos. O Brasil não é exceção, muito pelo contrário, apresentando um cenário onde a Região outrora mais rica (o Nordeste) se tornou ao longo do processo de desenvolvimento nacional a que concentra os principais bolsões de pobreza.

Ao longo dos últimos séculos a inversão de posição entre o Nordeste e o Sudeste tornou esta primeira uma Região periférica dentro do contexto nacional, e já faz décadas que se utilizam políticas públicas no sentido de recuperar uma trajetória de convergência da renda ou, ao menos, dos salários. Visto que o Nordeste vem se mostrando ao longo dos últimos anos um bastião do crescimento nacional, cabe considerar se a convergência ao menos dos salários médios é uma realidade alcançável ainda na vida dos atuais trabalhadores (a da renda, se alcançável, é coisa para gerações).

Utilizando os dados mais recentes na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, temos que alguns elementos estilizados quando a remuneração do trabalho no Brasil são apoiados pelos dados e, também, que há sinais de convergência. O primeiro quadro a seguir sugere que nas principais áreas metropolitanas o salário médio real atualmente convergiu para três patamares: um mais alto para Rio de Janeiro e São Paulo, um segundo intermediário para as demais áreas menos Recife, que se isola sem apresentar tendência de crescimento nos últimos anos. Em média, a distância entre todas as áreas e São Paulo diminuiu consideravelmente ao longo dos últimos 10 anos.




Um segundo ponto importante que já pode ser claramente visualizado na série é que o número de horas de trabalho vem claramente diminuindo, embora estranhamente de forma mais acelerada nas regiões de renda mais baixa (Recife e Salvador). Permanece verdade que Paulistas e Cariocas apresentam mais horas de trabalho que os Nordestinos, mas o quadro seguinte mostra aquilo que é mais importante: a diferença na remuneração por hora vem diminuindo acentuadamente.




A convergência do salário por hora é claramente mais forte que a observada para o salário total, embora ainda pode se arguir que também há três grupos e que Recife fica para trás. O mais importante desta série é o comportamento das demais áreas em relação a São Paulo que, apesar de apresentar crescimento no salário real por hora, vem sendo alcançado pelas demais áreas.



Não há elementos na PME que permitam avaliar os motivos pelos quais se observa convergência, nem por quer Recife vem ficando para trás quando se esperava o contrário dada a velocidade com que a taxa de desemprego caiu na Região. Talvez a redução no desemprego tenha se dado em funções que na média tem menor remuneração, derrubando assim a estatística geral. Isto é um tema para um outro estudo.

Fernando Dias

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