domingo, 2 de agosto de 2015

A seca e a "surpresa"

Vivemos numa região semiárida conhecida como Polígono das Secas. As principais características são: Baixo índice pluviométrico anual; baixa umidade; clima semi-árido; solo seco e rachado; vegetação arbustiva (caatinga); temperaturas elevadas em grande parte do ano.

O fenômeno climático é mais que conhecido e recorrente, mas sempre que se repete, tem-se o discurso da "surpresa". Trata-se da 72ª grande estiagem registrada em mais de 500 anos de história, segundo dados da Articulação pelo Semiárido (ASA).

As ações de "enfrentamento e combate" deram o tom as políticas públicas implementadas: da construção do Açude do Cedro no Ceará, autorizada por Dom Pedro II em 1880 à Transposição das águas do "Velho Chico" (obra em andamento). Foram criados órgãos especializados, como o DNOCS, para realizar as obras hídricas de grande porte (solução hidráulica) e vultosas quantias foram dispendidas.

Como se verifica com a seca atual e a "surpresa" dos agentes públicos, tem-se que a "solução" ainda requer muito dinheiro e esforço.

Após bilhões e dezenas de obras mirabolantes, tem-se: rebanhos dizimados, produção agrícola despencando na área do Polígono, miséria e fome (amortecida por programas sociais como aposentadoria rural, o Bolsa Família e o Bolsa Estiagem), doenças originadas pelo consumo de água de péssima qualidade...

E olha que a natureza nem é tão inclemente assim. O nosso semiárido é o que tem maior índice de chuvas no planeta, dispõe de águas subterrâneas e é cortado por rios importantes, com destaque para o “Velho Chico”.

Também temos “expertise no combate à seca”, do IFOCS que virou DNOCS, passando por SUDENE, BNB, EMBRAPA Semiárido e outros tantos órgãos especializados, certamente, acumulamos, quero crê, conhecimentos para saber o que não funciona.

A indústria da seca continua firme e forte como atesta o infortúnio dos sertanejos apresentados no horário nobre das TV’s. Podem-se fazer seleções dos “melhores piores momentos” da saga Severina apenas garimpando as matérias jornalísticas dos últimos períodos de seca.

Certamente, quase todas as matérias terminam com o anúncio de repasses milionários para “enfrentamento emergencial” das situações. Nestes períodos tenebrosos também prosperam, como a quantidade de urubus, projetos grandiosos, mirabolantes e caros apontados como sendo a “solução final”. O período é propício para inaugurações de intenções e planos de milhões, bilhões de reais para mitigação do sofrimento dos sertanejos.

Balela. Os planos que saem do papel alimentam o apetite voraz dos rapinadores do erário. Governo após governo, seca após seca e o sofrimento dos nordestinos pobres continua o mesmo, acompanha-o desde sempre como sua própria sombra.

A "surpresa" só serve para os agentes públicos pedirem mais um "dinheirinho"...

Nenhum comentário:

Postar um comentário