quinta-feira, 26 de novembro de 2015

energia eólica: redução de investimentos por falta de linhas de transmissão e escoamento da geração

O Rio Grande do Norte – maior gerador de energia eólica do país – tem visto seu poder de atração para novos investimentos cair nos últimos meses. O motivo é um problema até então solucionado, mas, que tornou-se novamente um limitador: linhas de transmissão e escoamento da geração. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a conexão tem sido dificultada pelo maior distanciamento das ligações com o Sistema Interligado Nacional (SIN) e pela complexidade dos processos, que, além da questão geográfica, tem envolvido dificuldades jurídicas e falta de interessados no segmento.
Junior SantosLinhas para escoamento de energia gerada em parques eólicos, no RN: Conexão é desafio no estadoLinhas para escoamento de energia gerada em parques eólicos, no RN: Conexão é desafio no estado

Nesta semana, o assunto foi discutido em Natal pela ABBEólica com o governador Robinson Faria (PSD), o secretário de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Flávio Azevedo, e por representantes do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema). “O encontro fez parte de um trabalho que vem sendo realizado com os Estados produtores de energia e com potencial para isso, visando aproximar o setor do Poder Executivo Estadual, para mostrar os pontos fracos e fortes de cada região, em termos de atratividade, competitividade e infraestrutura”, explicou a presidente executiva da ABBEólica, Elbia Gannoum. 

Conforme Elbia, apesar de se considerar a conexão “o grande desafio” do setor, não é possível depositar a responsabilidade em apenas um ator econômico. “No que se refere à infraestrutura de transmissão, a decisão é dos leilões federais e dos investidores interessados neste segmento. Mas, os Governos Estaduais podem contribuir neste diálogo com o assunto, para criar novas condições de negócios”, explicou a presidente da ABBEólica, destacando a tímida participação potiguar também no último leilão de energia de reserva. O RN teve apenas um empreendimento vencedor, com 23,20 MW, contra 18 projetos acertados para a Bahia, que somaram 493 MW. 

Elbia Gannoum salientou, no entanto, que esta diferença não significa um “disparada” da Bahia em relação aos outros Estados produtores de energia. “Ela vendeu os últimos projetos com linhas (de transmissão). A situação atual é que não há disponibilidade (de linhas) para nenhum Estado. É um problema de todos”, afirmou. Para ela, o problema é a revitalização dos leilões. “Hoje, não há certame sem conexão garantida. E, por atrasos que ocorreram em 2013, temos um gap temporal. As construtoras, que já tem uma carteira muito grande de linhas, não estão participando dos leilões, porque precisam adiantar os projetos em execução”, pontuou.

Tal preocupação vem sendo discutida também pelo Ministério de Minas e Energia. Em coletiva na semana passada, o ministro da pasta, Eduardo Braga, não descartou a possibilidade de incorporar, nos contratos de concessão de futuros leilões de energia, as linhas de transmissão aos parques eólicos. Na prática, o projeto contratado teria geração e escoamento sob própria responsabilidade. Sobre o menor número de interessados, Braga declarou que as grandes companhias “chegaram ao seu limite de endividamento e gerenciamento. Então, nós temos que concluir boa parte dos contratos para voltar a ter capacidade”. 

A reportagem da TN tentou apurar a quantidade de novas linhas de transmissão necessárias para suprir a atual demanda potiguar e qualificar novos investimentos no Estado, mas, o Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outras fontes procuradas não dispunham desses  dados. A necessidade de  investimentos na  área também não foi divulgada, sob o argumento de que os projetos variam de região para região, distância e complexidade de instalação. A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), principal responsável pelas conexões no Rio Grande do Norte, foi procurada, mas, até o fechamento desta edição, não respondeu aos questionamentos. 

Porto e licenças também são vistos como gargalosO Rio Grande do Norte, além das linhas de transmissão, tem outras dificuldades de escoamento, como  a necessidade de utilizar transporte terrestre, e atrasos em licenças do Idema. Apesar disso, segundo a Sedec, são limitadores que independem do poder estadual. De acordo com o titular da pasta, Flávio Azevedo, a falta de infraestrutura do Porto de Natal, a celeridade das análises do Idema dependem de novos investimentos, que não estão previstos. Quanto as conexões eólicas, não há interessados.

“Nós tínhamos um problema interno, antigo, pois, não havia subestações para interligar as linhas ao sistema. O empresário tinha que ter um ponto público para entregar sua produção. E, hoje, basicamente, são três estações, em Assu, em João Câmara e um próxima à Natal. E elas foram ampliadas. Só que agora, surgiu uma novidade. Uma linha grande, que liga Campina Grande à Garanhuns, lotou, por diversos Estados que entraram com novos projetos”, explicou Flávio Azevedo.

Licitações
E acrescentou: “o único prejudicado direto, porém, foi o Rio Grande do Norte, porque os outros Estados conseguem escoar sua produção por caminhos alternativos, por dentro do Sertão. A nossa, de Assu para baixo, só pode escoar por esta linha. Mas, nos últimos leilões da EPE, não houve interessados em licitações para estes projetos, porque o licenciamento ambiental, os conflitos fundiários da terra, ficam para os empresários”. 

Já sobre o licenciamento do Idema e as ampliações do Porto de Natal, Azevedo declarou os responsáveis estão fazendo o possível. “O Idema tem se comprometido em agilizar as análises, mas, assim como o restante do país, falta pessoal para o órgão. Já no porto, falta estrutura para descarregamento das pás e dos aerogeradores, o que gera a necessidade de utilizar o Porto de Pecém e Suape. Houve um avanço, mas, não se resolve sem investimentos”, salientou. 


TRIBUNA DO NORTE

Nenhum comentário:

Postar um comentário