segunda-feira, 29 de junho de 2015

câncer pediátrico: PRIMEIRA CIRURGIA COM USO DE ressonância magnética dentro da sala de cirurgia

Falta tudo na saúde brasileira, menos indignação. Não basta apenas reclamar. Isso pode até chamar atenção para problemas individuais, mas não promove as mudanças necessárias para melhorar o bem-estar coletivo. É preciso saber fazer.
Acredito no inconformismo de resultados. Poucas pessoas o encarnam tão bem quanto o oncologista Sérgio Petrilli, fundador do GraaccGrupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer, em São Paulo. Pode ser que você não conheça essa ONG, mas provavelmente já ouviu falar do McDia Feliz, das corridas contra o câncer e de outros eventos de sucesso, todos destinados a arrecadar dinheiro para a instituição.

Sérgio é um inconformado. “Não podemos aceitar que as crianças morram de câncer só porque são brasileiras”, ele me disse um dia. Sérgio sabe fazer. O Graacc tem uma enorme área de captação de recursos. Várias empresas doam à instituição parte do Imposto de Renda devido. Inúmeras campanhas criativas fazem crescer as doações da sociedade. 
Com R$ 10 milhões doados por duas fundações e uma grande empresa, a instituição construiu um novo centro cirúrgico. Na semana passada, tornou-se a primeira unidade especializada em câncer pediátrico na América Latina a ter uma máquina de ressonância magnética dentro da sala de cirurgia. Para isso, foi preciso blindar as paredes, a porta, o piso e até o teto, para barrar ondas eletromagnéticas.
A primeira cirurgia no novo centro cirúrgico do Graacc (Foto: Divulgação)












É mais um grande passo de uma instituição de alto nível feita para todos. Cerca de 80% dos pacientes são do SUS. O novo equipamento vai aumentar a segurança e a precisão das cirurgias de remoção de tumores cerebrais. Durante a primeira operação, realizada pela equipe do neurocirurgião Sérgio Cavalheiro num garoto de oito anos, os médicos realizaram várias tomadas de ressonância magnética para ter certeza de que todo o tumor estava sendo removido.
Sem essa tecnologia, pelo menos 30% dos pacientes precisam enfrentar uma nova operação. É um sofrimento para o doente, a família e os médicos quando as imagens realizadas no dia seguinte (ou algumas semanas depois) revelam que o tumor não fora extraído completamente.
Os tumores de cérebro são o segundo tipo de câncer mais  comum na infância, atrás apenas da leucemia. Neste ano, devem surgir 2,8 mil casos novos no Brasil. Os sintomas principais são dores de cabeça, vômitos, alterações motoras e de comportamento e paralisia de nervos.
Que essas crianças possam receber diagnóstico rápido e acesso a tratamento de qualidade. As múltiplas peneiras do agendamento que dificultam a triagem dos pacientes, a realização dos exames e o início dos atendimentos é a face mais cruel da saúde pública.
O SUS vive uma enorme crise de financiamento, mas não pode fechar as portas. Segue administrando a corrida de obstáculos que afunila a chegada ao sistema. Uma insanidade que mata ou agrava a saúde de grande parte dos pacientes antes que eles consigam ver um cirurgião pela primeira vez.
Garantir saúde de qualidade é obrigação do Estado, mas não só dele. O Graacc é um caso de sucesso baseado em três pilares: boa gestãoexcelência médica e científica voluntariado organizado. Poderia ser reproduzido em qualquer lugar do Brasil. Espero que esse exemplo inspire outros inconformados a persistir na busca de resultados.   

REVISTA ÉPOCA

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