quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Revolução Industrial dos séculos XIX e XX

Capítulo 23: A Revolução Industrial dos séculos XIX e XX

DURANTE o período que foi de 1400 até aproximadamente 1700 a civilização moderna atravessou a sua primeira revolução econômica.    Foi   ela  a   Revolução   Comercial,   que   extirpou   a   economia semi-estática da Idade Média e a substituiu por um capitalismo   dinâmico   dominado   por   comerciantes,   banqueiros  e  armadores  de  navios.    Mas  a Revolução Comercial não foi mais que o ponto de partida de rápidas e decisivas mudanças no campo econômico. Não tardou a seguir-se-lhe uma Revolução Industrial, que não só ampliou ainda mais a esfera dos grandes empreendimentos comerciais mas ainda se estendeu aos domínios da produção. Tanto quanto é possível reduzi-la a uma fórmula sintética, pode-se dizer que a Revolução Industrial compreendeu: 1) a mecanização da indústria e da agricultura; 2) a aplicação da força motriz à indústria; 3) o desenvolvimento do sistema fabril; 4) um sensacional aceleramento dos transportes e das comunicações; e 5) um considerável acréscimo do controle capitalista sobre quase todos os ramos de atividade econômica. Embora a Revolução Industrial já se houvesse iniciado em 1760, não adquiriu todo o seu ímpeto antes do século XIX. Muitos historiadores dividem o movimento em duas grandes fases, servindo o ano de 1860 como marco divisório aproximado entre ambas. O período de 1860 até os nossos dias é por vezes denominado Segunda Revolução Industrial.


1.   O    COMPLEXO   DE   CAUSAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial nasceu de uma multiplicidade de causas, algumas das quais são mais antigas do que habitualmente se pensa. Talvez  convenha  considerar em primeiro lugar os aperfeiçoamentos   iniciais   da  técnica.    As   maravilhosas invenções dos fins do século XVIII não nasceram já completas, como Minerva da testa de Júpiter. Pelo contrário, já desde algum tempo havia um interesse mais ou menos fecundo pelas inovações mecânicas. O período da Revolução Comercial assistira à invenção do relógio de pêndulo, do termômetro, da bomba aspirante, da roda de fiar e do tear para tecer meias, sem falar dos melhoramentos introduzidos na técnica de fundir minérios e na obtenção do bronze. Mais ou menos em 1580 foi inventado um tear mecânico que fazia fitas, sendo capaz de tramar vários fios ao mesmo tempo. Houve também importantes progressos técnicos em outras indústrias, como a de vidraria, relojoaria, aparelhamento de madeira e construção naval. Várias dessas primeiras invenções tornavam necessária a adoção de métodos fabris. Por exemplo, a máquina de organsinar seda bruta, inventada na Itália por volta de 1500, tinha de ser instalada numa vasta construção e exigia uma turma considerável de trabalhadores. Nos Temple Mills, à margem do Tamisa, acima de Londres — segundo uma descrição feita em 1738 por Daniel Defoe — o cobre era convertido em caldeiras e panelas por meio de enormes martelos movidos a força hidráulica. Esses melhoramentos técnicos iniciais mal se podem comparar em importância aos que se verificaram depois de 1760, mas mostram que a era da máquina não surgiu de um dia para outro.
Entre outras causas de primeira importância contam-se algumas consequências mais diretas da Revolução Comercial.   Esse movimento provocara o surto de uma classe de capitalistas que procuravam constantemente novas oportunidades de investimento para o seu excesso de riqueza. A princípio essa riqueza podia ser facilmente absorvida pelo comércio, pelos empreendimentos de mineração, pelas especulações bancárias ou pelas construções navais, mas com o correr do tempo as oportunidades em tais campos se tornaram bastante limitadas. Em consequência, havia uma disponibilidade crescente de capitais para o desenvolvimento da manufatura. Mas dificilmente teria ocorrido um desenvolvimento rápido se não houvesse uma procura cada vez maior de produtos industriais. Tal procura deveu-se em grande parte à fundação de impérios coloniais e ao acentuado crescimento da população européia. Estamos lembrados de que um dos objetivos primários da aquisição de colônias fora o de encontrar novos mercados para os produtos manufaturados na metrópole. Como prova de que tal finalidade fora satisfatoriamente atingida registra-se o fato de, só no ano de 1658, terem sido embarcados da Inglaterra para a Virgínia nada menos de 24.000 pares de sapatos. Ao mesmo tempo, os mercados potenciais da Europa iam-se alargando com rapidez, dada a curva ascendente da população dos países ocidentais. Na Inglaterra o número de habitantes subiu de quatro milhões em 1600 a seis milhões em 1700 e a nove milhões no fim do século XVIII. A população da França elevou-se de 17.000.000 em 1700 a 26.000.000 cerca de cem anos mais tarde. Até que ponto esse aumento foi um efeito dos progressos da medicina no século XVIII e em que medida se deveu ele à maior abundância de alimentos decorrente da expansão do comércio? É uma questão discutível, mas a influência do segundo destes fatores não pode ser desprezada. Finalmente, a Revolução Comercial estimulou o crescimento das manufaturas graças à sua doutrina básica do mercantilismo.
A política mercantilista visava, entre outras coisas, aumentar a quantidade de artigos manufaturados disponíveis para a exportação a fim de garantir uma balança de comércio favorável. A despeito da importância das causas já mencionadas,  a Revolução   Industrial  teria   sido   sem   dúvida  retardada  se  não   fosse   a necessidade de melhoramentos mecânicos fundamentais em certos campos de produção. Aí por volta de 1700, a procura de carvão para as fundições de ferro  tinha  exaurido  de tal  modo  as  reservas  de lenha que várias  nações  da  Europa  Ocidental  se viram ameaçadas pelo desflorestamento.    Cerca de 1709 uma solução parcial foi encontrada por Abraham Darby, ao descobrir que o coque podia ser utilizado  na   fundição.    Mas,   para   se   obter   o   coque  necessário,   era preciso minerar carvão em quantidade muito maior do que até então se   tinha   feito.    Como   o   principal   obstáculo   à   extração   fosse   a acumulação de água nas minas, a necessidade do novo  combustível levou à procura de uma fonte de energia capaz de acionar as bombas. Vários experimentos relacionados  com  essa pesquisa resultaram  finalmente na invenção da máquina a vapor.    Uma necessidade ainda mais premente  de mecanização  existia na indústria têxtil.   
Com  a crescente procura dos tecidos de algodão nos séculos XVII e XVIII, tornou-se   simplesmente   impossível   fornecer   o   fio   necessário   com as  rodas  de  fiar  primitivas  ainda  em  uso.    Mesmo   depois  de  se porem a trabalhar todas as mulheres e crianças em disponibilidade, a procura não pôde ser satisfeita.    Na Alemanha, até os  soldados nos quartéis foram postos a fiar algodão.    Como a necessidade se fizesse sentir cada vez mais, as sociedades científicas e as empresas industriais ofereceram prêmios a quem apresentasse métodos aperfeiçoados de fiação. Em 1760, por exemplo, a "English Society of Arts" instituiu um desses prêmios para uma máquina que capacitasse uma pessoa a fiar seis fios simultaneamente. O resultado de todos esses esforços foi o desenvolvimento da máquina de fiar e do tear hidráulico, precursores de uma série de importantes inventos na indústria têxtil. Não tardando a ficar demonstrada a viabilidade de tais máquinas, a mecanização não podia deixar de estender-se às demais manufaturas.

EDWARD   McNALL   BURNS 
PROFESSOR DE  HISTÓRIA  DA  RUTGERS  UNIVERSITY 

HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL 
Volume II 

Tradução de LOURIVAL GOMES MACHADO, LOURDES SANTOS MACHADO e LEONEL VALLANDRO

continua nas postagens seguintes...

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