quarta-feira, 25 de março de 2020

A era do capital improdutivo

A era do capital improdutivo – a nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta. (autor: DOWBOR, Ladislau)

Resenha: CAPITALISMO IMPRODUTIVO: um infortúnio que assola a economia brasileira

O que explica a recente estagnação econômica brasileira? 

Em conversas descompromissadas entre brasileiros, é comum alguém dizer: “Temos tudo. Um país como o nosso não poderia estar como está”. 

As reflexões, no entanto, raramente vão muito além, suspendendo-se perante um punhado de historietas picarescas, que, quase sempre, deixam a sensação de que a narrativa foi mal contada. 

Em 14 sucintos capítulos, Ladislau Dowbor desvenda alguns dos motivos que têm bloqueado a consumação de uma governança minimamente sensata no capitalismo brasileiro. 

Tardiamente, ainda buscamos um processo decisório que faça sentido para a maioria, algo que nos permita entoar, em bom som e sem constrangimento, que estamos no século XXI. 

“A Era do Capital Improdutivo” é, essencialmente, sobre a improficuidade que assola o sistema de produção de riqueza na sociedade brasileira. 

O livro reúne pesquisas diversas, que gravitam em torno do eixo condutor constituído pela governança. Seu argumento central é contundente: a riqueza produzida socialmente por meio do trabalho tem sido capturada pelo sistema financeiro. 

Os temas debatidos são, muitos deles, espinhosos. Logo no segundo capítulo, por exemplo, discute-se a rede mundial de controle corporativo, conexão que esbanja e abusa do poder político. 

No capítulo sexto, outro exemplo, entram em discussão os paraísos fiscais e o papel (estrutural) que exercem no funcionamento do sistema capitalista. 

Ao longo de todo o texto, busca-se manter os argumentos bastante próximos aos dados apresentados. Pretende-se, dessa forma, atribuir objetividade à argumentação. 

Ao lado dessa característica, o leitor encontrará um autor impetuoso, que nutre suas convicções com fatos sórdidos: “Hoje 800 milhões de pessoas passam fome, não por culpa delas, mas por culpa de um sistema de alocação de recursos sobre o qual elas não têm nenhuma influência” (Dowbor, 2017, p. 13). 

A indignação que o move não resulta, portanto, de posições ideológicas, mas de conjunturas que, de qualquer ponto de vista, são, humanitariamente, injustificáveis. 

Trata-se de um Dowbor que transparece, em alguns trechos, o fastio proveniente da labuta inveterada.

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