sábado, 22 de outubro de 2016

BANCO MUNDIAL: Estudo aponta redução de pobreza na América Latina e Caribe


Sim, existe o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, e a data foi comemorada (será que é assim que se diz?) na segunda-feira (17). Nesse dia, o Banco Mundial divulgou novos dados sobre a pobreza extrema – pessoas que vivem com apenas  US$ 2,5 por dia – na América Latina e Caribe. Há duas notícias: a primeira é de que diminuiu o número de pobres na região no período que vai de 2000 a 2014: de 25,5% baixou para 10,8%. A outra notícia não é tão boa: essa redução tem acontecido num ritmo muito mais lento desde 2012.

A desigualdade está ligeiramente menor, mas continua sendo alta, embora o acesso a serviços básicos e escolaridade esteja num patamar um pouco mais elevado do que sempre foi. Mas a atual desaceleração econômica, diz o relatório, está ofuscando todas essas conquistas e a classe média parou de se expandir.

No site do Banco, um comunicado à imprensa conta que a Argentina e o Brasil têm as maiores pontuações na educação, enquanto o México está entre os que mais dão oportunidade às pessoas de terem eletricidade em casa. O Uruguai é o que mais cuida do saneamento básico, enquanto a Região Andina (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile ) se destaca pelos progressos na conectividade móvel.

Um relatório lançado recentemente pelo próprio Banco Mundial (“Poverty and Shared Prosperity 2016: Taking on Inequality” ou “Pobreza e Prosperidade Repartida 2016: Assumindo a Desigualdade”) revela dados mais globais.  

Entre 1990 e 2013 a taxa de pobreza extrema, que mede a proporção da população que vive com renda abaixo da linha internacional de pobreza extrema (US$1,90 por dia) foi reduzida em aproximadamente 70%, passando de 35% para 10.7% dos habitantes do planeta.

Além disso, a outra notícia interessante é que o número total de pobres extremos no mundo decresceu em quase 60%, passando de 1.85 bilhões em 1990 para 767 milhões em 2013. Ou seja, o mundo tem hoje mais de um bilhão de pobres a menos do que tinha há duas décadas e meia, apesar de a população global ser 36% maior.

Um artigo escrito por Martin Raiser, diretor do Banco Mundial para o Brasil, e divulgado no site da instituição  lembra que no Brasil, durante o mesmo período, a taxa de pobreza extrema (medida pela linha internacional) caiu ainda mais rapidamente do que no resto do mundo.

A queda foi de mais de 76%, passando de 20.6% da população brasileira em 1990, a 4.9% em 2013 e a 3.7% em 2014. Além disso, o país foi responsável pela metade da queda da pobreza observada na América Latina e Caribe, apesar de contribuir somente com um terço da população da região”.

Uma política voltada para os mais pobres, marca do governo de Luis Inácio Lula da Silva (2003- 2011), com certeza foi uma das chaves para o sucesso. Raiser lembra também, em seu artigo, que a Constituição de 88 abriu as portas para uma sociedade mais justa e inclusiva.

“Ela assegurou direitos universais, como acesso à educação, saúde e proteção social. As reformas macroeconômicas, nos meados da década de 1990, domaram a inflação que prejudicava principalmente os mais pobres. A Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada em 2000, ajudou a colocar as finanças públicas em posição mais saudável, contribuindo para a redução das taxas de juros e para a estabilidade macroeconômica”.

A década de 2003 [-2013] é chamada de “década de ouro para o Brasil” pelo economista. Mercado de trabalho aquecido pela expansão da demanda e significativos aumentos no salário mínimo ampliaram os ganhos dos trabalhadores, sobretudo os menos qualificados.

“Esse aumento na renda do trabalho de baixa qualificação, juntamente com a expansão de programas de transferências focalizados nos mais pobres, como o Bolsa Família, desempenharam um papel crucial na redução da pobreza extrema no Brasil”, conclui ele para, logo em seguida, lembrar que esse período enfrenta desafios importantes. Com o fim do boom das commodities será preciso encontrar uma nova forma de crescer, sendo sustentável.

Até aí todos concordamos. A questão é que as soluções que refletem apenas o pensamento dos corredores do poder podem estar equivocadas, mostram que estão, já que não têm sido bem sucedidas para terminar com a desigualdade. E, como todos sabemos, é esse o grande problema do atual sistema econômico.

Buscando grupos de reflexão que possam ir além do já gasto modelo que sugere sempre cortar custos e fazer ajuste fiscal, encontro algumas possibilidades que merecem atenção. No site da New Economics Foudation, há uma agenda sobre como construir um novo sistema econômico no qual as pessoas realmente possam tomar controle da situação. Vale a pena conferir.

Entre as diversas sugestões feitas por estudiosos de um novo modelo, para a construção de uma nova ordem mundial, um capítulo trata, especificamente, do emprego no Reino Unido. Fica-se sabendo, portanto, que os trabalhadores britânicos de algumas grandes empresas têm pouca ou nenhuma liberdade. São monitorados ou ficam ouvindo a voz de um chefe que berra o tempo todo num alto-falante sobre os procedimentos exigidos pela empresa. Estilo anos 40. A sensação de insegurança deles é imensa. A porcentagem de pessoas que estão seguras e são bem pagas está diminuindo com o passar do tempo.

O exemplo do Uber me chamou a atenção por ser bem conhecido por nós, brasileiros. Lá é assinalado como um "falso caminho". Até o ano passado, diz o texto, um motorista Uber podia ser posto para fora do aplicativo caso se negasse a transportar três pessoas em seguida. E eles têm uma rotina ainda mais estressante do que os motoristas de táxi comuns da capital do Reino Unido.

Em resumo, o que sugerem os especialistas que assinam a agenda é a organização dos trabalhadores:

“À medida que os trabalhadores foram se sentindo mais inseguros, foram também ficando mais isolados. As pessoas já não se encontram na cantina ou depois dos portões da fábrica. Isso dificulta a construção de relações. Precisamos ser mais criativos, inclusive com o uso das tecnologias a nosso favor. Que tal, por exemplo, construir aplicativos para trabalhadores compartilharem informações sobre onde e quando eles estão trabalhando e os problemas que estão experimentando em seus locais de trabalho”.

Talvez possa parecer uma proposta muito ingênua aos nossos olhares de habitantes de um país emergente. Mas estamos falando de uma economia europeia forte que vem pensando sobre a divisão pouco igualitária da sociedade. Nesse sentido, a reflexão pode contribuir, sim, para a construção de uma nova civilização, com menos pobres e miseráveis.


G1 - por Amelia Gonzalez

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