O Brasil é um país emergente, a nova estrela do firmamento internacional, certo? Certo, mas, visto bem de perto, é também um país de tremenda precariedade institucional/legal.
É só olhar para a foto acima. Você diria que é um edifício de país emergente? Ou ficaria mais adequado em alguma nação francamente subdesenvolvida? Pois a construção da foto está localizada em pleno centro de São Bernardo do Campo, a principal cidade do cinturão industrial de São Paulo, eixo da indústria automobilística brasileira e berço do PT, o Partido dos Trabalhadores, que governa o Brasil emergente e também São Bernardo do Campo.
As lajes desse edifício de 13 andares desabaram na noite de segunda-feira, deixando-o oco por dentro e matando uma menina de seis anos, além de ferir seis pessoas. O número de vítimas só não foi maior porque o imóvel é comercial. Nele funcionam escritórios e consultórios e, no horário do desabamento, o expediente já estava encerrado na grande maioria deles.
Repito: o edifício fica no centro de uma grande cidade brasileira.
Assim como as três construções que ruíram no dia 25 no Rio de Janeiro, matando 17 pessoas. Não se trata de construções precárias, penduradas nos morros e encostas que, a cada chuva mais forte, desabam com um impressionante cortejo de vítimas e desabrigados. Esse tipo de acidente já foi incorporado ao cenário do país emergente, desde que ele era apenas subdesenvolvido mesmo - e ninguém parece se importar mais.
Vazio deixado pelos prédios caídos no centro do Rio
Já os desabamentos em áreas centrais não têm explicação. Ou, talvez, tenham: construções inadequadas e falta de controle do poder público. Tanto que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, resolveu rever veto que ele mesmo adotara, há apenas três anos, sobre dispositivo legal que exigia uma vistoria a cada cinco anos nos edifícios da cidade.
O desabamento no Rio parece ter feito Kassab imaginar que, sem uma reavaliação a cada cinco anos, também no centro de São Paulo podem ocorrer acidentes como os do Rio e, agora, de São Bernardo.
Mas a fragilidade não é apenas a das construções físicas. A institucional também é precária, de que dá prova a greve dos policiais da Bahia.
Basta citar frase do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo: "É impensável uma pessoa que tem arma e salário custeados pelo Estado para garantir a ordem voltar essa arma contra o próprio cidadão, a quem ele tem o dever de defender".
Seria de fato impensável se o PT, o partido de Cardozo, não achasse impensável quando estava na oposição: em 2001, houve outra greve do pessoal "que tem arma e salário custeados pelo Estado", mas o PT da Bahia, assim como seu líder principal, Luiz Inácio Lula da Silva, apoiaram o movimento.
Lula chegou a acusar o governo da época na Bahia de "articular os chamados arrastões para criar pânico na sociedade. Veja, o que o governo tentou vender? A impressão que passava era de que, se não houvesse policial na rua, todo o baiano era bandido. Não é verdade".
Agora que está no governo, o PT, pela voz do governador Jaques Wagner, acusa os grevistas de agir como "bandidos", insinuando até que são policiais os responsáveis por alguns dos assassinatos cometidos durante a greve.
Claro que nem todo baiano é bandido, mas o fato é que a ausência dos policiais nas ruas levou a uma explosão de criminalidade: nos seis primeiros dias de paralisação, foram cometidos 86 assassinatos em Salvador e Região Metropolitana, mais que o dobro dos 42 ocorridos nos seis dias imediatamente anteriores à greve (até a manhã de segunda-feira, os assassinatos já haviam chegado a 94, contando apenas os registrados. Passavam de cem se se levassem em conta pelo menos meia dúzia de casos não registrados).
Mesmo os 42 assassinatos em seis dias "'normais" já seriam uma barbaridade, um sinal de fragilidade institucional e social, mas ver duplicada a quantidade de crimes de sangue pela ausência da polícia leva a uma situação de barbárie, mais comumente associada a países como El Salvador e Guatemala, que ninguém considera emergentes.
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