A visita a Lewandowski confirma que Lula virou achacador de ministros do Supremo
O item 2 da nota do Instituto Lula sobre as revelações feitas pelo ministro Gilmar Mendes garante que “Luiz
Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas
decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a
ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do
Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi
presidente da República”. Faz de conta que sim.
Faz de conta também que merece crédito a primeira das duas frases que compõem o item 4: “A
autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre
foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos”. É na
segunda frase do tópico, suficientemente cínica para deixar ruborizado
até devotos da seita lulopetista com mais de cinco neurônios, que se
consuma a derrapagem espetacular: “O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público”.
Apaixonado pelo personagem que inventou, embevecido com o som da
própria voz, Lula embarca na gabolice em reuniões com companheiros,
acertos com aliados, papos de botequim ou conversas com porteiros do
prédio onde mora. Graças à loquacidade do falastrão vaidoso, sabe-se
agora que o protetor de pecadores assumiu o posto de lobista-chefe da
quadrilha do mensalão desde que deixou o Palácio do Planalto. Leia o que
escreveu em seu blog, nesta terça-feira, a jornalista Cristiana Lobo:
A preocupação de Lula com o julgamento do caso do
Mensalão, conhecida de todos no mundo político, aumentou com a chegada
de 2012 – ano do julgamento e, ainda, coincidindo com as eleições
municipais nas quais o PT deposita grandes esperanças de crescer,
particularmente, em São Paulo, antigo território adversário. Foi a
partir daí que ele incluiu o assunto em sua agenda prioritária do ano.
Fiel a seu estilo de falar muito e revelar seus passos políticos, mesmo
aqueles que exigem maior discrição, Lula contou o desejo de visitar o
ministro Ricardo Lewandowiski, ministro-revisor do relatório do
Mensalão, um amigo de sua família. E assim fez. No começo do ano,
acompanhado do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ele foi à casa de
Lewandowski e, conversa-vai-conversa-vem, chegou ao assunto: quando
será julgado o mensalão? Sua preocupação central… Depois dessa conversa
Lula passou a explicitar aos amigos políticos grande preocupação com a
dificuldade de se deixar o julgamento para o ano que vem. Ele diz
abertamente que considera inconveniente o julgamento do caso este ano.
Com elogios à casa de Lewandowski, num condomínio chique de São
Bernardo, Lula relatou a um aliado a pressão que o ministro vem sofrendo
para apresentar logo o seu voto-revisor. E mais: o temor de que essa
pressão de opinião pública possa afetar o conjunto do julgamento. Este é
Lula. Por bravata ou relatando a realidade, ele conta a amigos os seus
passos, até mesmo uns que deveriam ser inconfessáveis, como uma visita a
um ministro do Supremo Tribunal Federal no ano do julgamento mais
importante para sua história política – o caso que marcou negativamente o
seu primeiro mandato. Lewandowski ensaiou negar a conversa com Lula.
Mas, diante dos detalhes da conversa – a companhia do prefeito e os
elogios à casa – ele sorriu e disse: “ele é amigo da família”. De fato, a
mulher de Lula, Marisa Letícia, foi amiga da mãe do ministro, falecida
ano passado.
É muita desfaçatez. Além de confirmar a essência da conversa de Lula
com Gilmar Mendes, o texto acima reproduzido prova que um ex-presidente
da República exerce pelo menos desde janeiro o ofício de achacador de
ministros do Supremo. E explica por que Ricardo Lewandowski foi tão
longe nas manobras forjadas para adiar o julgamento do mensalão. Se
desse mais importância ao Estado de Direito, se soubesse rechaçar o
assédio de pedintes influentes, o revisor do processo teria apresentado o
relatório há muito tempo. O atraso deliberado resultou no episódio que
começa a transformar-se em crise institucional.
O julgamento dos mensaleiros já demorou demais. Caso não cumpra seu
dever nas próximas horas, Lewandowski transformará a toga de ministro do
Supremo na fantasia que disfarça um ministro do Lula. A exasperante
insistência em algemar o tempo, encarcerar a verdade e obstruir o avanço
da Justiça pode ser a gota que fará transbordar o pote até aqui de
náusea.
Augusto Nunes
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