domingo, 9 de junho de 2013

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O SÉCULO XIX – LIVRO: A EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO DE MAURICE DOBB

Traços notáveis:
1. concepção de progresso como ‘lei da vida’ e a busca pelo aperfeiçoamento constante (contrapondo-se aos velhos entraves feudais / mercantilistas)
2. combinação de circunstâncias favoráveis a expansão capitalista:
Transformação técnica = + produtividade;
Aumento natural da população (proletariado);
Maiores investimentos;
Mercado em expansão;
Ou seja:
A partir de tais circunstâncias o sistema capitalista cria e recria as condições para sua expansão e consolidação.
OBSERVE: a expansão deixava a impressão que toda produção [oferta] criaria sua própria demanda = progresso contínuo [hipótese consagrada pela famosa Lei de Say].
Pode-se dizer que a Revolução Industrial compreendeu: 1) a mecanização da indústria e da agricultura; 2) a aplicação da força motriz à indústria; 3) o desenvolvimento do sistema fabril; 4) um sensacional aceleramento dos transportes e das comunicações; e 5) um considerável acréscimo do controle capitalista sobre quase todos os ramos de atividade econômica.
Entretanto:
No último quartel do século XIX já deixava dúvidas sobre a hipótese do crescimento contínuo.
Ficava cada vez mais evidente a desigualdade do ‘progresso’. As assimetrias eram visíveis entre os diversos setores industriais, dentro de alguns setores, entre regiões e países.
A verdadeira essência da transformação existente no período estava associada a utilização de máquinas movidas por energia que não fosse de origem animal e/ou humana.

Essa transformação modificou radicalmente o processo de produção:
Cresceu a divisão do trabalho;
O produtor humano teve que se adaptar aos ritmos e movimentos do processo produtivo, tornando-se uma espécie de extensão da máquina;
Passou a existir uma maior dependência de volumes crescentes de capital para financiamento das máquinas;
Maior disciplina no processo de produção.
OBSERVE: o papel desempenhado pelas invenções (p.263 e seguintes);
A proteção do Estado no início do processo para proteger o capitalista e a produção (p.264 a 266);
A coexistência com a pequena produção (p.265 a 269);
A formação e consolidação do proletariado (p.266 a 269);
A demonstração do papel das invenções para tornar a indústria atrativa para investimentos de capitais em escala crescente (p.269 a 274).
Com a hegemonia do capital industrial estabelecida os economistas da época propunham que a interferência do governo e/ou a insuficiência de oferta de trabalho poderiam congelar o progresso. Tinha-se uma visão bastante otimista sobre o crescimento econômico generalizado.
Esta visão implica:
Menos intervenção do Estado na economia (p.275) e;
Existência de mais trabalhadores e disponíveis das regiões industriais (mobilidade). (p.275 e 278).
O autor propõe a seguinte questão: de onde veio o capital e os capitalistas?
- do comércio e outras atividades pré-capitalistas (ver texto sobre acumulação primitiva de Marx);
- de novos empreendedores (capitalistas – p.281): muitos de origem humilde (arrendatários capitalistas; mestres artesãos; etc.) que conseguiram acumular riquezas. É importante observar que após esse movimento inicial as possibilidades para os pobres acumularem riqueza diminuíram sensivelmente.

SEÇÃO 2

O aperfeiçoamento técnico: Ampliou a produtividade, mas na visão marxista, tenderia a reduzir a taxa de lucros.
Como isso ocorreria?
A concorrência intercapitalista impõe ao capitalista buscar permanentemente a inovação, ou a substituição de trabalho vivo (capital variável) que transfere valor e cria mais valor por trabalho morto (capital constante) que apenas transfere valor. Em outros termos: a luta entre os capitalistas imporia a redução do trabalho vivo que, em última instância, constitui-se na única fonte capaz de produzir mais-valia.
Veja:
L = M/V / V/V + C/V
Legenda:
L – taxa de lucro; M – mais-valia; V – capital variável; C – capital constante.
Reescrevendo:
L = e / 1 + a
e – taxa de espoliação; a – composição orgânica do capital.
A crescente composição orgânica do capital (mais capital constante) resultaria na tendência a queda da taxa de lucro.
A tendência de queda da taxa de lucro seria contrabalançada pelo barateamento dos bens de consumo dos assalariados resultantes das inovações técnicas, pelo comércio exterior (ajuste espacial), pelo sistema de crédito, pelas sociedades anônimas (expansão financeira), aplicação tecnológica da ciência (abertura de novos setores industriais), barateamento dos elementos do capital constante, superpopulação relativa, etc.
OBSERVE: na análise marxista, embora considere as contratendências, a perspectiva é de existência de crises e de superação do modo de produção capitalista.

O autor passa a analisar a chamada Lei de Say e o papel desempenhado pelos mercados.
Como a produção [oferta] cria sua demanda, os mercados devem se expandir pari passu e toda renda deve ser consumida. A renda poupada seria igual aos investimentos (necessário para ampliar a produção).
O modelo supõe, portanto:
- perfeita coordenação entre a vontade dos que querem poupar com a vontade dos que desejam ampliar suas fábricas;
Pode-se dizer que tal suposição pudesse ser feita no período, entretanto, nos períodos mais recentes fica evidente o excesso de capacidade produtiva instalada (é inegável a existência de capacidade ociosa de diversos setores).
Fatores que induziram ao erro na formulação da lei dos mercados:
- a era do laissez faire que se consolidava; o crescimento populacional (redução da taxa de mortalidade); o uso crescente de máquinas; o boom de investimentos (ex.: ferrovias).
Existe limite para expansão contínua?
A solução seria a expansão contínua do consumo no mesmo grau.
Parece óbvio que a concentração de capitais em mãos de poucos, cujo consumo já se apresenta próximo do ponto de saturação e a existência de uma classe numerosa de pobres que tem seu consumo restringindo pela sua própria situação operarão como tendência poderosa para ampliar o hiato do consumo em relação ao crescimento de bens de capital (produção).

SEÇÃO 3
A grande depressão do final do século XIX (1873-1890): divisor de águas, pois marcou a distinção entre dois estágios do capitalismo. O primeiro vigoroso, com crescimento, prospero, otimismo, e o segundo com marcas de senilidade e decadência.
Causas?
- redução das oportunidades de investimentos (saturação?)
- consumo não acompanhou a capacidade de produção (subconsumo? Ou superprodução?)
* o fechamento da válvula de escape para investimentos de capitais no exterior determinou o reinvestimento na Inglaterra que, inicialmente, contribuiu para uma curta recuperação, de outro lado, o aumento continuado na ampliação da capacidade produtiva produziu pressão decrescente sobre os preços (superprodução).
Pode-se dizer que a grande depressão foi motivada por uma concorrência desenfreada (EUA: trustes, Alemanha: cartéis, Inglaterra: combinação) e de redução de preços.
Solução para exportações de capitais: novo imperialismo.
Diferenças do capitalismo que emergiu da grande depressão (Inglaterra):
- taxa de crescimento populacional mais lenta e acumulação de capitais acontecia mais depressa;
- aperfeiçoamento técnico em menor velocidade;
- termos de troca da Inglaterra com o resto do mundo menos favoráveis aos ingleses (crescimento dos outros países);

- classe trabalhadora mais organizada (sindicalismo inglês).

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