quarta-feira, 30 de maio de 2012

No meio do nada

Por Fernando Dias


À medida que os dados do Censo Demográfico 2010 vão sendo liberados fica cada vez mais evidente que a Região Nordeste vem passando por transformações impulsionadas tanto pelos programas sociais quanto pela maturação de projetos de desenvolvimento, sejam eles recentes ou já decanos. Um dos pontos marcantes é uma espécie de desenvolvimento concentrado nas fronteiras, onde o secular padrão de crescimento litorâneo se expandiu para as demais fronteiras Nordestinas.


As primeiras evidências de que o crescimento nordestino vem se tornando fronteiriço vem dos dados do PIB per capita, cuja última versão disponível no IBGE é para 2009 e revela que, grosso modo, os 10% dos municípios de PIB per capita mais altos estão concentrados nas fronteiras e os 10% de renda mais baixa no interior.


Figura 1 – Municípios Nordestinos no 1º e 10º decil do PIB Per Capita


Em linhas gerais o que se observa é o tradicional complexo litorâneo acrescido das novas áreas de desenvolvimento tais como os complexos da soja e da fruticultura irrigada. Por outro lado, as ações tomadas para mitigar o problema das áreas mais sujeitas à seca ainda não podem ser ditas exitosas e, cabe lembrar, estas ações já são seculares. O PIB per capita, contudo, pode ser afetado nos municípios pela presença de grandes empreendimentos e/ou controle externo deste. Para um quadro mais acurado é preciso à distribuição da renda pessoal nos domicílios e esta só é disponibilizada através dos levantamentos censitários.


Figura 2 – Municípios Nordestinos no 1º e 10º decil da Renda Pessoal


Com efeito, os dados oriundos do Censo Demográfico 2010, do IBGE, apresentam um quadro similar ao indicado pelo PIB per capita, ainda que com uma dispersão regional um pouco maior em termos de fronteira e interior. Via de regra o que se observa é que o padrão litoral rico / interior pobre vem sendo substituído pelo de regiões integradas ricas e desintegradas pobres. Na prática, o interior vem se tornando relativamente mais pobre no contexto regional.


Em termos de diferença entre os grupos (decis) temos que a renda per capita do município mais rico no grupo dos 10% mais pobres representa 57% mesma renda para o município mais pobre entre os 10% mais ricos. Da mesma forma, o PIB per capita do município melhor posicionado no grupo dos 10% mais pobres corresponde a apenas 43% do pior posicionado entre os 10% mais ricos. Trata-se de uma diferença ainda muito elevada, e sugere que uma vez superado a questão de desigualdades regionais no Brasil o próximo item de agenda serão as desigualdades intra-regionais.

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