quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Livro aponta ascensão social no campo e propõe ações


Presidente do Ipea defende políticas para sustentar a expansão da classe média rural

Com rendas que crescem mais de 8% ao ano nos estratos médios e uma desigualdade que cai ainda mais do que no resto do país, o Brasil rural já deixou de ser predominantemente pobre e caminha para ter mais da metade de sua população na classe média a partir de 2014. É o que aponta Superação da pobreza e a nova classe média no campo, novo livro do presidente do Ipea, Marcelo Neri, com Luisa de Melo e Samanta Monte. Elaborada ainda no Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), a obra resulta de uma parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e foi lançada em Brasília nesta quarta-feira (28/11)


De 1992 a 2011, a pobreza caiu de 62,8% para 29,1% na área rural do Brasil. A queda ocorre em todos os anos desde 1999 e é mais acelerada a partir de 2003. Nesse período mais recente, de 2003 a 2009, 3,7 milhões de brasileiros ingressaram na classe média rural, que passou a ter 9,1 milhões de pessoas. Com isso, a classe média do campo aumentou de 20,6% em 2003 para 35,4% em 2009 e, se for mantido o ritmo de queda na desigualdade, deverá alcançar metade da população rural em 2014, mesma proporção já observada em 2009 no total do país.

O “meio do campo” foi o que mais cresceu. A renda per capita rural subiu, em termos reais, 6,1% ao ano de 2003 a 2009, enquanto a renda média nacional cresceu 4,72% ao ano no mesmo período. Nos três quintos centrais da distribuição de renda no campo, o crescimento no período foi ainda maior, a “taxas asiáticas” de mais de 8% ao ano.

A renda do trabalho tem crescido no campo, mas não tanto quanto a renda de transferências, como aposentadoria rural, Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada. Assim, a participação do trabalho na renda se tornou menos importante na área rural (66,5%) do que no resto do país (76%) – ambas eram 81% em 1992.

O trabalho no campo diminuiu em quantidade, mas aumentou em qualidade. De 2003 a 2009, o número de trabalhadores no campo caiu de 20,1 milhões para 19 milhões, ou de 77,4% para 74,2% da população rural. Não aumentou o desemprego, mas diminuiu a oferta de mão de obra no campo, agora menos distante da observada em áreas urbanas. Quanto à qualidade, foi no campo que a renda do trabalho mais cresceu e a jornada de trabalho mais diminuiu. A produtividade aumentou e o trabalho ficou menos precário ou degradante, com maior grau de sindicalização e maior incidência de empreendimentos fora do próprio domicílio.

A migração rural-urbana foi interrompida na década de 2000 a 2010, que começou e terminou com os mesmos 15% da população brasileira residindo no campo. Esse percentual se estabilizou depois de sucessivas quedas observadas desde 1950, quando 70% da população brasileira moravam no campo. As estatísticas de Contas Nacionais podem não ser suficientes para explicar o fenômeno, mas, de 2003 a 2009, a renda domiciliar per capita reportada pelas famílias rurais cresce 36 pontos percentuais a mais do que o PIB agropecuário per capita.

Para garantir continuidade à ascensão social no campo, o livro propõe iniciativas que aumentem o protagonismo da população rural na superação da pobreza e na expansão sustentável da nova classe média. Políticas de microsseguros, micropoupança e microcrédito produtivo, investimentos em eletrificação, transportes e segurança no campo e a extensão da Prova Brasil a escolas rurais com menos de 30 alunos são algumas das ações sugeridas.

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