quarta-feira, 18 de maio de 2016

NORDESTE EM CHAMAS

A sequidão provocada pela falta de chuvas contribuiu para um aumento substancial na quantidade de queimadas nos estados do Nordeste. Na comparação com o ano anterior, 2015 registrou um avanço de quase 50% na ocorrência de queimadas no Nordeste contra 28% no país como um todo.
Jose Cruz/Agência Brasil.
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O fogo nas áreas de cerrados é uma constante no Nordeste.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou os números relativos às queimadas ocorridas no Brasil ano passado. A quantidade de focos no Nordeste aumentou 48% na comparação com 2014, passando de 47,1 mil para 69,7 mil, o equivalente a um terço de todo o Brasil.
De acordo com o INPE, o total de queimadas no país, em 2015, alcançou 236,3 mil, 28% a mais que no ano anterior quando somou 183,6 mil. Foi o maior quantitativo desde 2010.
Os dados do INPE mostram que as maiores ocorrências de incêndios no Nordeste, no ano passado, foram registradas em municípios do Maranhão e da Bahia. Nesses dois estados, que são os maiores polos do agronegócio regional, os focos somaram 48,5 mil.
Isoladamente, o Maranhão respondeu por quase metade (43,2%) de todos os incêndios ocorridos no Nordeste, totalizando 30,1 mil focos detectados.
Todos em alta
Na comparação com o período janeiro a dezembro de 2014, nenhum estado nordestino conseguiu reduzir o número de incêndios florestais. Em todos eles, houve crescimento substantivo em termos relativos com destaque para os estados de Alagoas (+210%), Sergipe (+187%) e Bahia (135%).
Em termos absolutos, os avanços mais representativos foram na Bahia (de 7,8 mil para 18,4 mil focos), Piauí (de 9,5 mil para 14,7 mil) e Maranhão (de 25,4 mil para 30,1 mil).
Em âmbito nacional, os destaques foram para os estados do Pará, com 44 mil focos, e Mato Grosso, com 32 mil.
A tabela abaixo indica o cenário dos focos de queimadas no Nordeste entre 2014 e abril deste ano, a partir do monitoramento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

ESTADO
QTDE.2016*
QTDE.2015
QTDE.2014
VAR.% 2015/14
Maranhão
909
30.137
25.435
18,4
Piauí
263
14.730
9.584
53,6
Ceará
121
3.420
2.512
36,1
Rio Grandedo Norte
18
439
353
24,3
Paraíba
24
586
442
32,5
Pernambuco
52
1.082
660
63,9
Alagoas
56
590
190
210,5
Sergipe
68
299
104
187,5
Bahia
1.130
18.397
7.819
135,2
NORDESTE
2.641
69.680
47.099
47,9
BRASIL
16.699
236.371
183.693
28,6
Fonte: INPE. (*) Até 21abr.
Repeteco em 2016
A quantidade de focos de queimadas nos estados do Nordeste entre janeiro e abril deste ano é semelhante àquela observada no mesmo período de 2015. Na posição de 21 de abril, o INPE indicava um total de 2.641 incêndios ante 2.791 no primeiro quadrimestre do ano passado.
Este ano, o maior número de focos ocorreu na Bahia. Foram 1.130 incêndios de janeiro até 21 de abril contra 818 nos primeiros quatro meses de 2015. Em seguida aparecem: Maranhão (909 x 761), Piauí (263 x 215), Ceará (121 x 255), Sergipe (68 x 168), Alagoas (56 x 222), Pernambuco (52 x 210), Paraíba (24 x 75) e Rio Grande do Norte (18 x 67 incêndios).
No Nordeste de queimadas é mais acentuada entre outubro e janeiro quando a vegetação se apresenta mais seca, a umidade relativa do ar baixa, a temperatura se eleva e os ventos sopram com maior intensidade. l.
El Niño e esperança
Vale salientar que no ano passado, foi divulgado um estudo feito por cientistas da NASA e da Universidade da Califórnia indicando o risco de aumento das queimadas na região Nordeste e na parte oriental da Amazônia, em consequência do El Niño, fenômeno associado à elevação da temperatura das águas superficiais do oceano Pacífico.
Segundo os cientistas, o Maranhão, cujo território abrange parte da Amazônia Legal e parte do Nordeste, era o estado com maior risco de queimadas em 2015, ao lado de Mato Grosso e Pará, o que, de fato, se confirmou.
Um outro estudo, feito na Universidade Estadual Paulista (UNESP), traz um certo alívio para as áreas constantemente afetadas pelos incêndios. A bióloga Alessandra Fidelis e suas colegas Betânia Santos Fichino, Julia R. G. Dombroski e Vânia R. Pivello, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, mostraram que a vegetação do cerrado - que ocupa grande parte dos estudos do Piauí, Maranhão e Bahia – apresenta resistência às queimadas.
Conforme os pesquisadores, ao contrário do que seria esperado, não foram encontradas evidências de que a exposição à fumaça e altas temperaturas favoreça a quebra da dormência e a germinação das sementes do cerrado. Ao mesmo tempo, o estudo comprovou que a maioria das sementes resiste às altas temperaturas, ou seja, resiste à passagem do fogo.
As experiências focaram algumas espécies, em particular: Chamaecrista sp. (Fabaceae), Hyptis velutina e H. Crenata (Lamiaceae), Vellozia glauca(Velloziaceae), e Abolboda poarchon e Xyris hymenachne (Xyridaceae), todas elas comuns no cerrado e sujeitas às queimdas freuentes que ocorrem nesse tipo de vegetação.
Para Alessandra Fidelis, os resultados sugerem que, pelo menos quanto às espécies estudadas, a exposição ao fogo não propicia a aceleração da germinação. A constatação mais importante do trabalho foi verificar que a maioria delas resistiu à exposição acima de 100ºC não sendo afetada, portanto, pela passagem do fogo no cerrado.
Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos no site da Fapesp e no site onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/btp.12276/abstract

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