Após ser citado no acordo
de delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado como
beneficiário de propina, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), pediu demissão do cargo na tarde desta quinta-feira (16), informou a
assessoria do Palácio do Planalto.
Ele é alvo de dois pedidos de inquérito apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF)
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para investigar suspeita de
envolvimento do peemedebista na Lava Jato.
Em depoimento à
Procuradoria Geral da República (PGR), o ex-presidente da Transpetro relatou
ter repassado a Henrique Alves R$ 1,55 milhão em propina entre 2008 e 2014.
Em pouco mais de um mês de governo Michel
Temer, esta é a terceira demissão de ministros em razão de envolvimento no
esquema de corrupção que agia na Petrobras investigado pela Lava Jato. Antes de
Alves, haviam sido demitidos os ministros Romero
Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência).
De acordo com Sérgio Machado, a propina foi
paga ao ministro do Turismo da seguinte forma: R$ 500 mil em 2014; R$ 250 mil,
em 2012 e R$ 300 mil em 2008. Os valores foram repassados, segundo ele, pela
Queiroz Galvão. Outros R$ 500 mil foram pagos em 2010 a Alves, pela Galvão
Engenharia, de acordo com a delação.
Os recursos eram entregues por meio de
doações oficiais, mas eram provenientes, conforme o delator, de propina dos
contratos da subsidiária da Petrobras. Sérgio Machado detalhou que Henrique
Alves costumava procurá-lo com frequência em busca de recursos para campanha.
Por meio de nota,
Henrique Alves afirmou nesta quarta que todas as doações para as campanhas dele
foram oficiais, e as prestações de contas aprovadas pelo Tribunal Superior
Eleitoral.
O peemedebista
ressaltou ainda que, nas eleições de 2008 e 2012, como presidente de partido,
os "eventuais pedidos de doações foram para as campanhas municipais,
obedecendo a lei vigente, sempre com registro na Justiça Eleitoral". Por
fim, o ministro disse que estava à disposição da Justiça, "confiante que
as ilações envolvendo o seu nome serão prontamente esclarecidas".
Procurada nesta
quarta-feira (15), a Galvão Engenharia diz que não vai se pronunciar sobre as
suspeitas.
Demissão por telefone
Segundo o G1 apurou,
Temer se reuniu na noite desta quarta-feira (15) com o ministro do Turismo, dia
em que foi tornado público o conteúdo da delação de Machado.
Na tarde desta quinta,
relataram assessores palacianos, Henrique Alves telefonou para o presidente em
exercício para comunicar sua decisão de deixar o comando do Ministério do
Turismo. Mais tarde, ele enviou uma carta na qual formalizou o pedido de
demissão.
No documento
encaminhado a Temer, o ministro demissionário afirmou "que o momento
nacional exige atitudes em prol do bem maior".
"O PMDB, meu
partido há 46 anos, foi chamado a tirar o Brasil de uma crise profunda. Não
quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas
próprias palavras, de salvação nacional. Assim, com esta carta entrego o
honroso cargo de Ministro do Turismo", escreveu.
Carta de emissão entregue por Henrique Eduardo Alves ao deixar o Ministério do Turismo, nesta quinta (16) (Foto: Reprodução)
'Propina disfarçada'
Henrique Alves é alvo
de dois pedidos de investigação na Operação Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF). O relator dos processos, ministro Teori Zavascki, ainda não
autorizou a abertura dos inquéritos para investigar o peemedebista.
Num dos pedidos, a
Procuradoria Geral da República quer apurar se, junto com Eduardo Cunha, Alves
beneficiou a construtora OAS em propostas legislativas na Câmara. A suspeita
surgiu de trocas de mensagens com Léo Pinheiro, presidente afastado da
construtora.
O outro pedido busca
incluir Henrique Alves dentro do maior inquérito da Lava Jato, que investiga
toda a organização criminosa que desviou recursos da Petrobras. A suspeita é
que o ex-ministro tenha sido beneficiado com pagamentos de propina desviada de contratos
da estatal.
O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, afirmou que há elementos da participação do
agora ex-ministro do Turismo em irregularidades apuradas pela Lava Jato e
suspeita de recebimento de propina "disfarçada de doações oficiais".
A informação consta de
pedido de abertura de inquérito enviado ao Supremo no fim de abril. O teor
estava sob sigilo, mas foi revelado em reportagem do jornal "Folha de
S.Paulo". A TV Globo também obteve acesso aos dados.
Perfil
Henrique Alves tem 67
anos e é deputado federal há 11 mandatos consecutivos, de 1971 a 2015, todos
pelo PMDB do Rio Grande do Norte. Entre 2013 e 2015, foi presidente da Câmara
dos Deputados.
Em 2014, concorreu ao
cargo de governador do Rio Grande do Norte. No primeiro turno, teve 78.582
votos a mais que seu adversário Robinson Faria. No segundo turno, no entanto,
houve a virada, e o peemedebista foi derrotado, com 45,58% dos votos.
No início de 2015,
quando a presidente Dilma Rousseff tomou posse no segundo mandato, havia a
expectativa de que ele fosse convidado para ser ministro. Mas isso não se
confirmou.
Em abril daquele ano,
ele foi chamado para substituir Vinícius Alves no Ministério do Turismo.
No discurso de nomeação, Dilma afirmou que Henrique Alves desenvolveria “ainda
mais” o turismo no Brasil e reforçou a importância do cargo, devido à
proximidade da Olimpíada.
Eduardo Cunha, então
presidente da Câmara dos Deputados, elogiou o companheiro de partido. “É um
orgulho para qualquer governo ter o Henrique em seu ministério”, disse.
Alves pediu demissão a
Dilma em março deste ano, um dia antes de o PMDB anunciar o rompimento com seu
governo.
Demissões do governo Temer
Em 35 dias do governo
provisório de Michel Temer, três ministros já tiveram de deixar o primeiro
escalão em razão do impacto das investigações da Operação Lava Jato: Romero
Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Alves
(Turismo).
Jucá caiu da Esplanada
dos Ministérios uma semana e meia após ser nomeado para o comando do
Planejamento. Investigado na Lava Jato e em outro processo no Supremo, o
senador do PMDB foi gravado pelo ex-presidente da Transpetro propondo um
"pacto" para barrar as investigações de irregularidades na
estatal do petróleo.
Fabiano Silveira foi
flagrado em conversas gravadas por Sérgio Machado criticando a Lava
Jato e dando orientações de defesa ao presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e ao próprio ex-presidente da Transpetro, ambos
investigados por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção que atuava na
Petrobras. As gravações foram exibidas em reportagem exclusiva
do Fantástico.

![[USAR MATÉRIA] Combinação de fotos mostra, da esquerda para a direita: Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Fabiano Silveira, ex-ministro da Transparência e Henrique Eduardo Alves, ex-ministro do Turismo (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo; Geraldo Magela/Agência Senado; Marcelo Camargo/Agência Brasil) [USAR MATÉRIA] Combinação de fotos mostra, da esquerda para a direita: Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Fabiano Silveira, ex-ministro da Transparência e Henrique Eduardo Alves, ex-ministro do Turismo (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo; Geraldo Magela/Agência Senado; Marcelo Camargo/Agência Brasil)](http://s2.glbimg.com/Lj0ZIHCSRewGY8L8IZg9H1p7v70=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/06/16/materia.jpg)

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