segunda-feira, 30 de abril de 2012

Juros baixos e seleção adversa

Por Carlos Magno Lopes

A recente decisão de dois dos principais bancos oficiais, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, em reduzirem os juros, atendendo orientação do governo federal, foi acompanhada por uma euforia incontida por grande parte dos consumidores e governo, justificada pelo fato de que vários bancos privados também resolveram rever para baixo suas políticas de juros. A ideia de promover a competição bancária, a meu ver, é sem dúvida, positiva. Afinal, o que revigora permanentemente o capitalismo é exatamente sua natureza concorrencial. O mecanismo utilizado pelo governo, contudo, pode expor o sistema bancário brasileiro a riscos desnecessários, que podem custar muito caro.


Os efeitos iniciais da redução dos juros, a princípio, não permite antever com clareza sobre as repercussões que trará sobre o consumo das famílias. O caminho seguido pelos bancos privados indica que nem todos os postulantes ao financiamento para consumo serão elegíveis a linhas de crédito mais baratas. Em outras palavras, apenas seus clientes considerados preferenciais terão acesso ao crédito mais barato. Os demais clientes dos bancos comerciais farão parte de um ranking e, de acordo com a posição que ocuparem, a taxa de juros será determinada, porém em níveis superiores às dos clientes de primeira linha, o que de certa forma já acontecia antes das mudanças recentes. Acontece que apenas um grupo seleto de clientes, os preferenciais, terá o benefício pleno e, esses, representam um grupo minoritário, parte do qual não precisa de crédito para financiar o consumo. É importante destacar que financeiras que atuam no segmento do crédito popular, ao contrário de bancos comerciais, parecem refratárias às novas práticas do mercado bancário.


O fato é que com juros menores, serão muitos os tomadores desejosos de refinanciar suas dívidas e quando contrariados por seus bancos não hesitarão em mudar para um banco que aceite comprar e financiar suas dívidas. É razoável conjecturar que os bancos oficiais serão os preferidos por esse grupo de consumidores, porquanto foram os que mais cederam na redução dos juros. Por outro lado, sabedores que é política de governo estimular o financiamento do consumo das famílias, é de se prever que muitos tomadores marcharão unidos à procura de alguém que os patrocinem, quero dizer, financiem.


Em condições favorecidas, como as atuais, sobretudo nos bancos oficiais, mesmo para quem não tem o poder de previsão de uma cartomante não é preciso muito esforço para conjecturar que os maus pagadores serão aqueles que mais intensamente (o que aumenta a probabilidade de sucesso desse grupo) irão procurar por financiamento, mesmo sabedores de sua baixa capacidade e/ou disposição para pagar suas dívidas,. Esse fenômeno é conhecido como seleção adversa, que poderá ter o racionamento de crédito como resposta dos emprestadores, dos qual só escaparão os clientes VIPS. Na realidade, para que a concorrência funcione no capitalismo, o governo precisa, antes, tirar o bode da sala, para que todos possam se divertir.

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