domingo, 22 de dezembro de 2013

Criação de camarões em cativeiro no RN

Criado em 1973 pelo então governador do Rio Grande do Norte Cortez Pereira, o Projeto camarão visava comprovar a viabilidade do cultivo de camarões e teve como objetivo  acabar com o desemprego das salinas incentivando os pequenos e médios produtores. As pesquisas tiveram início as margens do Rio Potengi, sendo então denominado "Núcleo Potengi". (20)           

As espécies nativas Penaeus brasiliensis e Penaeus schmitti no início serviram como fonte de pesquisa. Espécies exóticas também foram estudadas, tendo destaque as espécies P. monodon, a P. japonicus, a P.vannamei e a P. stylirostris, nativas da Ásia, América Central e Oriente. No entanto, até o final da década de 80 a espécie ideal para a carcinicultura no estado ainda não estava definida. As pesquisas sobre a reprodução, produtividade, e a resistência  à doenças mostrou ser necessária a introdução de uma espécie  que apresenta-se bons resultados em todos esses fatores. Portanto no início de 1990 foi introduzida a espécie P. vannamei que apresentou um grande sucesso no Equador, com uma grande adaptabilidade as mais variadas condições de cultivo, sendo de fundamental importância para a viabilidade do processo produtivo.   (20)

Consolidada há pouco mais de dez anos, a carcinicultura apresenta expressivos números na economia da região nordeste. Representando cerca de 97% de todo camarão produzido em cativeiro no país. Sendo o Rio Grande do Norte responsável por cerca de 29%, com uma produção de 7 mil toneladas, o que proporciona ao estado o título de maior produtor e maior área cultivada. O desenvolvimento da carcinicultura no RN é grandemente favorecido pela sua localização, próxima dos grandes mercados consumidores dos Estados Unidos  e Europa. (3)

Atualmente a criação do camarão em cativeiro constitui o principal produto de exportação do estado. Sozinho, o camarão representa 40% de toda a exportação do Rio Grande do Norte. (3)

A carcinicultura é considerado o ramo da aquicultura que mais cresce em todo o país, produzindo uma competitividade no mercado internacional e contando com apoio intenso de uma grande parcela dos setores governamentais. (8)

Entretanto, durante o processo de produção, a carcinicultura como qualquer outra atividade que tem como objetivo a produção de bens de consumo, transforma recursos naturais e conseqüentemente produz restos. E devido a produção desses restos a carcinicultura vem se tornando um problema quando são avaliadas as perdas causadas pela destruição e pelos impactos aos manguezais, tendo como conseqüências problemas ambientais e sociais, prejudicando as populações de baixa renda, que acabam sendo privadas de seu sustento.(7)                   
                                                                                                               
Além disso, as áreas de mangue são consideradas bens da união, de usos comuns e de preservação permanente que vêm sendo griladas e utilizadas indevidamente, desrespeitando assim a legislação imobiliária e as normas vigentes de proteção ambiental. (8)
Como consequência a carcinicultura vem causando uma grande pressão nessas áreas e prejudicando o meio ambiente. Esses fatores vêm afetando diretamente milhares de famílias que tiram o seu sustento da pesca artesanal e do extrativismo marinho. (8)
No decorrer dos últimos 40 anos estamos acompanhando a crescente expansão da carcinicultura. Esta atividade teve inicio em países como a Ásia e veio se propagando pela faixa intertropical. Mas, juntamente com a sua expansão a carcinicultura acarretou na devastação de praticamente metade dos manguezais existentes, tendo como objetivo maior a necessidade de atender a demanda dos países desenvolvidos. (16)
Ao passar dos anos e consequente desenvolvimento de novas tecnologias, ocorreu um avanço das áreas da carcinicultura e também de pesquisas científicas. No entanto, a primeira tinha como objetivo melhorar a produção tendo em vista o aumento da demanda, já a ciência tinha o objetivo de resolver os problemas causados pelo rastro de destruição dos manguezais, mostrando os pontos negativos dessa atividade na vida das populações ribeirinhas.  (16)
Os órgão licenciadores aprovaram muitos projetos de carcinicultura sem no entanto, levar em consideração a avaliação do conhecimento científico. Sem contar com o fato de que se  torna necessário um manejo adequado dessas áreas. No entender da comunidade científica, o manejo é o resultado da preservação dos ecossistemas costeiros, conservando todos os bens e serviços que são fornecidos gratuitamente à sociedade. Ficando portanto, evidente que manejar não significa modificar o meio, privatizando os benefícios e socializando os prejuízos. (16)
Torna-se de vital importância compreender que os empreendimentos de carcinicultura devem ser aprovados apenas mediante a uma avaliação dos impactos causados ao meio ambiente e a sociedade, juntamente com a utilização de estudos apropriados, com medidas que tenham o objetivo de estabelecer um sistema de aqüicultura sustentável e que portanto estejam de acordo com o ambiente e com as comunidades locais. (16)

Área utilizada pela carcinicultura

O Rio Grande do Norte possui uma área de aproximadamente 400km de zona costeira, sendo esta dividida em litoral norte e litoral sul, possuindo uma área equivalente a 30.000 ha propícia para a atividade da carcinicultura. O estado já possuía em 2001 aproximadamente 4.000 ha, com as fazendas distribuídas em 21 municípios, apresentando 232 fazendas em atividade, representando 45% das 507 já existentes em nível nacional, predominando o pequeno produtor com uma área de menos de 20 ha. Dessas 232 apenas seis são consideradas fazendas de médios empreendimentos onde as áreas apresentam uma extensão entre 20 e 100 hectares e cinco são consideradas grandes empreendimentos com uma extensão acima de 100 hectares.(1) e (23)

Segundo dados do IDEMA, atualmente mais de 10 mil hectares do território do Rio Grande do Norte estão ocupados com projetos de carcinicultura. Estima-se que existam hoje aproximadamente 2500 hectares de terras ocupadas por viveiros. (5) e (21)

Considerando o crescimento exponencial da carcinicultura no estado, a secretaria da industria, do comercio, ciência e tecnologia (SINTEC) fez a previsão de que a área utilizada continuará crescendo. Tendo em vista a utilização de novas áreas, acredita-se que será formada uma nova fronteira de expansão para o litoral seco dos vales do Açu, Piranhas e Apodi, de Mossoró. (6)
Produção (26)
Só no ano passado o Rio Grande de Norte dobrou sua produção, onde até o mês de agosto já aviam sido produzidas 14 mil toneladas e exportadas 12 mil, representando um ganho de 40,6 milhões de dólares. (2)

No âmbito do cenário nacional o Rio Grande do Norte aparece como o maior produtor do país com uma produção só no ano de 2003 de 18,5 mil toneladas em 280 fazendas com a utilização de uma área de aproximadamente 4 mil hectares. Apresentando uma média de 5 mil quilos por hectare durante o ano. (10)

Um grande reflexo dos ganhos com a  atividade foi o crescimento de 128%  no ano de 2000 para 2001, onde a produção passou de 7 mil toneladas para 16 mil toneladas ao ano. (14)

Atualmente o camarão produzido no estado é considerado um dos melhores do Brasil, tendo em vista os crescentes investimentos em tecnologias. Antes o rendimento era de 100 kg à 150 kg por hectare. Atualmente a produção chega até a 2500 kg por hectare. (14)

Um pequeno produtor que apresente uma fazenda com 3 mil hectares determinadas para o cultivo do camarão dispostos em  cerca de quatro viveiros apresenta uma produção média de 3 mil quilos por hectare com uma renda girando em torno de 2 mil reais. (10)

Em um tanque de 1ha, considerando que exista 80% de sobrevivência e a 13 g por camarão despescado, é esperada  uma produção de aproximadamente 1t por despesca (com uma média  de 3 despescas anuais por tanque), o que representa no máximo 3 t/ha.ano. Assim sendo, fazendo uma  análise direta é possível concluir que para cada tonelada por hectare de camarão produzido em sistemas artificiais (considerando o ótimo de rendimento do tanque), outros 0,3 t/ha.ano de organismos de grande importância econômica são perdidos, considerando também o ótimo ecológico dos sistemas naturais, ou ainda, 0,2 t/ha.ano de camarão nativo. (16)

O estado apresenta o maior crescimento anual que girou em torno de US$ 1.558.300,00 em 1999 para US$ 13.460.698,00 em 2000. No ano de 2000 o camarão congelado apresentou um grande volume de exportações conseguindo a terceira posição no âmbito do cenário regional. Comparando-se os anos de 2000 e 1999 o estado também surge com o maior percentual de crescimento. Entre os anos de 1998 e 2000, a região Nordeste mostrou um crescimento de 2400% na exportação do produto. (15)

A carcinicultura só no primeiro semestre de 2001 teve um incremento de 90,2% nas exportações em relação ao período anterior. Em 2003 das 37,5 toneladas produzidas apenas 18,7 mil foram destinadas ao mercado externo. (21) e  (24)

O crescimento da carcinicultura na década de 90 chegou a uma velocidade de 150% ao ano. Apesar do fato desse crescimento se manter em um ritmo acelerado o incremento médio é de 50%. No intervalo de janeiro a julho de 2003 o estado obteve um crescimento de 80% comparando com o ano anterior, indo de 5,9 mil para 10,5 mil toneladas.  (13)

O camarão chega a representar  até um terço de todas as exportações feitas pelo Rio Grande do Norte. Sendo os Estados Unidos e os países europeus os principais consumidores. (11)
Divisas geradas pela carcinicultura

A valorização dada ao ecossistema manguezal quando comparado ao lucro líquido das fazendas intensivas de camarões é basicamente equivalente. Entretanto, fazendo uma análise do custo-benefício, apesar do ganho com as divisas as perdas econômicas geradas com o declínio da pesca, somado aos prejuízos econômicos advindos dos assoreamentos dos canais navegáveis, da perda da balneabilidade das praias adjacentes, da perda de divisas com o turismo, dentre outros, elevará as cifras em muitas vezes quando comparadas com aquelas estimadas para a indústria camaroneira.(16)

No ano de 2003, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio, a carcinicultura potiguar vendeu 71 milhões de dólares, algo girando em torno de 19 toneladas do crustáceo.  (25)

Rio Grande do Norte e Ceará juntos respondem por cerca de 2/3 das 60,2 mil toneladas de camarão e 247 milhões de dólares gerados com as exportações do produto pelo Brasil. (25)

O Estado encerrou o primeiro semestre do ano de 2003 com vendas externas da ordem de US$ 40.565 milhões. Comparando com o mesmo período de 2002, as vendas tiveram um incremento de 140,42%. No ano passado, o Estado teve participação de 31% do total das exportações do produto feitas pela Região Nordeste, que foi de US$ 152.739.805.  (6)

O camarão congelado evoluiu em importância para a economia do RN, passando de oitavo (1999) para quarto (2000) passando a ser o mais importante produto de exportação  estadual. Os números da receita atual (julho/2001), apresentam um total de US$ 14.660.248,00, superando os do ano passado. Comparando os anos de 1999 e 2000 o camarão, nesse mesmo período, apresentou um crescimento de mais de 763%. O camarão congelado também apresenta maior evolução entre igual período de 2000 e 2001. Saltou de US$ 7 milhões para US$ 14,7 milhões, elevando sua participação em 109% da balança de exportação estadual. (20)

Vale ressaltar ainda que a queda das exportações para o Estados Unidos não refletiu numa redução do volume global de exportações do Rio Grande do Norte. Pelo contrário, no primeiro semestre de 2004, as vendas do crustáceo para o exterior já representam um faturamento de US$ 42,8 milhões, contra US$ 32,5 milhões registrado em todo o ano passado. (17)

Questões ambientais (26)


Mesmo sendo a carcinicultura considerada uma das atividades econômicas de maior expansão no RN, é em contrapartida, uma das que mais causam danos ambientais ao ecossistema dos manguezais, razão pela qual o Ibama é o órgão responsável por autuar e cassar as licenças para criação de camarão em áreas de invasão de mangue. Os responsáveis pela devastação podem ser enquadrados na lei de crimes ambientais que prevê multa e até prisão. (19)

Os manguezais, são áreas de proteção ambiental, e que funcionam como um filtro natural. Sem esse filtro natural, os produtos químicos e antibióticos utilizados nos viveiros acumulam-se lentamente, trazendo muitos prejuízos ao ambiente, como por exemplo nos estuários do Rio Potengi, em Natal, e na Barra do Cunhaú, no Sul do Estado, são locais onde os viveiros de camarão já transformaram o caranguejo em espécie rara, prejudicando as populações ribeirinhas que se sustentam do que vem do mangue. (7) e (4)
                                                                                                                                                                                           
Com a introdução de alimentos nos tanques de cultivo, as quantidades de materiais em suspensão, que ultrapassam teores de 50mg/L em sólidos filtráveis, são aumentados, de modo que, pela própria dinâmica da atividade, pode-se atingir valores críticos para organismos filtradores, gerando a impossibilidade de filtração para animais como as ostras, por exemplo. (7)
                                                                                                                        
O aumento do material em suspensão (decorrente da oferta de alimento não de todo utilizado) liberado para o corpo receptor, no final de cada ciclo de produção, poderá ocasionar sérios problemas para os organismos do ecossistema, representando uma intervenção nociva ao ambiente. (7)

Mesmo escondida pelos meios de comunicação, a degradação ambiental, a destruição dos manguezais, a invasão de rios, lagoas, barragens, o desrespeito as comunidades de pescadores e a salinização de aqüíferos que abastecem cidades inteiras esta acontecendo. (18)

Manguezais estão sendo invadidos, destruídos e muitos rios e lagoas estão sendo poluídos pelos resíduos e pelo sal utilizado nos camarões. (18)

Na cidade de Senador Georgino Avelino, a carcinicultura, trouxe a salinização da lagoa Capeba, o que causou a diminuição de peixes e de crustáceos e também a contaminação do aqüífero que abastece a cidade. Na cidade de Arês a situação não é muito diferente. Resíduos da carcinicultura predatória estão poluindo as águas do Rio jacú e da lagoa do Guarai.  (18)

As fazendas de criação de camarão causaram vários problemas, entre eles a escassez de água para consumo da comunidade onde se situam, uma vez que os viveiros necessitam de uma grande quantidade de água e, ainda, devolvem a água utilizada com substâncias que conseqüentemente vão poluir os mananciais.(9)

Para agravar ainda mais  a situação, o Governo e os órgãos ambientais não possuem sistema de controle da atividade, tanto no que se refere à qualidade da água quanto no que diz respeito à própria atividade de carcinicultura. (18)

As conseqüências ambientais com o uso excessivo das áreas com monocultivo de camarões pode gerar problemas ambientais, que justificam a busca de alternativas de locações dos empreendimentos de carcinicultura. O lançamento de efluentes pelas fazendas de camarão pode exceder a capacidade assimilativa do corpo receptor, tendo como resultado o comprometimento da qualidade da água para uso na própria fazenda. (7)
A falta de seriedade nos licenciamentos ambientais, associada à precária fiscalização, ou mesmo a atos que seriam considerados de improbidade administrativa, são incapazes de estabelecer parâmetros respeitáveis para a atividade. Alterações normativas são promovidas ora para incentivar, ora para consumar práticas degradantes. As autoridades governamentais relutam em implementar e fazer valer o Zoneamento Ecológico-Econômico no litoral. Com isso, a atividade se expande ilegalmente ou com uma aparente legalidade, por todo o litoral. Busca-se adotar códigos de condutas responsáveis que, no entanto, só têm produzido belos discursos. (8)                                                                                    

Empreendimentos onde o controle ambiental é precário, os impactos sócio-econômicos são maiores, envolvendo riscos como a redução da área produtiva da atividade tradicional de mariscagem e pesca; alteração do padrão social tradicional; redução dos estoques pesqueiros; privatização de áreas de uso público com indisponibilização de bens comuns; e riscos à saúde por uso de substâncias químicas. (7)

Desde que se busquem alternativas de localização no sentido de serem respeitados os dispositivos de leis que estabelecem a preservação dos manguezais, e que se atendam aos demais critérios de sustentabilidade estabelecidos pelo Conama em recente resolução, a atividade poderá ser considerada eco-compatível.  Num modelo desenvolvimentista, de lucro a qualquer custo - sobretudo ambiental -, sem dúvida a carcinicultura é um grande e grave problema. Na ótica do modelo sustentável, se não é uma solução, é indubitavelmente uma alternativa altamente justificável para o desenvolvimento econômico e, por que não, da manutenção da integridade ecológica dos ambientes explorados, na medida em que um dos pilares de sua sustentabilidade é a própria manutenção do equilíbrio do ecossistema. (7)

        Devastação(26)


Os manguezais são importantes como ecossistemas exportadores de matéria orgânica para águas costeiras o que faz com que eles tenham um papel fundamental na manutenção da produtividade biológica.  (12)

No entanto, os manguezais vem freqüentemente sofrendo devastação para a construção de viveiros de camarão, que impedem a recuperação da vegetação nativa. (4)

As grandes empresas exportadoras de camarão destroem os mangues e expulsam os pequenos criadores. A tendência é que os pescadores donos de pequenas fazendas desapareçam para dar lugar às multinacionais. (22)

Além de que o camarão utilizado é o camarão gigante da Malásia, espécie que desenvolve um fungo que poderá contaminar todo o litoral, lagos e lagoas causando a morte de várias espécies nativas, entre elas o nosso verdadeiro camarão, nossas lagostas e prejudicar economicamente  o Rio Grande do Norte. (18)

Definir regras claras de convivência da atividade com o meio ambiente, nacionalizar os ingredientes da ração e trazer a produção de implementos para a região são prioridades urgentes.  (21)

Para os ambientalistas a culpa do Ibama é a omissão de não punir os grandes fazendeiros que desmatam manguezais para fazer viveiros de camarão. Invadir mangue para qualquer fim é crime ambiental. Mesmo o aproveitamento de salinas abandonadas para fazendas de camarão é proibido. (22)

Muitas áreas de mangue foram convertidas em salinas nos municípios de Areia Branca, Macau e Galinhos. A antiga salina Amarra Negra, em Galinhos, fechou gamboas do mangue para transformá-lo em salinas e provocou um dos maiores crimes ambientais do RN, na década de 70.  (22)
Os órgãos de fiscalização muitas vezes não sabem (ou fazem que não sabem) o que está ocorrendo, ou ainda, dão permissão para tal devastação e implantação de fazendas de camarão, alegando que são áreas já degradadas por indústrias salineiras. (4)
                                                                                      

A invasão dos manguezais não é apenas um crime ambiental. É também um atentado contra as populações pobres das áreas ribeirinhas, que sobrevivem de catar caranguejos, mas com as áreas transformadas em viveiros para camarão, esse crustáceo tende a sumir. (22)

Os empreendimentos têm sido implantados em áreas de manguezais, protegidos por legislação federal e que constituem um ecossistema rico em espécies aquáticas marinhas e continentais. (9)

As fazendas de criação de camarão necessitam de uma grande quantidade de água, que após ser utilizada é devolvida aos mananciais com substâncias poluentes, podendo gerar escassez para o consumo de comunidades que se situem próximas ou que estão concentradas nos manguezais, ou ainda em áreas de clareiras naturais destes manguezais, onde não há vegetação, chamadas de apicuns ou salgados. (4)          
                                                                                                                                                             
Atualmente estão sendo verificados os índices de nitrogênio, fósforo e metais pesados nas águas. As substâncias citadas provocam um fenômeno conhecido como eutrofização, que seria o acúmulo de nutrientes nas águas gerando um aumento acelerado da população de algas cianofitas, que consomem bastante oxigênio. O desequilíbrio resulta na desoxigenação do rio e morte dos peixes. (5)

Nas quatro últimas décadas, a carcinicultura marinha teve um crescimento vertiginoso, em função da demanda de países como os EUA, Japão e alguns países europeus no consumo de camarões peneídeos. Em alguns países da Ásia e América Latina, a construção indiscriminada de tanques de carcinicultura e canais de abastecimento de água representou uma redução nas áreas de manguezais e afetando portanto a produtividade pesqueira da região. (5)
 (26)
A carcinicultura vem se tornando um tensor aos manguezais. O tensor opera de forma que pode ocasionar uma regressão do ecossistema até etapas similares as etapas sucessionais prévias. No caso do ecossistema manguezal, toda obra de engenharia, como a construção de canais e tanques para carcinicultura por exemplo, causa impacto e seu grau dependerá da qualidade e intensidade do tensor. Em linhas gerais, os impactos estão relacionados às mudanças na drenagem, desvio ou impedimento do fluxo das marés e mudanças nas características físico-químicas do substrato. (16)

Na tabela abaixo é possível ver a relação entre o tipo de impacto, a causa e seu efeito sobre o mangue.

Tipo de impacto

Causa

Efeito

1. Construção de canais
1.1  – Canalização e desvios de fluxo de água.
1.1  – Redução no aporte de nutrientes, acúmulo de substâncias tóxicas no sedimento.
2. Construção de barreiras, taludes e/ou tanques
2.1  – Acúmulo de água no sedimento;

2.2  – Impedimento da entrada das marés.

2.1  – Impedimento de trocas gasosas e hipersalinidade;
2.2  – Evaporação da água do sedimento e aumento da temperatura e da salinidade.
3. Sedimentação por erosão do talude e descarga de efluente
3.1  – Sufocamento das raízes respiratórias.
3.1  – Impedimento das trocas gasosas.
4. Contaminação por patógenos, hormônios, carrapaticidas, compostos químicos, resíduos alimentares e fertilizantes lançados por efluentes dos tanques
4.1  – Aumento no aporte de nutrientes;

4.2  – Acúmulo de matéria orgânica no sedimento;

4.3  – Contaminação de peixes e mariscos por agentes patogênicos;

4.4  – Perda da qualidade das águas estuarinas;

4.5  – Contaminação por substância químicas.

4.1  – Efeito positivo – incremento no crescimento do mangue e efeito negativo – excesso causa a mortandade das espécies vegetais e eutroficação da coluna d’água;
4.2  – Efeitos danosos na fauna e flora bêntica;
4.3  – Mortandade de espécies de importância econômica;
4.4  – Quebra da cadeia trófica;
4.5  – Morte das espécies da fauna e flora dos estuários, manguezais e ecossistemas adjacentes.
5. Introdução de espécies exóticas
5.1  – Competição, destruição de habitats, predação.
5.1  – Ainda há poucos indícios e estudos que relatam tais alterações.
                                                                                                                                                                  (16)

Em todos os casos descritos, haverá perda das produtividades primária e secundária, redução do desenvolvimento estrutural dos bosques de mangue e da biodiversidade. Além desses tensores gerados pelos tanques de carcinicultura, outros de origem externa poderão estar atuando e que portanto potencializarão a perda da qualidade ambiental de forma significativa, principalmente com relação a qualidade das águas do estuário. Há uma dependência intrínseca entre a qualidade da água dos estuários e costeiras e a qualidade e conservação dos manguezais. (16)

Estudos em áreas de manguezal próximas às fazendas de camarão, apontam uma redução significativa do desenvolvimento estrutural dos bosques de bacia e apicuns, com conseqüências diretas a exportação de material dissolvido às águas costeiras. Um exemplo de impacto em escala regional, são as modificações impostas por alterações no hidrodinamismo do ecossistema, através da construção de barreiras e retirada da cobertura vegetal, afetando o equilíbrio dinâmico dos estuários e acarretando num maior aporte de sedimentos terrígenos e materiais suspensos e dissolvidos que são transportados pelas correntes de marés e pela deriva ao longo da costa. Naturalmente, esse material é aprisionado e/ou assimilado pelo ecossistema manguezal, minimizando o impacto provocado pela erosão e pela contaminação das águas costeiras.   (16)
Além disso, o impacto da construção de tanques sobre a produtividade estuarina com a substituição dos manguezais, e a queda da produtividade dos bancos de corais devido a morte dos organismos, deve apontar para um efeito sinérgico sobre a produtividade costeira, com conseqüências diretas a economia e a sociedade.  (16)

Do ponto de vista ecológico, algumas dessas modificações são locais e de menor significado, enquanto outras podem determinar efeitos regionais tão nocivos que tornam o ambiente natural incapaz de sustentar a própria atividade. (16)

A construção de tanques sobre sedimentos ricos em matéria orgânica (tais como os de mangue-vermelho, Rhizophora mangle) engendram sérios problemas. Os tanques logo após as construções são drenados e secados para promover a oxidação da matéria orgânica. Com a dessecação e a oxidação, os compostos de enxofre do sedimento formam ácido sulfúrico e a decomposição das argilas devido a ação do ácido podem liberar íons de ferro e alumínio em quantidade tóxicas à biota. A presença do ácido sulfúrico no fundo dos tanques causa um decréscimo no pH quando aqueles se inundam, alcançando valores de pH 5 e 4. Para resolver estes problemas torna-se necessário o não desenvolvimento de fazendas camaroneiras em áreas de manguezal, recuperação de bosques de mangue degradados por esta atividade, monitoramento dos impactos e medidas mitigatórias para se evitar danos ao ecossistema com o lançamento de dejetos dos tanques aos estuários eliminados de forma irresponsável. As áreas de manguezal são apontadas por esta organização como as piores para a construção de tanques de engorda, devido ao pH ácido com alto grau de matéria orgânica e instáveis, pois estes terrenos são dificilmente drenados e secados adequadamente e porque os manguezais e outras áreas úmidas costeiras não deveriam ser destruídos pelo seu valor ecológico e seu papel na proteção da zona costeira contra tormentas e ondas.  (16)

Tradições culturais e ecológicas das comunidades, geram empregos e vem mantendo a economia local estável. Embora os usos tradicionais dos manguezais possam ser considerados por alguns como exploração dos recursos, eles de fato envolvem formas astutas de manejo que incorporam as características do ambiente às necessidades da população de sobreviver e o nível de tecnologia que dispõem para usar os recursos. A supressão dos estoques naturais relacionados a destruição dos ecossistemas costeiros, causará a supressão de valores culturais difíceis de serem quantificados, que se perdem no tempo e praticamente não retornam às origens nas gerações futuras. (16)


Todo empreendimento modificador do meio, deve levar  em consideração a análise de custo-benefício a longo prazo, buscando a qualidade de vida da gerações futuras. Vários dispositivos legais a níveis federal, estadual e municipal asseguram a preservação do ecossistema manguezal e seu entorno. A carcinicultura vem ferindo leis e convenções internacionais com o respaldo dos órgãos ambientais brasileiros. Portanto, torna-se de fundamental importância a modificação desses conceitos que colocam o lucro em primeiro lugar, e assim impedir que a carcinicultura continue a destruir um bem que é de todos. (16)

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