Uma equipe de pesquisadores, comandada pelo professor
Gilton Sampaio (CAMEAM-UERN), visitou o município de Viçosa.
O principal objetivo foi uma visita ao provável
local em que teria ocorrido o assassinato de indígenas Tapuias-Paiacus.
No local, denominado de Cemitério do Massacre dos
índios, no ano de 1825, aproximadamente, setenta índios teriam sido chacinados
por forças governamentais, após um ataque perpetrado pelos indígenas a sede da
Vila portalegrense.
Salvo melhor juízo, a comprovação do local ainda
exige estudos arqueológicos, mas os relatos são verossímeis com as práticas abomináveis
dos colonizadores e seus descendentes em relação às populações autóctones.
O historiador Valter de Brito
Guerra escreveu:
“Uma manhã, os índios reuniram-se, atacaram a vila
de Portalegre, travando uma luta com os moradores, da qual resultou a morte do
Delegado de Policia, Capitão Bento Inácio de Bessa e o suicídio do Coronel
Vieira de Barros. Restabelecida a ordem, foram os índios presos e algemados,
seguindo escoltados para a cadeia da cidade de Natal. Ao chegarem ao pé da
serra, entre o Sítio ‘Viçosa’ e Vila de Portalegre, levantaram uma grande cruz,
e depois de rezarem um terço, foram os prisioneiros passados pelas armas”.
“Quem viajar entre o sítio ‘Viçosa’ e Portalegre
verá próxima à estrada a cruz e as sepulturas daqueles que foram os primeiros
povoadores deste sertão.”
Valdecir dos Santos Júnior, no livro “Os índios tapuias do Rio Grande do Norte: antepassados esquecidos”, diz que os índios mouxorós, após
conflito com vaqueiros, teriam sido aldeados na “Serra dos Dormentes” (também denominada "Serra de Dona Margarida", tornou-se "Vila do Regente" em 1761) em
Portalegre-RN e que em 1749 teriam entrado em conflito com os paiacus. Após a
derrota sofreram novo aldeamento na serra de Cepilhada em Campo Grande-RN (p.
26).
O mesmo autor escreveu sobre os índios caborés que
também teriam sido aldeados em Portalegre-RN e, posteriormente, transferidos
para o engenho do Ferreiro Torto (próximo a Natal), em 1716 (p. 27).
Ou seja, relatos de prisões, translado de índios e conflitos são abundantes, mas quase sempre com datas anteriores ao fatídico ano de 1825.
Outro
trecho do livro trata do provável massacre:
"Em
1805 a Vila de Portalegre - RN possuía 400 índios, sendo 189 do sexo
masculino e 211 do feminino, com a população branca atingindo 262 pessoas,
100 negros e 255 mulatos.”
(Documento existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, datado
de 31 de Dezembro de 1805, informando os dados
estatísticos da Vila de Portalegre - RN. MEDEIROS FILHO, Olavo
de. Notas para a História do Rio Grande do Norte. Editora
Centro Universitário de João Pessoa, Março, 2001. Pág.165.).
“Em
03 de Novembro de 1825, ocorre uma chacina de índios Paiacus aos pés da serra
de Portalegre - RN, no sítio Viçosa (atual município de Viçosa-RN). Esses
estavam sendo escoltados para a cadeia de Natal-RN:
'Repelidos
e presos, os indígenas foram algemados e conduzidos para Natal, diziam os da
escolta. No pé da serra, levantaram uma grande cruz e mandaram a indiada rezar
o terço. Terminada a oração foram todos fuzilados. Eram uns setentas. Não
foi possível punição.'(SPENCER, Walner Barros. Cunhaú - Um patrimônio de valores
contraditórios. Artigo publicado em 18.10.2004, na Natalpress.com)"
A referência é o artigo de Barros (2004) e a chacina teria ocorrido numa época em que a orientação do governo já havia se modificado:
“O projeto de legislação indigenista no contexto das reformas pombalinas, quando entre 1757 e 1798 se organizou o Diretório de índios, código legislativo que extinguiu o sistema de missões e secularizou a administração dos aldeamentos de índios e a Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil, estimulou a secularização das aldeias e sua integração na organização formal das instituições urbanas européias: freguesias e vilas. As aldeias tornaram-se vilas e suas terras foram repartidas.”
“Desde 1654 se havia iniciado esta tendência na administração urbana, mas em 1750, com o fim da ação missionária oficial na região e com as novas determinações que a estabilização da posse da terra ocasionava, começa com maior determinação a organização de novas cidades.”
(PORTO, Maria Emília Monteiro. Fronteira: Jesuítas e missões no Rio Grande colonial. http://www.cafefilosofico.ufrn.br/emilia.htm.)
Vale
a pena conferir o trabalho "Entre Parentes: cotidiano, religiosidade e identidade na serra de Portalegre/RN", de Glória Cristina de Oliveira Morais, especialmente no capítulo 1 "No topo da serra" se encontra material histórico sobre o período.
Fonte das fotos: blog Na Hora RN
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