Bicudo aqui em Martins não é besouro do algodão e cururu
não é bufonídeo. São apelidos dos eleitores de cada lado. Os bicudos são os
seguidores dos herdeiros políticos de José Fernandes e os cururus são os seus
adversários. O maior prazer de um não é seu sucesso, mas a desgraça do outro.
Juvenal é bicudo e Samuel é cururu.
São amigos, mas em ano de eleição ficam
intrigados por cerca de dezoito meses, até esquecerem a campanha. Ou melhor,
são inimigos de infância. Da pelada de bola de meia, jogo do triângulo, caça de
passarinho e outras presepadas do universo da meninice.
Dia desses, estavam
eles sentados no batente público que separa a lagoa da Rua das Pedras, num
período de amizade, quando vem nadando na sua direção um cará, peixe, viu? sem
o olho, que saltou da água e transformou-se num gênio. Os dois, assustados
ficaram sem voz.
O gênio identificou-se: “Sou um gênio desgarrado que teve sua
lâmpada furtada, ali no hospital abandonado, e posso realizar os sonhos de
vocês dois. Só que será apenas um desejo pra cada um”. Faltava decidir quem
desejaria primeiro. O gênio então resolveu que essa decisão ficaria como o mais
votado do grupo.
O bicudo resolveu que seu amigo cururu pedisse primeiro. O
cururu pensou em muita riqueza, casa, carro, o escambau. Mas não pediu nada
disso. Deu uma de esperto: “Eu quero o que ele pedir, em dobro para mim”. O
gênio assentiu e mandou o outro fazer o seu pedido. O bicudo também pensou em
riqueza, viagens, dinheiro muito. Mas a ideia de que tudo sairia em dobro para
o cururu, fê-lo desistir daquele sonho.
“Eu quero que o senhor arranque um dos
meus testículos”. Foi o pedido. Seria o dobro para o adversário. Esse é o
caráter da convivência dos eleitores de Martins.
Em vez de ricos e abastados,
saíram dali um roncolho e outro capado!
Por François Silvestre
Essa foi excelente e serve também para retratar
a ‘inimizade íntima’ entre os conhecidos bacuraus
e bicudos, em boa parte dos municípios da região oeste potiguar.
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