domingo, 19 de fevereiro de 2012

100 anos de economia brasileira: vamos comparar?


O grande assunto desta semana é o balanço do comportamento da economia brasileira nos últimos 100 anos, iniciativa elogiável do IBGE. As conclusões encontradas na imprensa têm praticamente a mesma linha: nossa economia cresceu como poucas no mundo, mas não distribuímos nossa renda. O balanço é parcialmente positivo e traz o gosto amargo de uma economia perversa que não passa ao cidadão médio os benefícios do bem estar.

Essas conclusões são apressadas, simplistas e trazem um certo ranço de mau humor. É sempre saudável olhar pela janela e ver como se comportaram outros países no mesmo período. Depois da comparação, podemos tirar conclusões mais objetivas. Alguns números falam por si:

1-    A renda per capita do Brasil cresceu 8 vezes durante o século XX, enquanto a do México cresceu 6 vezes, da China 5 vezes, da Argentina e do Chile triplicou, e da Índia quase dobrou. Apenas a Coréia do Sul teve desempenho superior, multiplicando sua renda média por 10, em grande parte pelo excelente desempenho desde meados da década de 70.

2-    O nosso PIB multiplicou-se por 41, enquanto o do México aumentou 25 vezes, do Chile 14 vezes, da Argentina 17, da China 11. A Coréia é novamente o único país de nossos “comparáveis” que cresceu mais, 51 vezes.

3-    Até meados da década de 60, o Brasil apanhava feio do México. Em 1900, nosso PIB era do mesmo tamanho da Argentina, e 10 vezes menor do que o da Índia. Aí sim, éramos um país desigual e atrasado.

4-    Se considerarmos o período até 1980, concluiremos que o Brasil cresceu mais do que qualquer outro país no mundo, a despeito de cíclicos desacertos de política e gestão e da persistência de mazelas sociais e de um sistema educacional insuficiente.

5-    Perdemos a direção em algum momento entre o final dos anos 70 e a década de 80, demorando um pouco para corrigir. Se mantivéssemos a tendência histórica nos últimos 20 anos, o Brasil seria 50% mais rico do que é hoje.

6-    Jamais seria leviano a ponto de afirmar que a percepção de desigualdade social no Brasil é exagerada, pois convivemos todos os dias com seus traços mais explícitos. Mas a verdade é que poucos países no mundo ofereceram tamanha mobilidade social, o Brasil não é uma sociedade fechada. E tivemos que ultrapassar a herança maldita na primeira metade do século de uma sociedade colonial, preconceituosa e atrasada.

7-    Se analisarmos os indicadores, o Brasil da primeira metade do século tinha produtividade e condições sociais equivalente às que encontramos hoje em países africanos.

8-    Temos de ter coragem neste momento, e encontrar os caminhos para continuar crescendo. Muitos países se perderam nas curvas do populismo e do obscurantismo. Derrapamos por algum tempo, mas voltamos ao círculo virtuoso na década de 90, e ainda estamos na periferia do caminho,não nos afastamos dele.

9-    Cuba, China e a Albânia têm menor desigualdade social do que o Brasil por causa de um dado muito simples: quase todos são pobres, inclusive a pseudo-classe média, o que não é o nosso caso. A assimetria é própria do processo de crescimento. O que temos de melhorar são nossos mecanismos compensatórios e fortalecer ainda mais as instituições. Olhar para o futuro incluindo, procurando um processo amplo, sem jamais obstruir a economia.

10-                     Entender os caminhos do mundo é fundamental para mantermos a boa performance. Esses indicadores são a prova máxima de que desenvolvimento não se faz da noite para o dia, mas a tarefa de chegarmos até aqui foi árdua. Daqui para diante, cada avanço será mais complexo e a competição, mais ferrenha.

11-                     O processo mais perverso de reprodução de pobreza é não crescer, não se reciclar e não saber perceber o futuro.

Obs. Utilizei como critério trabalho multilateral realizado pelo grupo editorial francês Les Echos na publicação “Un Siècle d´économie” (1999), utilizando dados da OCDE. Os números do IBGE são ainda melhores para o Brasil: o PIB multiplicou-se por 110, e a renda per capita por 12.



Fonte
GRISA, Gustavo. 100 anos de economia brasileira: vamos comparar? Disponível em: <http://www.economiabr.net/colunas/grisa/100anos.html>.

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