domingo, 31 de março de 2013

seca: desolação e morte


SECA
Terminamos o mês de março e a situação é cada vez mais crítica em nossa região. Inúmeros municípios já vivenciam o colapso no abastecimento: Luís Gomes (quase dois anos), Antônio Martins, Pilões, Francisco Dantas e tantos outros. Outros tantos se encaminham para a mesma situação.

REBANHO DIZIMADO
A luta diuturna dos criadores para salvar algumas cabeças do rebanho é extenuante, sofrida e quase certamente inócua. O pequeno criador não tem como superar os entraves burocráticos criados para acessar linhas de empréstimos, quando consegue, até pela baixa capacidade de endividamento, os recursos servem apenas como paliativo. Muitos sacrificam o sustento da família para tentar salvar os animais, outros tantos, já caíram nas mãos de agiotas e, provavelmente, perderão as poucas posses que tem.

TRISTE SINA
Após anos de luta árdua, de sol a sol, perde-se praticamente tudo. Triste sina Severina.

O ÓBVIO ULULANTE
O fenômeno climático da seca é antigo, cíclico, previsível e pode-se conviver com ele de maneira sustentável, desde que se faça uso de soluções tecnológicas e alternativas adequadas. Esta foi uma das afirmativas de destaque feitas pelo chefe-geral da Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), Natoniel Franklin de Melo, em palestra sobre tecnologias da Embrapa aplicadas ao Semiárido, em audiência pública na Assembleia Legislativa de Sergipe, na terça-feira (26).

Franklin de Melo sabe, as autoridades sabem, todos sabem, o problema não é a seca em si, afinal, vivemos numa região semiárida. O fato perturbador é a falta de vontade política para executar as ações necessárias. E quais seriam tais ações?

Transcrevo outro trecho da palestra de Franklin de Melo:

“As variadas técnicas de captação da água da chuva, extração de águas subterrâneas e tratamentos para redução de sua salinidade, a construção de barragens subterrâneas, entre outras, são fundamentais para que as tecnologias agrícolas tenham sucesso”, reforçou.

O pesquisador defendeu medidas de natureza não emergencial, mas estruturantes e duradouras. “Num período de seca severa como estamos atravessando agora, não há muito o que se fazer a não ser se preparar para o longo prazo, com implementação de práticas que se tornem de fato políticas de Estado”, defendeu.

Temos instituições de pesquisa do calibre da EMBRAPA e conhecimentos acumulados para implantar ações estruturantes e duradouras. O que impede? Falta vontade política.

Reportagem sobre a palestra AQUI

PAU DOS FERROS
O colapso no abastecimento é só uma questão de tempo. O odor da água do reservatório da Barragem está cada vez mais insuportável e seria desejável a CAERN informar a sociedade a causa de tal situação. É proveniente de algum produto químico adicionado a água para tratamento? Caso seja característico da água remanescente do reservatório, qual é a causa? Cianobactérias? Material orgânico?

POÇOS
Não sei se é viável tecnicamente, mas não seria desejável realizar estudos para verificar a possibilidade de perfuração de poços profundos? Será que alguns poços profundos com uma vazão significativa não permitiriam melhorar a qualidade da água distribuída em nosso município e talvez viabilizar o funcionamento do sistema adutor a partir de Pau dos Ferros?

FRANCISCO DANTAS
Um poço perfurado no perímetro urbano apresentou ótima vazão, mas alguns cidadãos estão preocupados com a qualidade da água. O poço parece que tem uma profundidade superior a 50 metros, mas nada impede que sejam feitos testes para aferir a potabilidade da água e que a população usuária tome as medidas de precaução, como adicionar cloro na proporção adequada (funcionários da CAERN podem orientar o uso), filtrar a água e fervê-la. Ressalte-se: filtrar e ferver, filtrar somente não elimina impurezas.

FOME
Não assistimos nesta seca as cenas deprimentes de tentativas de saques nas cidades, mas se enganam aqueles que pensam que não existem pessoas passando fome. A situação é diferenciada, principalmente devido a universalização do Bolsa Família, mas temos sim pessoas passando fome. A comprovação é fácil e basta uma visita às áreas mais pobres das cidades e a zona rural. Os mais pobres são os que mais sofrem e, dentre estes, as crianças e idosos (o famigerado consignado reduziu drasticamente a capacidade de consumo destas pessoas).

DOENÇAS
A diminuição da renda disponível dos mais idosos (consignados e compra de ração por parte de alguns pequenos produtores) que resulta na diminuição do consumo de alimentos e até na compra de medicamentos, consumo de água não potável, armazenamento inadequado, além de outros fatores (intensificação do trabalho, desesperança, maior consumo de bebidas), têm refletido no aumento de doenças associadas as tais causas. É a seca, nem sempre como causa direta, mas subsidiária, em toda sua extensão: desolação e morte.

Não temos mais a repetição da tragédia humana imortalizada em tantas obras literárias, como a excelente “Morte e vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Não na mesma extensão, não da mesma forma, mas o sofrimento continua...

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