O mercado de grãos viveu momentos de tensão ao longo dos últimos dias acompanhando de perto o agravamento da crise no cenário internacional...
Apesar de seus fundamentos sólidos, o milho registrou significativa desvalorização nos preços futuros negociados na Bolsa de Chicago.
Na última quinzena, os preços do primeiro vencimento registraram queda de 10,8%.
A queda dos preços não está relacionada apenas a um movimento de pânico do mercado, mas sim à forma como os investidores estão enxergando o futuro da economia global.
As recentes notícias de que a economia chinesa está enfrentando desaceleração maior do que a esperada teve forte reflexo sobre os movimentos de precificação.
Nesse cenário, é importante entender com clareza o papel da China no mercado de commodities agrícolas. Há 20 anos, a China respondia por 3,2% das importações mundiais de grãos. Na safra 2010/11, a participação saltou para 15,2% e espera-se que em 2011/12 suba para 16,5%.
Não há dúvida de que o país se tornou a grande locomotiva global na demanda por alimentos. Dessa forma, qualquer impacto econômico na China gera reflexo imediato nos preços das commodities.
Pelo fato de ainda ser uma economia emergente, uma desaceleração econômica causaria impactos na demanda doméstica por alimentos (principalmente por proteína animal), uma vez que a renda per capita chinesa ainda é relativamente baixa.
No mercado do milho, a China tem se destacado por ser a grande promessa de crescimento na importação. Estimativas do Usda indicam que a China deverá importar cerca de 3 milhões de toneladas na safra 2011/12. Até há pouco tempo, a China se destacava por ser um dos maiores exportadores de milho.
O agravamento da crise internacional poderá ocasionar reflexos negativos para o Brasil. A queda nos preços internacionais do milho limitaria a capacidade de exportação do país em um momento em que as vendas externas serão cruciais para manter os níveis de preços remuneradores ao produtor brasileiro.
Com a expectativa de safra recorde em 2011/12, se houver frustração nas exportações de milho pelo cenário externo, os reflexos para a safra 2012/13 serão preocupantes.
Assim como já vem adotando algumas medidas econômicas para limitar o impacto da crise no mercado doméstico, via política de corte dos juros, o governo também deveria começar a pensar em delinear estratégias setoriais, mesmo que não haja necessidade de implementá-las.
No entanto, seria muito mais fácil já ter medidas preventivas de combate à crise que poderia afetar o agronegócio do que implementar medidas curativas, que geralmente custam muito mais aos contribuintes brasileiros.
Leonardo Sologuren é engenheiro-agrônomo, mestre em economia e sócio-diretor da Clarivi.
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