domingo, 21 de agosto de 2016

CARCINICULTURA POTIGUAR


Depois de uma década na qual registrou queda superior a 50% na produção,  e apenas 20 toneladas exportadas em 2015, o estado volta a receber novos investimentos e registra aumento de 137% nos licenciamentos ambientais em 2016. A exportação de 384 toneladas, ou US$ 2,39 milhões, até julho passado, nem de longe lembram o auge do mercado potiguar, mas já são o melhor resultado desde 2010. 
 
Esse novo fôlego coincide com um momento difícil para o atual líder nacional: o vizinho Ceará, responsável atualmente por mais de 60% da produção no país, afetado recentemente pela mancha branca – uma doença que mata grande parte da produção e à qual os produtores do RN já estão se adaptando com muita tecnologia, depois de sofrer na própria pele os efeitos da praga. 
 
Entre os investimentos na carcinicultura no estado, um ultrapassa os R$ 100 milhões e vem do próprio Ceará. O empresário Cristiano Maia, da Samaria Aquicultura, comprou em março a fazenda Potiporã ao grupo Queiroz Galvão. Além de ser a maior fazenda do país, com mais de 900 hectares de espelho de água, responsáveis por 20% da produção potiguar, a empresa conta com a maior indústria de beneficiamento e o maior laboratório de pós-larvas no Brasil. 
 
Por dia, são colhidas 10 toneladas de camarão. O empresário quer aumentar sua produção de cerca de três mil para cinco mil toneladas anuais – o necessário para viabilizar toda a estrutura da Potiporã. Apesar disso, ele diz que não pretende, por enquanto, exportar. “O valor pago no exterior está praticamente o mesmo no mercado interno. Antigamente eu exportava para os Estados Unidos e França. Hoje, toda minha produção (no Ceará) fica no Brasil. Temos um grande mercado interno”, ressalta o empresário. A média de consumo do brasileiro, explica, é de meio quilo de camarão por ano e a indústria pode fazer campanha para aumentar o consumo interno. "Há muito o que expandir", avalia. 
 
No ano passado, o RN produziu 14 mil toneladas de camarão. A perspectiva é que em 2016 esse número chegue a 17 mil, de acordo com o empresário Orígenes Monte, presidente da Associação Norte-riograndense de Criadores de Camarão (ANCC). “Pouco a pouco, estamos tentando recuperar o posto de maior criador. O Rio Grande do Norte está à frente dos outros estados na tecnologia e isso nos deixa com um potencial grande, além de uma recente legislação, que está facilitando bastante o licenciamento”, comenta.  Ele se refere à Lei Cortez Pereira, número 9978/2015, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Robinson Faria (PSD). 
 
A recuperação do preço do camarão e o câmbio mais favorável também estão estimulando os produtores a voltarem a exportar, segundo Itamar Rocha, da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC). O acesso à água doce, entretanto, ainda é um problema. A água em excesso, por sinal, dizimou produções potiguares nos anos de 2004, 2005, 2008 e 2009. 
 
A perspectiva é que o novo cenário e a tecnologia façam o estado aumentar muito sua participação no cenário nacional. Conforme Alberto Cortez, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e subsecretário de Pesca e Aquicultura do estado, o RN foi pioneiro na produção de camarão no país. 
 
Em 1973 o governo estadual enviou técnicos ao sudeste asiático para conhecerem as técnicas de cultivo para a produção. Inicialmente foram utilizadas áreas de dessalinização próximas a Macau, na chamada Costa Branca do estado. Tentou-se utilizar o camarão nativo mas não deu certo. Entre o final da década de 1980 e o início de 1990 foi introduzido o camarão vinnamei. Nesse período, de mercado extremamente favorável, o estado aproveitou o "boom" econômico e liderou a produção de camarão no país. “Entre 1993 e 1994, o Rio Grande do Norte chegou a exportar mais de R$ 100 milhões de dólares”, conta o professor.
 
Alberto Cortez destaca que na busca por maior produtividade e segurança nas fazendas locais, os produtores potiguares estão atingindo a excelência na produção. Um exemplo é a fazenda Camanor, que criou o sistema AquaScience, que une vários sistemas de reutilização da água para criação de camarão e de tilápia. De acordo com a própria empresa, foram alcançadas 45,6 toneladas de camarão por hectare de área a cada ciclo de produção (são três por ano), quando, de acordo com o professor, a média no manejo tradicional é de quatro toneladas por hectare. 
 
Potiporã precisa de 10 anos para recuperar investimento
 
Desde 2011 a Potiporã estava á venda. A Queiroz Galvão já havia reduzido a produção depois da enchente de 2009, que prejudicou a produção e provocou a demissão de trabalhadores do beneficiamento de camarão em Pendências. Nos anos seguintes, a produção foi por vezes retomada mas não com a potencialidade total. O empresário Cristiano Maia era cliente do laboratório da marca e, no início deste ano, resolveu comprar a Potiporâ, três vezes maior que sua fazenda de aquicultura, Samaria, no Ceará. A negociação de mais de R$ 100 milhões foi fechada em março e o pagamento feito no dia 30 do mesmo mês. De acordo com o empresário, serão necessários 10 anos para recuperar o investimento.
 
Desde que assumiu o empreendimento, no dia 1º de julho, Maia aumentou o número de funcionários da fazenda de 280 para 400 e passou a arrendar e comprar mais áreas no entorno. Ele espera chegar a cerca 900 empregos gerados, somando as vagas da fazenda, do laboratório e da indústria cujo beneficiamento está paralisado para manutenção e vai ser reaberto em outubro. 
 
O laboratório da empresa é localizado em Touros, litoral norte do estado, e emprega 220 pessoas. Um dos maiores produtores do Ceará, Cristiano Maia disse que ficou preocupado quando a Potiporã foi colocada à venda. “Eu comprava a pós-larva a eles e temi que ela caísse em mãos de pessoas que não são do setor. Como eu produzo camarão há 14 anos e comprava exclusivamente a eles, tive medo de perder esse fornecedor, então resolvi comprar. Mas só compraria se pudesse comprar tudo”, ressalta. O principal negócio de Maia é a construção pesada, com a qual trabalha há quase três décadas. Foi dela que tirou recursos para o novo investimento. 
 
Segunda-feira (15), junto com o empresário Carlos Prado, também do Ceará, Maia foi recepcionado pela Federação da Agricultura do RN, em jantar com presença de investidores, bancos e políticos locais. Prado, sócio da Itaueira – de frutas irrigadas – começou a produção de 400 hectares para exportar aos Estados Unidos. O investimento até o momento foi de R$ 15 milhões. Em outubro a empresa pretende exportar US$ 7 milhões.

NOVO JORNAL

Nenhum comentário:

Postar um comentário