quinta-feira, 23 de abril de 2015

Petrobrás: corrupção e ingerência política nocautearam a gigante

Num primeiro momento, o mercado reagiu mal nesta quinta-feira à divulgação do balanço auditado da Petrobras, que mostrou que a empresa teve um prejuízo líquido de 21,6 bilhões de reais no ano de 2014, sendo que 6,2 bilhões correspondiam a perdas com corrupção. As ações da estatal abriram com uma queda significativa na Bovespa. Por volta das 10h18, as ações preferenciais (PN, sem voto) registravam baixa de 8,38%, valendo 11,89 reais. Puxada pelos papeis da estatal, a bolsa abriu em desvalorização, mas se recuperou e operava em alta de 1,30% por volta das 13, aos 55.324 pontos.
Depois das 11 horas, o recuo perdeu força e os papeis da estatal passaram a oscilar. Enquanto as preferenciais registravam queda de 3,9% por volta das 13h15, as ordinárias (ON, com direito a voto) tiveram alta, de 3%.
O documento, apresentado com cinco meses de atraso na noite desta quarta-feira, era aguardado com apreensão pelo mercado. E, a julgar pela desvalorização dos papeis nesta manhã, pode-se dizer que os investidores não receberam muito bem as informações de que a Petrobras teve perdas de 50,8 bilhões de reais no ano passado, devido aos desdobramentos da Operação Lava Jato e também da reavaliação no valor de ativos. Desse montante, a maioria se refere à desvalorização ativos (impairment), calculada em 44,34 bilhões de reais. E outra parte, de 6,2 bilhões de reais, diz respeito, especificamente, a perdas com corrupção.
O prejuízo de 21,6 bilhões de reais em 2014 é o primeiro resultado negativo desde 1991, quando a estatal reportou perdas de 1,16 bilhão de reais, em dados ajustados pela consultoria Economática. Em 2013, a companhia havia obtido um lucro de 23,6 bilhões de reais.
Durante a apresentação dos resultados, o presidente da companhia, Aldemir Bendine, reforçou que a Petrobras não pagará dividendos referentes ao resultado do exercício fiscal de 2014. A informação desagradou participantes do mercado. "O que alguns dos investidores estão querendo dizer é que a questão dos dividendos foi uma notícia negativa e ainda não se tem clareza a respeito do futuro da Petrobras. Ou seja, qual é o plano dela para sair do buraco", afirmou André Perfeito, da Gradual Investimentos.
Analistas também destacaram negativamente dados relacionados ao endividamento e perspectivas quanto ao fluxo de caixa, embora tenham considerado que a divulgação dos resultados auditados traz um "alívio".
Por meio de relatórios enviados a clientes nesta quinta-feira, instituições bancárias relatavam o seu descontentamento com os resultados financeiros da estatal. "Tudo isso nos deixa com a impressão de que a Petrobras irá continuar a ser 'mais do mesmo': fará apenas o necessário para garantir liquidez e recursos para executar investimentos, mas sem nenhuma urgência para alcançar fluxo de caixa livre positivo ou retornos elevados", escreveram os analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu, do Credit Suisse. "O investimento previsto é maior que os números que temos em nosso modelo, enquanto a produção sobe apenas 3% até 2016. Nós esperamos que o mercado leia isso negativamente", avaliou a analista Paula Kovarsky, do Itaú.
Perdas - No caso da corrupção, o número ficou dentro das estimativas do mercado. "A maioria dos analistas falava em perdas em torno de 5 bilhões de reais. A metodologia, que era a maior preocupação, não apresentou nada de novo", avaliou Daniel Marques Pereira, analista da Gradual Investimentos. A Petrobras explicou que listou os 31 contratos firmados por 27 empresas citadas nas investigações da Operação Lava Jato, entre 2004 e 2012, e aplicou o porcentual de 3% de propina sobre todos os pagamentos feitos.
Já o prejuízo com a reavaliação no valor ativos, devido a problemas de gestão e a variáveis de mercado - como câmbio, queda do preço do petróleo e demanda por combustíveis - destoou ante o esperado, que ficava em torno de 20 bilhões de reais. Segundo Pereira, o valor elevado pode ser explicado pelo fato de o impairment ter sido calculado de uma só vez. "A maior parte dessas perdas são relacionadas às refinarias de Abreu e Lima, em Pernambuco e do Comperj, no Rio de Janeiro. Ouvimos críticas sobre o valor orçado para esses empreendimentos há anos, e a Petrobras nunca tinha se movimento para fazer o cálculo delas", disse. No caso do Comperj, a perda foi estimada em 21,8 bilhões de reais, e de Abreu e Lima, 9,1 bilhões de reais.
Agora, os investidores estão atentos à teleconferência de apresentação dos resultados, que começou às 11h. Em paralelo, monitoram o depoimento à CPI da Petrobras do primeiro empreiteiro envolvido na Lava Jato, Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, que será questionado sobre o conteúdo de sua delação premiada à Justiça Federal.
veja.com

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