domingo, 19 de fevereiro de 2012

Celso Furtado e os pesares do nacionalismo


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O dogma ricardiano


De fato quem fixou as modernas regras teóricas do comércio internacional foi David Ricardo (Dos Princípios de Economia Política e da Tributação, 1817). Inspirando-se nas peculiares relações econômicas que a Inglaterra mantinha desde longo tempo com Portugal, o famoso economista assegurou que cada nação devia especializar-se naquilo que tinha de melhor. O Reino Bretão fabricava manufaturas em série, Portugal o bom vinho do Porto. Bastava trocar um pelo outro para fazer felizes os mercadores ingleses e os vinhateiros lusitanos e dos dois reinos trafegariam, ainda que por caminhos diversos, rumo à prosperidade (Sobre o Comércio Exterior, cap. VII, dos Princípios ).

Aplicado às colônias, o dogma ricardiano das vantagens comparativas, significava que elas estariam condenadas a sempre terem que plantar e colher as mesmas coisas - era a "vocação natural" delas -, deixando as coisas sérias como a iniciativa tecnológica nas mãos das sábias metrópoles.

Durante 130 anos tal principio vigorou na América Latina. Mesmo depois de alcançada a independência, entre 1810-1825, ainda que liberta do mercantilismo ibérico, a situação econômica dela pouco mudara. As repúblicas do Prata continuava a exportar carne, lã e couros; o Brasil, açúcar e café; a Bolívia, estanho; Cuba, açúcar e tabaco, e assim por diante. O antigo colonialismo transformara-se em estado de subdesenvolvimento.

Além disso, ficara mais do que evidente que a obediência ao dogma das vantagens comparativas somente fortalecia um dos lados: o das ex-metrópoles que se industrializaram e ficavam cada vez mais poderosas e fortes, como no caso da Grã-Bretanha. Pode ser que a lavoura e a extração de minérios fossem a vocação da América Latina, mas isso pouco a afastara da pobreza crônica.

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Fonte
FURTADO, Celso. Celso Furtado e os pesares do nacionalismo. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2004/11/24/000.htm>.

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