segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dezembro é mês de gastar


Por Fernando Dias

Dezembro é o mês do Natal, das férias escolares, coletivas e do recesso das empresas e do setor público. Por força dos mecanismos da legislação trabalhista e pela própria tradição, dezembro é o mês no ano em que a renda auferida é mais alta e, consequentemente, o mês em que mais se gasta. Nada mais natural pois junto com o aumento da renda vem também o aumento dos motivos para gastar, principalmente em bens de consumo.

Os dados disponíveis para o acompanhamento sistemático do comércio confirmam esta hipótese, e sugerem que no principal mês do ano para este setor o brasileiro gasta mesmo é com consumo, não com bens duráveis ou investimento. Considere por exemplo o comportamento nas três principais praças do Nordeste conforme indica a figura a seguir, com o comportamento das vendas e da receita do comércio para Ceará, Pernambuco e Bahia nos últimos 10 anos.



É bem evidente a ocorrência dos picos sazonais em dezembro em todas as praças, bem como se observa que o índice da receita reage mais intensamente aos movimentos da renda. Em outras palavras, não só consumidor compra mais em dezembro, mas os comerciantes também elevam os preços. Estes dados se referem somente ao comércio varejista, contudo. Analisando o comportamento dos principais duráveis, veículos e imóveis, não há qualquer evidencia que em dezembro os consumidores adquirem mais destes bens destarte possuírem receita adicional.

Particularmente no caso dos imóveis, o adicional da renda mensal é pouco significativo na média em relação ao valor do bem ou mesmo da entrada do financiamento. A figura a seguir mostra que a contratação de financiamentos ao longo dos últimos 20 anos não mostra qualquer padrão sazonal, embora a mesma esteja crescendo exponencialmente nos últimos anos.
Em relação à aquisição de veículos, automóveis e motos, o valor do adicional de renda a princípio é significativo, mas há pouca evidência nos dados de acompanhamento das vendas e receita de vendas para as principais praças do Nordeste que sustentem dezembro como o grande mês de vendas. Como pode ser observado pelo comportamento da figura a seguir, o resultado das vendas de veículo em dezembro é destaque na maioria dos anos, mas sem constituir um pico sazonal.
Analisando os resultados em conjunto um cenário provável é que os recursos extras recebidos em dezembro são tipicamente utilizados na aquisição de bens de consumo não duráveis e serviços. Não há no Brasil ainda pesquisa de acompanhamento sistemático do setor Serviços, mas os dados de emprego no mesmo, avaliáveis pelo CAGED, sugerem isto visto que o número de contratações aumenta consideravelmente em dezembro.

Desta forma, a resposta clássica a pergunta de pesquisa “o que você vai fazer com seu 13º?”, que costuma ser “pagar dívidas”, deve ser interpretada mais como um ideal que com a uma ação de fato, pois os dados mostram que as pessoas irão mesmo é gastar.

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