domingo, 31 de maio de 2015

AL-RN: DÉCADA DE 1950 - "intensidade de debates, nível intelectual, diversão dialética"

Encerrando o período de turbulência, após o Estado Novo, vira-se mais um capítulo na história política potiguar. Cascudo narra a campanha que culminaria na eleição do próximo governador: 

“A décima-sétima legislatura, Constituinte e Ordinária, 1947-1951, instala-se a 31 de julho, promulgando a Constituição em 25 de novembro. Encerrou os trabalhos a 31 de janeiro de 1951, Presidiu a Constituição o médico Pedro Soares de Araújo Amorim, e a ordinária o Vice-Governador Des. Tomás Salustino Gomes de Melo.  Essa Assembleia empossou o Governador José Augusto Varela, severo, reto, íntegro, um dissolvido de outubro de 1930. Prefeito de Natal, Deputado Federal, terminado o mandato desceu as escadas do Palácio e foi reocupar o seu posto de médico no interior, mais pobre que antes por ter vendido a propriedade rural para despesas imprevistas. Concorrera o Des. Floriano Cavalcanti de Albuquerque, a mais alta cultura filosófica e socióloga do Estado, magistrado conspícuo, tribuno brilhante, vida sem nódoa. Prélio em campanha intensa, apaixonada, trepidante e sem lama, palavrada e caco de vidro. A batalha irmanou-os em cordial estima pessoal, às avessas do consuetudinário brasileiro”.

Relembra Câmara Cascudo: “Os dez anos sem deputados funcionaram como contra-prova e excitação mental, estágio concentrador e tenacidades, interstício para promoção. Os ‘dissolvidos’ de pouca densidade diluíram-se nas desilusões, enfados, preguiça de lutar. Os de boa polpa resistente, conservaram a vocação como um voto rancoroso de represália”. E completa a seguir: “Getúlio Vargas foi deposto em 29 de outubro de 1945. O presidente do Supremo, José Linhares, mandou proceder a eleição geral de 2 de dezembro, trazendo o general Eurico Gaspar Dutra, honesto, simples, bom para o aranhol do Catete, viveiro de moscas com fome canina. Em 19 de janeiro de 1947 é que tivemos eleição para Governador em voto direto e coletivo. A mais recente datava de vinte anos, 1927, para Juvenal Lamartine. O mapa político do Rio Grande do Norte dividia-se entre pessedistas e udeistas. O P.T.B. avançava lentamente apesar da simpatia propagada. Não era abundante a matéria prima utilizável. Os dois mentores, José Augusto Bezerra de Medeiros e José Georgino Alves Avelino, da União Democratica Nacional e Partido Social Democrático, dispunham das hostes eleitorais”.

Essa 17ª legislatura configura na história parlamentar do Rio Grande do Norte “uma das mais sugestivas pela intensidade de debates, nível intelectual, diversão dialética. O programa dos trabalhos normais não ocuparia o espaço mental disponível naquelas inteligências inquietas, estudantes de seiva sem frutificação imediata. Governistas e Oposicionistas recorrem a inflação retórica na ausência de plano objetivo de realização concreta. O público, normalmente desinteressado, repletava as galerias, acompanhando os duelos ou escaramuças grupais com a atenção alerta e esportiva de campeonato olímpico. Os comentários prolongavam na cidade o rumor dos embates e a repercussão deliciada das respostas felizes, que pareciam eternas, mas ninguém as recorda mais. Adiava-se encontro comercial para não perder-se um discurso, com prometidos apartes contundentes. Em certos momentos os oradores dirigiam-se à assistência aclamadora como um comício”.

Destacam-se líderes como Manuel Varela de Albuquerque, “magro e nervoso, enfrentando o turbilhão, sem pausa e sem receio”. Câmara Cascudo retrata o clima da época assim: “Proclamada a candidatura de Dix-Sept-Rosado, contra a de Manuel Varela, a Assembleia voltou ao clima frenético de 1935, inoperante e atroadora como trovoada de verão. Não posso nem devo citar os tribunos porque seria indesculpável a involuntária omissão que desejo evitar. Pela primeira vez  a sedução ácida de um impeachment (26 de janeiro de 1951) desdobrava as asas tumultuosas. É desviado, mas o Governador maguado, passa o exercício do cargo na véspera da posse do eleito Dix Sept e este recebe a investidura pela voz do Des. Carlos Augusto Caldas da Silva, presidente do Tribunal de Justiça, que se gabaria de ter sido o Governador sem despesas. Áulicos e demissões”.


TRIBUNA DO NORTE

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