Competitividade e flexibilização do trabalho
Por Carlos Magno Lopes
A recuperação plena da economia europeia, no longo prazo, segundo a
quase totalidade dos analistas, depende de reformas institucionais
relacionadas à previdência social e à legislação trabalhistas, que
atualmente têm em comum amplos benefícios aos inativos e trabalhadores.
Nada contra, desde que sejam considerados os custos de tais políticas,
tanto para os cofres públicos quanto para as empresas, os quais diferem
entre países, dependendo da generosidade de cada um deles. Como não
poderia deixar de ser, esses custos interferem com maior ou menor
intensidade sobre a capacidade dos países competirem globalmente,
produzirem riquezas e gerar empregos.
Pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Confederação
Nacional da Indústria (CNI) mostra que o custo do trabalho no Brasil é
incompatível com padrões internacionais de competitividade. Esse estudo
revela que o custo do trabalhador brasileiro pode chegar a 183% do
salário, tomando como base o salário médio mensal bruto de R$ 730,00,
pago por duas empresas do setor têxtil, talvez o mais afetado pela
predadora invasão chinesa. Creio que esse resultado não agrada a gregos e
troianos, isto é, a trabalhadores e empresas. Do lado das empresas,
como informa a pesquisa, no período de um ano, o custo mensal incorrido
pela empresa para pagar tal salário é de R$ 2.067,44.
Os trabalhadores, por seu turno, também não têm o que comemorar. Com
efeito, se pudessem incorporar a seus salários o custo das empresas
relativo ao FGTS, INSS, multa sobre o FGTS e aviso prévio (18% do custo
total do trabalho), o salário mensal bruto do trabalhador aumentaria de
R$ 730,00 para R$ 1.158,12. Talvez essa não seja a melhor opção para o
trabalhador, mas incorporar o desconto do FGTS em seu salário poderia
ser uma boa ideia. Na realidade, não há razão para que o trabalhador não
possa, individualmente, gerenciar sua própria conta junto ao FGTS.
Aliás, se o trabalhador aplicasse sua contribuição ao FGTS em uma
simples caderneta de poupança teria rentabilidade superior àquela que
lhe é dada pelo Fundo Gestor, cujos interesses nem sempre convergem com o
dos trabalhadores. Ninguém melhor que o trabalhador para decidir no que
investir sua própria poupança. Nada mais justo, portanto, que conceder
ao trabalhador a possibilidade de usar seus próprios recursos da forma
que julgasse melhor, a qualquer tempo.
O fato é que no Brasil é muito caro empregar e demitir funcionários e
isso em nada contribui para elevar a competitividade da economia
brasileira. É louvável pensar em dispor de uma ampla rede de proteção
social, desde que seja possível mantê-la sem inviabilizar o progresso
das gerações futuras, que inexoravelmente, dada a resistência da geração
corrente em aceitar a nova realidade global, terá que pagar a conta,
possivelmente com juros e correção monetária.
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