segunda-feira, 15 de junho de 2015

RN: LRF e os gastos com pessoal

A situação fiscal do governo estadual não é das melhores. A crise é recorrente e essa circunstância parece não significar absolutamente nada para os diversos governantes e demais autoridades responsáveis do Estado.

A arrecadação, mesmo em cenário de baixo crescimento econômico, tem respondido adequadamente. São frequentes as notícias de que o fisco estadual bate recordes de arrecadação.

As transferências constitucionais, certamente, foram negativamente impactadas pelo baixo crescimento da economia, bem como, vem ocorrendo a diminuição das operações da Petrobrás no RN e, consequentemente, a redução dos repasses dos royalties.

Mas, não existem informações sobre o comprometimento de parte das receitas com a amortização e o pagamento de juros da dívida. Qual é o desembolso mensal com o pagamento de juros e amortização da dívida?

Tem-se que reconhecer a redução de receitas e o comprometimento crescente (?) de parte das receitas com a amortização e pagamento de juros. Mas, quanto o governo tem a receber? Que tipo de ação o governo tem empreendido para receber as dívidas das empresas com o fisco? Qual o impacto das desonerações e isenções concedidas pelo governo?

Legalmente, o governo não pode abrir mão de receita sem apontar as compensações. Tudo que foi dado de benefício foi efetivamente compensado?

Outra questão importante. O governo informa que as finanças estaduais não suportam ampliação de desembolsos, especialmente, não é possível cumprir a legislação estadual prevista nos Planos de Cargos, Carreiras e Salários de diversas categorias de servidores públicos.

Evidentemente, tal situação gera um impasse significativo: para se adequar a um dispositivo legal, a LRF, descumprem-se vários outros. Restando evidente que teremos governos fora da Lei por um ou outro aspecto.

A solução pretendida é que o sacrifício seja suportado pelos servidores públicos. A LRF só serve até o ponto de justificar a impossibilidade de viabilizar os direitos dos servidores. Nenhum gestor público potiguar foi denunciado por descumprir a LRF. Nenhum foi instado a adotar as providências expressas na referida Lei. Redução de cargos comissionados, contratos temporários, gratificações, enfim, nada de concreto foi realmente colocado em prática.

De outro lado, tem-se uma população extremamente insatisfeita com os serviços públicos. As dificuldades saltam aos olhos, especialmente, nas áreas de saúde, educação e segurança.

A população reclama da baixa qualidade dos serviços e quem trabalha sente na pele a sobrecarga de trabalho proveniente da insuficiência da força de trabalho, a insuficiência de condições para bem exercer as funções e o descaso com os direitos adquiridos.

Quantos servidores estaduais estão cedidos? Para onde foram cedidos? Qual o peso na folha de pagamento? Estariam efetivamente desempenhando as funções? Que tipo de controle é feito? Quem estaria disposto a analisar seriamente e a luz do dia a estrutura de cargos comissionados e gratificações nos diversos órgãos e Poderes? Quem toparia cortar os excessos?

O que caracteriza a gestão de RH é o descontrole sobre o RH, entretanto a gestão parece ser bem eficiente quando o objetivo é encontrar “brecha jurídica” para atender interesses individuais e específicos.

É vexatório pedir sacrifícios aos servidores estaduais quando se começa o governo com um aumento de 100% no próprio subsídio. É lastimável pedir sacrifícios aos servidores estaduais enquanto os assessores imediatos se esfalfam para aumentarem as remunerações recebidas.

Agora, nem isso é inédito, apontam-se para problemas estruturais construídos ao longo de décadas. Que novidade! Até parece que os atuais signatários que ocupam o governo jamais contribuíram para a construção do que temos. O governador não caiu de Marte em 2014, tem duas ou três décadas de atuação política e como protagonista. Creio que apoiou e participou das diversas administrações das últimas décadas. As demais forças políticas que integram o governo também participaram de governos, como o de Wilma de Faria.

Concordo que os problemas atuais foram sendo “construídos” e intensificados ao longo do tempo, mas não é possível dissociar os atuais mandatários e isentá-los de todas as responsabilidades. Não existem “inocentes” nessa história. Todos estavam na “cena do crime” e não têm álibis consistentes.

Ademais, a identificação dos mais ou menos responsáveis não servirá para nada. Não melhorará a eficiência e eficácia do serviço público. Não representará um centavo a mais nos cofres públicos. Serve apenas para manter a disputa política como elemento central e assim tirar o foco dos reais problemas.

Os políticos que foram derrotados na campanha passada foram considerados pela maioria da população como incapazes de realizarem um governo compatível com os anseios dos eleitores e as escaramuças políticas atuais só servem como cortina de fumaça para deixar a impressão de que o governo ainda não fez mais ou nada fez por causa dessa “luta” política.

Não tinha expectativa de que o atual governo iria promover significativas transformações. Tenho consciência de quem são e de onde vieram os atuais mandatários. Sei o que fizeram nos verões passados. Entretanto, o que temos por enquanto é um governo de continuidade com CPF diferente. Mais do mesmo com algumas pitadas de “ideias” absurdas.

E a pior das ideias não foi a palestra sobre etiqueta para as primeiras damas ou o uso de contêineres para os presos. Sem dúvidas, para quem votou e elegeu Robinson Faria, a pior face do governo é a “terceirização”. O governador não decide e “terceirizou” a prerrogativa para os “pareceristas” de ocasião.


Parafraseando o ex-presidente Lula: nunca antes na história do RN o governador abriu mão de governar em benefício de um “técnico” que jamais obteve um mísero voto.

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