quinta-feira, 30 de junho de 2016

Operação Saqueador: Carlinhos Cachoeira, Delta, gangue dos guardanapos...

Presos na Operação Saqueador, o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e um ex-diretor da empresa Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, foram transferidos na tarde desta quinta-feira (30) para o Rio de Janeiro, sede das investigações. Após 5 horas de espera no Aeroporto Santa Genoveva, eles partiram às 13h18 em um voo comercial, acompanhados de quatro agentes da Polícia Federal.
Os presos chegaram ao aeroporto por volta das 7h20. Um vídeo exclusivo da TV Anhanguera mostra o momento em que Cachoeira entrava no terminal em um carro da Polícia Federal. Ele e Abreu foram detidos nos condomínios de luxo em que moram, em Goiânia.
Segundo a Polícia Federal, eles deveriam ter seguido às 8h02 em um voo comercial para o Rio de Janeiro. No entanto, o avião demorou a decolar por causa de problemas meteorológicos no aeroporto de destino, conforme informações do site da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Realizada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, a operação visa prender pessoas envolvidas em um esquema de lavagem de R$ 370 milhões desviados dos cofres públicos. Também são alvo da operação o empresário Adir Assad e Fernando Cavendish, dono da empresa Delta Construções.
Presos
- Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, empresário
- Adir Assad, empresário
- Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta

Ainda procurados
- Fernando Cavendish, dono da empresa Delta
- Marcelo José Abbud, empresário

Advogado de Cachoeira, Antônio Nabor Bulhões disse que ficou sabendo da prisão no início da manhã, após uma ligação da esposa do cliente, Andressa Mendonça. Ele informou que irá se inteirar do caso para se pronunciar.

Já o advogado de Cláudio Abreu, Fabrício Correia de Aquino, informou ao G1 que embarca nesta noite ao Rio de Janeiro. Ele também disse que só vai se pronunciar após tomar conhecimento sobre o caso.
Mandados
Assad, que já cumpria prisão domiciliar após ter sido condenado a 9 anos e 10 meses na Operação Lava Jato, também foi preso. Assad é suspeito de participar da montagem de empresas de fachada para lavar o dinheiro desviado.

Há ainda um mandado para prender Fernando Cavendish, dono da empresa Delta Construções, responsável por diversas obras públicas por meio das quais os R$ 370 milhões foram desviados, segundo o MPF. Por volta das 7h, a PF esteve na casa de Cavendish, que fica na Rua Delfim Moreira, um dos endereços mais caros do Rio de Janeiro, mas não o encontrou.
A polícia aguarda um contato do advogado para saber se pode considerar o dono da Delta foragido. O empresário está na Europa desde 22 de junho e a Interpol pode ser acionada para localizá-lo.
Também alvo de um mandado de prisão, o empresário Marcelo José Abbud não foi localizado no prédio em que vive, em São Paulo. Segundo a PF, Abbud viajou para o exterior na sexta-feira (24), mas seu advogado afirma que o empresário vai se apresentar às autoridades.
Segundo o Ministério Público Federal, dentre os denunciados estão executivos, diretores, tesoureira e conselheiros da empreiteira, além de proprietários e contadores de empresas fantasmas criadas por Carlinhos Cachoeira, Adir Assad e Marcelo Abbud.
Avião com Cachoeira e Cláudio Abreu saiu de Goiânia para o RJ (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Avião com Cachoeira e Cláudio Abreu saiu de Goiânia para o RJ (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Saques em espécie
O MPF afirma que, entre 2007 e 2012, a Delta recebeu R$ 11 bilhões por meio de contratos públicos, o que representa quase 100% do faturamento da empresa. Do total, R$ 370 milhões foram desviados e lavados via pagamentos a 18 empresas de fachada criadas pelos chamados operadores do esquema.


Ainda de acordo com o MPF, havia "aumento significativo" das transferências da Delta para empresas de fachada em anos de eleição e parte dos recursos era sacado em espécie para ser usado no pagamento de propina a agentes públicos. O nome desses agentes não foi revelado.
A investigação mostra que, embora o pagamento a fornecedores da Delta fosse de responsabilidade do setor administrativo e financeiro da matriz empresa, que fica no Rio, escritórios e centros de custo dos membros do conselho e dos diretores regionais realizaram despesas com diversas empresas de fachada.
Conforme a investigação, foram utilizados 116 centros de custo vinculados a escritórios regionais e obras da empreiteira em todo território nacional para o repasse direto e indireto de verbas ilícitas.
O MPF apurou que as empresas usadas no esquema existiam apenas no papel. Elas não tinham sedes nem funcionários e não prestavam os serviços para os quais eram contratadas. Todas operavam com os mesmos contadores, que são investigados no esquema.
De acordo com o Ministério Público, as empresas de Adir Assad e Marcelo Abbud emitiam notas frias não só para a Delta, mas para muitas outras empresas. No mesmo período de 2007 a 2011, foi transferido para essas empresas fantasmas mais de R$ 885 milhões. A organização criminosa também serviu ao esquema de corrupção da Petrobras, de acordo com a Operação Lava Jato.
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Carlos Cachoeira é preso em Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Carlos Cachoeira é preso em Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Em 2012, o Congresso instalou uma CPI para apurar os negócios conduzido por Carlinhos Cachoeira. Embora tenha terminado sem indiciamentos, quebras de sigilo foram enviadas à Polícia Federal e ao Ministério Público.
"Necessariamente, há uma conexão com esses sigilos quebrados lá atrás, porque ninguém falava da Delta até então, e é claro que eles [investigadores] avançaram muito mais", disse o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que integrou o colegiado.
Delta e Cabral
A Delta pertence a Fernando Cavendish, amigo do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Em delação premiada a procuradores da Lava Jato, dois ex-executivos da Andrade Gutierrez afirmaram que o peemedebista cobrou propina da empreiteira Andrade Gutierrez para que ela se associasse à Odebrecht e à Delta em obras do Maracanã para a Copa do Mundo.


Segundo a revista "Época", os ex-executivos Rogério Nora de Sá e Clóvis Peixoto Primo, contaram, em depoimentos no fim de março, que Cabral cobrou pagamento de 5% do valor total do contrato para permitir que a construtora se associasse à Odebrecht e à Delta no empreendimento.
De acordo com a revista, Nora de Sá contou que conseguiu uma reunião com o ex-governador para tratar da inclusão da Andrade Gutierrez no grupo e, segundo os delatores, Cabral concordou. Determinou, no entanto, que a empresa acertasse os percentuais com a Odebrecht, já que os 30% da Delta não poderiam ser modificados.
PF faz buscas na casa de Fernando Cavendish, no Leblon (Foto: Reprodução/TV Globo)PF faz buscas na casa de Fernando Cavendish (Foto: Reprodução/TV Globo)
Inicialmente orçada em R$ 720 milhões, a reforma do estádio que recebeu a abertura e a final da Copa custou cerca de R$ 1,2 bilhão. A porcentagem seria equivalente a aproximadamente R$ 60 milhões.
Em nota, o ex-governador Sérgio Cabral disse que manteve apenas relações institucionais com a empresa Andrade Gutierrez e negou que tenha interferido em processos de licitação de obras ou solicitado benefício financeiro para ele ou para campanha eleitoral.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de chefiar um esquema de exploração ilegal de caça-níqueis em Goiás, Cachoeira já havia sido preso em fevereiro de 2012, quando a Operação Monte Carlo foi deflagrada pela PF e o Ministério Público Federal. Ele ganhou liberdade em 11 de dezembro do mesmo ano.


A operação revelou ligação entre o contraventor e o ex-senador goiano Demóstenes Torres (DEM). De acordo com o MPF, o ex-parlamentar é acusado de prática de corrupção e advocacia administrativa em favor de Cachoeira. Ele teve o mandato cassado.
Desde então, Cachoeira já foi condenado pelos crimes de peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha. A última condenação foi no dia 23 de setembro, por violação de sigilo funcional, com pena de três anos de prisão. Ele responde aos crimes em liberdade.
Condimínio Alphaville Cruzeiro do Sul, em Goiânia, Goiás (Foto: Honório Jacometto/TV Anhanguera)Cachoeira foi preso na condomínio de luxo em que mora em Goiânia (Foto: Honório Jacometto/TV Anhanguera)
CPI do Cachoeira
Em 2012, a CPI Mista do Cachoeira (formada por senadores e deputados) foi criada para investigar a ligação de políticos com a organização criminosa do contraventor Carlinhos Cachoeira. Após oito meses de funcionamento, terminou com um relatório final de apenas duas páginas, que não sugeria o indiciamento de ninguém.


No entanto, diante dos desdobramentos da nova prisão de Cachoeira, o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que era integrante titular do colegiado na época, considera que o trabalho, afinal, não foi em vão diante das prisões desta quinta-feira (30).
Segundo ele, um grupo minoritário de parlamentares na CPI percebeu que havia uma proteção política para blindar certas pessoas e que dificilmente conseguiria aprovar um parecer mais rígido. Teixeira conta, então, que a saída encontrada foi incluir no relatório final a previsão de que todos os documentos fossem enviados ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal e não apenas os que apontam para algum indício de crime, como determina a Constituição.
“Eles iam derrotar o relatório que tivesse o indiciamento. Tinham maioria. O Cavendish, essa Delta, era um gigante. A coisa começa com o Cachoeira, pela Delta. Olha, nós vamos perder, mas tem uma coisa que eles não vão perceber. Põe aí para nós mandarmos tudo e não só como diz a Constituição, só o que for indício de crime”, relata Teixeira.
“Combinamos com o MPF e com a PF que mandaríamos todos os arquivos, todas as quebras de sigilo. E quebra de sigilo não é fácil para eles. Mas para nós era. Começamos a fazer uma espécie de força-tarefa entre nós e eles e buscando as quebras que interessavam. E colocamos no relatório essa pequena gracinha”, completa.
Para o deputado, há uma clara relação entre essas quebras e a conexão com a Operação Lava Jato agora, que levou à prisão de Cachoeira e outros. “Houve uma colaboração premiada, agora no bojo da Operação Lava Jato, que trouxe de volta o assunto Delta e Cachoeira, daí as prisões acontecidas hoje", disse.
Na avaliação dele, a Delta conseguiu se projetar nacionalmente graças às suas ligações com políticos. “A Delta começou a crescer exponencialmente e nós tínhamos as informações de que políticos, não chegamos a determinar quais, agiam para que a Delta participasse de consórcios ou liderasse consórcios de obras. Assim ela ganha, por exemplo, as obras do Maracanã, lá no Rio de Janeiro, e outras obras”, diz.
G1
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O empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso nesta quinta em um condomínio de luxo em Goiânia (GO), na Operação Saqueador, deflagrada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal. Também são alvos de mandados de prisão o ex-presidente e o ex-diretor da construtora Delta, Fernando Cavendish (já considerado foragido), e Cláudio Abreu, respectivamente; e os empresários Adir Assad e Marcelo José Abudd.

Segundo as investigações, empresas fantasmas foram usadas para lavar cerca de 370 milhões de reais pagos por obras públicas. Além dos cinco mandados de prisão, os agentes da PF cumprem vinte de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás.

Nesta quinta-feira, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Cachoeira, Cavendish, Adir Assad e outras vinte pessoas por envolvimento no esquema de lavagem de dinheiro público. Segundo a denúncia, entre 2007 e 2012, a Delta, que participou de diversas obras do PAC, teve mais de 96% de seu faturamento (cerca de 11 bilhões de reais) oriundo de verbas públicas. 

A procuradoria constatou que, desse montante, 370 milhões de reais foram "lavados" em repasses feitos a dezoito empresas de fachada. Cachoeira, Assad e Abbud são apontados como os responsáveis por criar essas empresas laranjas, que, por meio de contratos fictícios, dificultavam o rastreamentos do dinheiro de origem espúria.

As investigações da PF duraram cerca de três anos e começaram a partir de documentos colhidos na CPI do Cachoeira, instaurada em 2012 e que também mirava em supostas irregularidades da Delta. Criada pelo PT para atacar instituições que investigaram o mensalão, a comissão passou a aterrorizar políticos depois de VEJA revelar que a construtora usava uma extensa rede de empresas-fantasma para pagar propina a servidores públicos e financiar ilegalmente campanhas eleitorais. Na ocasião, o esquema acabou derrubando o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que tinha envolvimento com Cachoeira e foi cassado.

Segundo reportagem de VEJA, de dezembro de 2013, Assad, que já foi condenado na Lava Jato por lavagem de dinheiro, era um empresário que viu seu faturamento crescer 574 vezes em quatro anos, oferecendo um serviço valioso: corrupção e financiamento clandestino de candidatos. Entre os seus clientes, além da Delta, estão outras empreiteiras, bancos, consultorias e muitos políticos.

VEJA

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