terça-feira, 13 de novembro de 2018

A ESQUERDA E O DESENVOLVIMENTISMO: NOTAS SOBRE O PENSAMENTO DE JOSÉ LUÍS FIORI

Depois de algumas décadas, as preocupações em torno do desenvolvimentismo voltaram a ganhar proeminência. O número e a variedade de desenvolvimentistas autodeclarados é cada vez maior e tudo indica que não irá parar de crescer. Mas isto não deveria surpreender ninguém. Nos anos 60 e 70, todos eram, em algum grau, marxistas. 

E, tal como os desenvolvimentistas atuais, gastaram um tempo considerável para criar um sistema de classificação cada vez mais complexo, na esperança de mostrar como o seu grupo era o único genuinamente marxista. O vento mudou de direção e, repentinamente, os marxistas começaram a desaparecer. Boa parte se converteu ao neoliberalismo e a esmagadora maioria, de forma mais comedida, se transubstanciou em social democratas. 

Assim, com a crise de 2008, não deveria causar espanto o surgimento de um novo movimento de manada: todos se tornaram, desde então, ao seu próprio estilo, desenvolvimentistas. Contra esse cenário aparentemente monocórdico, recentemente, José Luis Fiori publicou dois artigos no Jornal Valor que, ao menos aparentemente, almejam aquilatar o debate em torno dos desenvolvimentismos. 

O primeiro artigo (“O desenvolvimentismo de esquerda” (29/02/2012)) desemboca em uma crítica à “Escola de Campinas” que, embora pouco fundamentada (Fiori não aponta nenhum argumento substancial ou evidência), curiosamente, hiperdimensiona o seu papel no debate público nacional: ao se converter em uma instituição dotada de uma “ideologia tecnocrática”, esta Escola deixou de atuar como a bússola que supostamente orientava a esquerda e, desse modo, a condenou a navegar sem rumo. Será que – mesmo nos tempos áureos – a “Escola de Campinas” teve um papel tão central para o pensamento da esquerda, quanto afirma Fiori? Pouco provável. 

De qualquer modo, essa linha de argumentação exigiria um esforço prévio: definir exatamente o que caracteriza tal Escola ou, pelo menos, os seus contornos mais gerais. Sem isto, por não ter fundamentos sólidos, o artigo paira no ar, e só pode ser considerado como uma provocação gratuita.

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