Juliska Azevedo // Edilson Braga - Diário de Natal
"Mas só foi acender a luz amarela do segundo turno - não se acendeu nem a vermelha ainda - para que Carlos Eduardo passasse a ter um comportamento que revela um certo nervosismo, descontrole emocional". É a avaliação que o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, faz das últimas declarações do ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT), quando acusou o ministro de patrocinar baixarias na campanha, como estimular a declaração da prefeita Micarla de Sousa (PV) de que votaria no pedetista no dia 7 de outubro.
Segundo o ministro, "uma coisa era Carlos Eduardo antes desses sinais começarem a aparecer. Outra coisa é ele depois. Só posso atribuir a isso. Ele pensava, por certo, que a campanha seria mais fácil". Na entrevista que concedeu a O Poti/Diário de Natal em seu apartamento de Lagoa Nova, na manhã da última sexta-feira, Garibaldi disse que hoje se sente mais realizado como ministro do que como senador; analisou a administração da prefeita Micarla de Sousa - "Micarla hoje é a Geni de Chico Buarque", disse.
Garibaldi acha que "vai ser difícil Micarla reconstruir a carreira política", mas que ela não será banida da vida pública. O ministro também revelou que não gostou nada de ter sido chamado de velho pelo primo candidato. Indagado se pintaria os cabelos para se mostrar mais jovem, abriu um sorriso e disse que, "pintar o cabelo, se eu fosse pintar, eu já estaria pintando. Os meus estão precisando. Mas, é melhor assim, grisalho. É melhor procurar viver a velhice da melhor maneira possível".
![]() Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
O seu primo Carlos Eduardo disse que, depois de velho, o senhor ficou radical. Para o senhor, o que é a velhice?
Você tem que diferenciar o ministro da pessoa. A questão está distorcida, sem foco. Tenho preocupação de oferecer, como ministro, as melhores condições para os idosos. Por outro lado, é um sistema generoso. Os ativos financiam as aposentadorias. O ideal é termos quatro na atividade para um na inatividade. Agora, isso é a previdência para os idosos. Como cidadão, digo que a gente aceita a velhice. Não me incomodo muito com ela. É hipocrisia, mas é um momento de resignação você dizer que está na melhor idade. A velhice mesmo - daí porque eu fiquei contrariado com Carlos Eduardo - você só aceita porque é inevitável. Não é uma escolha. Agora, há quem diga até que só gostaria de envelhecer até o momento que tivesse dignidade, qualidade de vida. Na verdade, enquanto puder adiar a velhice, você adia. Mas ela é inevitável.
Pintar o cabelo seria uma das alternativas para fugir da velhice?
Pintar o cabelo, se eu fosse pintar, eu já estaria pintando. Os meus estão precisando. Mas, é melhor assim, grisalho. É melhor procurar viver a velhice da melhor maneira possível. Agora, eu ofereço um prêmio a quem achar que a pessoa fica satisfeita quando se encontra com outra que diz que você está ficando velho. Carlos Eduardo que me perdoe, mas o que mais me contrariou foi isso. Não foi nem o resto do que ele disse.
Carlos Eduardo pela primeira vez o criticou. Disse que o senhor está sendo conivente com a baixaria. Como o senhor recebe essa crítica?
Não está acontecendo baixaria. A campanha é orientada. O marqueteiro tem um grande papel na campanha. Mas o marqueteiro não substitui o candidato nem o conselho político que todo candidato tem. O que está havendo com Carlos Eduardo é que eu acho que ele esperava uma travessia mais tranqüila, ganhando a eleição no primeiro turno, que ele pode até ganhar. Não tenho números pra dizer que a eleição vai para o segundo turno. Mas, só foi acender aluz amarela do segundo turno - não se acendeu nem a vermelha ainda - para que Carlos Eduardo passasse a ter um comportamento que revela um certo nervosismo, descontrole emocional. Uma coisa era Carlos Eduardo antes desses sinais começarem a aparecer, outra coisa é ele depois. Só posso atribuir a isso. Ele pensava, por certo, que a campanha seria mais fácil.
O senhor vê chances reais de haver um segundo turno entre Hermano Morais e Carlos Eduardo?
Pelas últimas pesquisas, sim. O que os expert dizem é que existe uma tendência. Hermano começou a subir. Espero também que os outros candidatos possam dar sua contribuição. Ele (Carlos Eduardo) começou a descer. Mas ele tem uma gordura muito grande. Mas, quem sabe. Hoje existe aquela lipoaspiração e redução. Um candidato também pode passar por isso.
A que o senhor atribui esse crescimento de Hermano Morais? Isso se deve a ele, ou aos apoios do senhor e do restante do PMDB?
As duas coisas. O PMDB é o partido mais bem avaliado em Natal. Todas as pesquisas dizem isso. A televisão é a grande arma da campanha. Você vê claramente isso. A campanha de rua não tem aquela intensidade, aquele volume. Hermano era muito desconhecido, pelo fato de ainda não ter passado por uma função executiva. Passaram a descobrir nele as qualidades de um bom prefeito. A televisão deu a dimensão que não existia na campanha.
Quais as qualidades que o senhor aponta em Hermano Morais?
É um candidato Ficha Limpa. Vejo ele com um grande potencial para administrar a cidade, pela sua seriedade. Foi três vezes vereador, foi deputado estadual. Já começou bem pelo legislativo. Se Carlos Eduardo continuar assim, com esse comportamento, tirando a campanha de foco... Ele me escolheu como alvo como se eu fosse candidato. Mas, pelo contrário. Eu não sou candidato. Em matéria de candidatura, a mais remota é a minha, porque se eu for renovar meu mandato de senador, só vou renová-lo numa eleição em 2018. Realmente, a campanha, se ele encaminhar para isso, vai perder tempo e perder votos.
Quais as qualidades que o senhor vê em Carlos Eduardo?
Ele também tem suas qualidades. Ninguém vai negar. Ele tem uma que eu invejo. Ele é muito moço. Não é velho. Na mocidade, se cobra o que ele não está tendo, às vezes, uma certa serenidade. Agora, ele tem qualidades. É um homem honesto. É bem intencionado. Mas, creio que, nesta situação em que Natal se encontra, eu diria que o melhor candidato para Natal é Hermano.
O PMDB pretende chegar junto, caso Hermano seja eleito?
A responsabilidade não será só de Hermano. Será nossa também. Estamos nos envolvendo na campanha, oferecendo aval a Hermano, que a população vai cobrar não somente dele, mas também de mim e de Henrique. Principalmente de mim, que estou aparecendo mais na televisão. Também da direção do PMDB, dos vereadores que forem eleitos, que terão o papel de apoiar uma administração que terá desafios enormes.
Quais as alternativas que o senhor aponta para tirar Natal desta situação em que se encontra?
Isso aí é elementar. É a mesma coisa que eu dizia quando fui candidato a prefeito. Administrar uma prefeitura é como ser uma dona de casa. Você tem que primeiro pensar no aspecto da cidade. O prefeito tem que acabar com essa sujeira, que é calamitosa. Eu estou percorrendo as ruas com Hermano e vendo que a limpeza pública se tornou um fato grave. É preciso também tapar os buracos. São coisas elementares, para depois pensar nos grandes desafios para Natal, que é uma cidade turística, que passou a ser o carro-chefe da economia do estado. É preciso inserir Natal no processo de desenvolvimento do estado. Mas prefeito nenhum vai deixar de fazer o elementar, que é isso que eu disse.
Carlos Eduardo acusa a coligação de Hermano de ter articulado a declaração de voto de Micarla.
Como se a gente pudesse usar Micarla, mas ela não se deixa usar. Está aí posto que ela terminou muito isolada, até mesmo com relação aos apoios de sua campanha. Se ela se deixasse usar, já tínhamos aconselhado ela muito antes - eu, pelo menos. Acho que isso é um absurdo muito grande, querer agora dizer que ela está sendo manipulada por nós. Há entre eles dois, Micarla e Carlos Eduardo, uma situação de muita aversão um pelo outro, infelizmente. Por isso é que se estranham.
Foi ironia dela?
Eu não sei dizer. Que é de se estranhar, é. Talvez diante dos índices de rejeição dela, ela possa estar querendo transferir isso para ele. Eu não sei avaliar. O que sei é que não há possibilidade de haver essa manipulação. Estão acusando muito Micarla de tudo. Hoje, Micarla de Sousa virou a Geni de Chico Buarque. Estão jogando muitas pedras nela.
Isso é justo?
Eu diria que é de uma certa maneira até cruel. Mas a reprovação dela é um fato.
O senhor acredita que a política dela acabou?
Não. Carreira política nunca acaba. Eu lembro que atribuem a Cortez Pereira uma declaração. Aluízio Alves foi cassado pelo regime militar, por um motivo totalmente diferente. Aluízio era um verdadeiro espantalho para os planos da Arena. Havia duas Arenas. Cortez disse que Aluízio tinha sido liquidado politicamente. Isso é um exemplo. Vai ser difícil para ela reconstruir a carreira política dela, vai. Mas dizer que ela não será mais nada na vida política, eu não me arrisco a dizer isso.
O conceito da dona de casa não foi bem aplicado na gestão de Micarla? O que deu errado? Faltou apoio?
Não tenho problema de consciência em relação a isso. Sempre que ela veio a mim, fiz o que pude. Henrique também ajudou nas possibilidades dele. É o caso de fazer um exame mais abrangente. Não se pode culpar um ou outro. Isso é um mecanismo de transferência de culpa. A derrota é órfã. Você de repente se sente derrotado sozinho, daí começa essa transferência de culpa. Acho que ela deveria fazer uma autocrítica e observar que, de um lado está ela, e do outro a avaliação da população. É difícil para ela. Eu sei. É muito complicado se vê isso aí no final da gestão.
Como o senhor avalia a crítica de Carlos Eduardo, que mostra em sua propaganda os apoios de auxiliares de Micarla a Hermano? Prejudica?
É uma coisa fora de foco. Se Micarla fosse candidata, deveria haver uma preocupação com ela. Mas Micarla não é candidata. Você querer exacerbar ainda mais essa punição a Micarla gera manipulação. Isso aí é manipulação. Você querer atribuir [o apoio de Micarla a Hermano] por causa de dois ex-secretários. É como se fosse uma coisa contagiosa. Eu li num artigo que Micarla virou uma epidemia. Também não é assim. Isso é exagero.
O governo Rosalba recebe críticas e enfrenta também a desaprovação popular. Rosalba está indo no mesmo caminho que Micarla?
Rosalba não está no mesmo caminho. Tem apenas um ano e oito meses de governo. Encontrou uma situação muito difícil, mas tem tempo muito grande para se recuperar. Micarla também teve esse tempo. Apenas não me perguntaram isso quando ela estava nesse período. Se tivessem me perguntado, eu teria dito a mesma coisa. Eu acho que Rosalba apenas precisa atentar que o tempo é muito voraz e que o fato de ela, aqui e acolá, se referir ao passado, não sensibiliza mais a população. O desafio é muito grande. Mas eu acredito plenamente que esses números que estão aí dando conta da reprovação dela poderão ser revertidos. Espero que ela possa reverter com a maior rapidez, sobretudo na saúde. Eu fui para praça pública com ela. Acredito que dá para reverter. Mas é preciso deixar de olhar para atrás.
Ela requisita o apoio do PMDB?
Sim. Nós estamos sempre com ela presente nos ministérios. Mas é uma luta contra o tempo.
O senhor se incomoda com a atual situação da saúde do estado?
Essa situação já é de conhecimento do governo federal. Para isso, já existe uma operação em curso, no sentido de oferecer uma retaguarda ao Hospital Walfredo Gurgel, porque a unidade não agüenta isso que está aí. São dificuldades. Por exemplo, o Hospital Onofre Lopes foi cogitado em ajudar, cedendo 60 leitos para ajudar. Chega o Tribunal de Contas da União e proíbe a contratação de pessoal. São dificuldades que estão sendo postas. O balanço agora ainda não foi satisfatório. Mas há uma mobilização. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) está consciente. O RN talvez seja um dos estados onde essa situação é mais dramática. Vamos trabalhar para reverter isso.
É melhor ser ministro ou estar no Senado?
Há no Ministério da Previdência um desafio novo, e esse desafio me leva a pensar que estou melhor no ministério do que no Senado. Porque lá eu já fui presidente, por um ano e três meses, já fui presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, já presidi as outras comissões. Não que um novo mandato de senador não seja bom. É. Mas no ministério estou me sentindo mais realizado agora.
Qual foi a maior dificuldade que o senhor encontrou no ministério?
A maior foi realmente ter pela frente uma estrutura gigantesca. Hoje a previdência, através do INSS, paga 29 milhões de benefícios, e são contribuintes 60 milhões de brasileiros. A princípio se fica um pouco atemorizado diante do desafio. E tivemos um passado de fraudes. Hoje elas ainda acontecem mas há permanentemente operações da Polícia Federal com a previdência coibindo isso. O desafio é permanente. Um dos maiores é o déficit da previdência do servidor público. Que diante da previdência geral era também um motivo até de indignação, de estarrecimento, porque enquanto a previdência geral, para atender benefícios de 29 milhões gerava um déficit de R$ 36 bilhões, mas o que é mais motivo de estarrecimento, o déficit do servidor público, com 1,1 milhão de servidores aposentados, representava R$ 60 bilhões. Era realmente uma injustiça muito grande. Agora, a previdência do servidor público passou a ser complementar. O servidor público terá um teto agora, e só a partir desse teto, passará a contribuir para um Fundo de Previdência Complementar.
Quando o senhor foi convidado, disse que o ministério era "um abacaxi". É pior ou melhor do que esperava?
![]() Foto: FÁBIO CORTEZ/DN/D.A PRESS |
Não deixa de ser um abacaxi. Mas no que se refere a despesas, só as pensões pagas anualmente pela previdência representam R$ 60 bilhões, esse número é de despesa, não déficit. E isso porque contém uma distorção. Uns contribuem por décadas, outros são beneficiados após contribuir uma única vez. Não se muda essa situação do dia para a noite, só mudará através de emenda constitucional, projeto de lei. Mas acho que o congresso será sensível a isso.
Recentemente foram divulgados os salários dos servidores públicos. Agora o senhor fala em combater essas distorções. A
sociedade exige um momento novo no país?
Sim, há um momento novo. O país está sendo passado a limpo. São situações para as quais antes havia uma conivência. Em alguns momentos o país deixou de se indignar. Mas há também o desafio muito grande que é o da aposentadoria no Brasil. Aqui se tem dois tipos de aposentadoria: uma pelos anos de serviço prestado, outra pela idade. Não há uma idade mínima que existe no mundo inteiro. Isso contribui para que, pelo tempo de serviço, se você começa a contribuir aos 16 anos, se aposentará aos 51. A média dá 53, porque não há uma idade mínima. Aí por isso há o fator previdenciário. E ele é implacável quando você se aposenta precocemente, porque estabelece um cálculo que chega a representar 30% ou 40% da aposentadoria. Há uma mobilização do presidente da Câmara, Marco Maia, e dos líderes, para acabar com o fator previdenciário. Há uma negociação para que se venha a ter a extinção desse fator, porque ele deixou de cumprir sua finalidade. Já que vou ser penalizado prefiro me aposentar precocemente e voltar a trabalhar. A reforma da previdência no Brasil sempre tem sido adiada, porque não se tem a consciência de que isso tem sido inadiável e urgente. E vocês estão vendo, pelas contas da previdência, que é. Não há dúvidas de que é preciso passar por essa reforma.
A reforma da previdência poderá acontecer ainda no governo Dilma?
Não temos mais como cogitar isso a essa altura, de uma reforma integral ou mais abrangente, mas o governo se mostra decidido a ir além, a promover algumas reformas. Se isso começar a criar um clima de reforma mais abrangente pode ser que se chegue lá.
Como é a convivência com a presidente Dilma?
Ela não tem uma rotina de despachos que se possa pensar, por exemplo, que um ministro esteja sistematicamente com a presidente. Ela recorre aos ministros em função de determinadas situações, problemas que possam se apresentar, porque, não sei se isso está sendo assim por conta até da crise, pois desde o começo ela enfrenta essa crise internacional, e isso tem levado a que ela recorra mais à equipe econômica. No caso da previdência fui mais acionado no período de tramitação da reforma da previdência do servidor público e agora na cogitação de uma reforma na previdência geral.
Ela é tão rígida quanto se comenta?
Ela não perdoa que você não tenha a apresentação de todos os dados possíveis e imagináveis. Tem que se preocupar em ter na mão, ou para apresentá-la, porque ela vai cobrar. Ela observa o artigo, o parágrafo, o item de cada coisa. Ela é muito rigorosa. Como toda a pessoa rigorosa, ela exacerba um pouco nessa cobrança, e isso tem sido visto, às vezes, de uma maneira distorcida. Mas isso não se faz rotineiramente, mas em função de determinados desafios. Ainda bem, senão ninguém aguentaria (risos).
O governo dela descolou do de Lula, tem outra cara?
Não... É uma questão de estilo. Eu não fui do governo Lula, naquela época eu tinha outra missão. O estilo é inteiramente diferente. Lula dedicava mais tempo à política propriamente dita, tinha Dilma que cuidava mais da administração, que deixava ele mais à vontade com as questões políticas, as questões sindicais. Havia um diálogo mais frequente. O governo de Dilma é mais impenetrável, mais fechado. Mais o que interessa no momento é que ela tem uma aprovação que chega a superar os números de Lula. É um governo de continuidade. Agora, os estilos são completamente diferentes.


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