sábado, 22 de junho de 2013

Os mercados regionais


As grandes empresas brasileiras estão desperdiçando muitos recursos na promoção de seus produtos, e, ao mesmo tempo, perdendo inúmeras oportunidades de negócios, por desconhecerem a dinâmica dos mercados regionais do Brasil. Essa dinâmica depende de como evoluem, no médio e no longo prazo, três vetores fundamentais para cada região: o tamanho da população; o nível de produtividade geral; o padrão de distribuição de renda e de riqueza.

Usualmente, quando têm de alocar seus escassos recursos em publicidade ou em investimentos entre os diferentes municípios e regiões do país, as empresas são influenciadas por fatores casuísticos e aleatórios, tais como: o marketing político de estados e municípios, que muitas vezes vendem uma imagem distorcida de suas realidades econômicas e sociais; indicadores econômicos macrorregionais, que não espelham as diversidades locais e microrregionais; sinalizações da eventual expansão fortuita de mercados, que se realizam apenas no curto prazo, etc. Ficam, pois, expostas a quatro armadilhas: regionalizações desfocalizadas; ciclos de negócios regionais não sustentáveis; vulnerabilidades crônicas diante dos impactos da globalização econômica e financeira; políticas redistributivas de expansão limitada.

Em primeiro lugar, constata-se que, lado a lado com a vigorosa redução dos desequilíbrios de desenvolvimento entre as cinco macrorregiões brasileiras desde o início dos anos 1970, ocorreu também um aprofundamento dos desequilíbrios dentro de cada macrorregião e da maioria dos estados. Um exemplo: o Centro-Oeste participava, em 1975, com 3,6% do PIB brasileiro, pulando para 7,4%, em 2003. Grande parte desta expansão vem ocorrendo em atividades do agronegócio em Mato Grosso, onde, entretanto, dos 141 municípios, cerca de 100 tinham um PIB per capita inferior à média do PIB per capita brasileiro. Assim, um olhar microscópico para o interior da realidade do Centro-Oeste, como de qualquer macrorregião ou estado, poderá identificar áreas ou mercados em expansão, áreas em decadência, áreas economicamente deprimidas. Essa diversificação passa a exigir maior focalização sobre quais seriam as áreas de mercado mais apropriadas para definir as estratégias de marketing e de investimentos em cada macrorregião ou estado.

Em seguida, observa-se que cada base econômica dominante em diferentes regiões do país tem capacidade de gerar ciclos de negócios com características específicas e diferenciadas. Exemplos ilustrativos são as atividades de uso predatório dos recursos naturais não-renováveis em municípios onde um ciclo curto de prosperidade pode gerar ilusões sobre a emergência de novos mercados. Esses ciclos curtos ocorreram, por exemplo, nos municípios do Leste do Brasil com a exploração predatória da Mata Atlântica nos anos 1960 e 1970, e estão ocorrendo, atualmente, num grande número de áreas da Amazônia cuja prosperidade se faz à custa da destruição de sua biodiversidade.

Em terceiro lugar, registram-se os rebatimentos espaciais das políticas macroeconômicas que acabam distribuindo custos e benefícios diferenciados entre municípios e regiões do país em função, principalmente, das características estruturais de seus subsistemas econômicos. Neste sentido, a desregulamentação do comércio exterior brasileiro vem gerando custos sociais, em termos de redução de emprego e renda, nas localidades onde predominavam atividades de baixo nível de competitividade sistêmica, e benefícios líquidos para aquelas com maior potencial exportador que absorveram adequadamente os choques do processo de globalização.

Finalmente, áreas de mercado ilusórias podem emergir de políticas sociais compensatórias, cuja expansão pode não se sustentar do ponto de vista fiscal no longo prazo, por causa de seu custo de oportunidade econômica em termos do sacrifício dos indispensáveis investimentos públicos em infra-estrutura econômica, ou por causa de seu conflito político com os poderosos interesses do sistema financeiro em busca de incessantes ganhos reais sobre a rolagem da dívida pública mobiliária do governo federal. É, por exemplo, a situação da recente expansão de mercados regionais do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, que se apóia em volumosas e crescentes transferências governamentais de recursos para as famílias de baixa renda, com limitadas perspectivas de crescimento no longo prazo.

Ora, nesta multiplicidade de experiências da dinâmica regional, as empresas que distribuírem seus escassos recursos materiais, humanos e institucionais entre municípios e regiões do país num quase vôo cego, certamente tornar-se-ão vulneráveis e instáveis numa economia que se tem tornado cada vez mais exposta à concorrência internacional.

Fonte

HADDAD, PAULO R. Os mercados regionais. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=323726>.

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