quinta-feira, 16 de julho de 2015

A saída para o rn é o mar

Antonio-Alberto Cortez
Professor da UFRN/Subsecretário de Pesca e Aquicultura da SAPE-RN

Estrategicamente plantado na esquina do continente sul-americano, o Estado do Rio Grande do Norte apresenta-se, não de costas, mais frente ao mar delineado por uma linha de 410 quilômetros de litoral. 

Uma estreita faixa submersa denominada plataforma continental nos aproxima sobremaneira das profundezas abissais, condição essa favorável às lides da pesca oceânica e catalogada como um dos diferenciais evidenciados no elenco das vantagens comparativas do RN no acirrado mapa da competição pesqueira. 

Mas, além dos aspectos geográficos favoráveis dispomos de uma saudável teimosia que leva adiante por maiores que sejam os percalços, geralmente fabricados, à pesca oceânica. A persistência dos que formam nosso Polo Atuneiro materializa-se na performance, no desempenho operacional que nos coloca na condição de maior exportador de atuns e espadartes do Brasil. 

Importante lembrar que não atingimos sequer metade das cotas de captura concedidas ao país pela Comissão Internacional para Conservação do Atum Atlântico – ICAAT, organismo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO responsável pelo ordenamento da pesca no Oceano Atlântico e mares afins.

O Rio Grande do Norte passa, no momento, por uma grande provação face a quadra de estiagem iniciada em 2012 com perspectiva de prolongamento até 2016, ou até 2017. Nossa agricultura de sequeiro está dizimada pelas secas enquanto a alternativa representada pela produção agrícola irrigada começa a colapsar diante da necessidade premente de priorizar o uso da água para o abastecimento humano. 


Restam as águas subterrâneas para manter irrigados alguns projetos agrícolas. Mesmo assim, em certas áreas, os poços tubulares não mais respondem à demanda diante da exaustão do aquífero. Parte das águas represadas desapareceu em razão de consumos diversos, inclusive desperdício; outra evaporou-se na tentativa de matar a sede do astro rei. 

Levemos em conta, também, que parcela significativa deixou de ser armazenada pela total ausência de manutenção dos açudes que, anos a fio sofrem um processo de assoreamento constante e, consequentemente, a redução de suas capacidades de acumulação. Desnecessário, pois, reafirmar que o RN vive uma crise. Mas, temos o mar. Essa imensidão verde-azul que nos rodeia ao Norte e a Leste convida para novos desafios. E, em se tratando de pescarias temos uma vocação natural ao ato pesqueiro. 

O Polo Atuneiro de Natal, sediado na Rua Chile, após uma retração em 2013/2014, gradualmente sinaliza impulsos crescentes. As exportações relativas ao primeiro semestre deste ano comparados com as do mesmo período de 2014, indicam expressivo incremento de 65% no ingresso de dólares, enquanto o volume exportado superou 50%. 

Importante lembrar que teremos, no presente exercício, três meses de intensas pescarias face o início da safra de atuns em outubro próximo, a qual se estenderá até fins de março de 2016. Também está previsto um acréscimo de barcos à frota ora em operação. 

As boas perspectivas estão justificadas, inclusive, por sediarmos em Natal empresas com estruturas de gestão compatíveis com avançados padrões de modernidade técnica, operacional e gerencial, portanto detentoras de competitividade adquirida ao longo de anos de experiência. 

Falta, no entanto, a conclusão do Terminal Pesqueiro, estrutura basilar para atrair novas frotas e manter o crescimento da produção pesqueira. Também preocupa o reduzidíssimo quadro de fiscais do Ministério da Agricultura responsáveis pela inspeção e certificação do peixe a ser exportado. 

Entretanto um fator positivo e relevante a ser considerado é a resolução da logística de recepção e embarque do pescado no Aeroporto Aluísio Alves através das modernas instalações do TECA – Terminal de Cargas, embora reconheçamos algumas limitações como a insuficiente, mas momentânea, oferta de voos. 

Com certeza, caso tenhamos aqui o HUB da LATAM, haverá maior conectividade e, portanto, novas rotas deverão ser estabelecidas, o que será fundamental para que a economia do Rio Grande do Norte conheça um ciclo de expansão mais firme, produtivo e duradouro.

TRIBUNA DO NORTE

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