segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Escola que queremos...


Por Marcelo Eduardo A. Silva

Mais um ano escolar se inicia hoje e com ele a expectativa de que as coisas sejam melhores do que no passado. Novos estudantes iniciam sua jornada no ensino formal e tantos outros retornam. Para os pais fica a esperança de que os filhos possam ter uma educação de qualidade, pelo menos para aqueles que têm filhos em escolas particulares ou em escolas públicas “modelo”. Para os demais, a esperança é de que os filhos tenham alguma educação.

Afinal as incontáveis greves, infraestrutura precária, professores descompromissados ou sem a formação adequada, falta de material didático-pedagógico, ausência de bibliotecas, computadores, paralisações as mais diversas, etc. são coisas comuns para as nossas crianças e jovens no ensino público. Tais elementos acabam explicando, pelo menos em parte, o desempenho medíocre dos formandos destas instituições nos diferentes exames nacionais e internacionais. Basta ver o resultado do último ENEM, por exemplo. No topo aparecem as escolas públicas “modelo” e as escolas particulares, enquanto que na cauda da distribuição aparecem as escolas públicas tradicionais.

Para mim o fato de que no topo do ENEM aparecem escolas públicas (escolas modelo) e privadas aponta para o fato de que a educação pode ser “fornecida” por agentes privados ou públicos, ou seja, eliminando o fator ideológico. Muito embora muitas coisas, em conjunto, sejam determinantes do desempenho individual dos alunos, para mim, algumas coisas são fundamentais.

Por exemplo, o grau de interesse e participação dos pais consiste num destes fatores, além disso, são evidentes para mim que infraestrutura, formação e interesse dos professores, acesso a materiais didático-pedagógicos, bibliotecas, computadores também devem fazer parte do “kit” escola, mas o que dizer sobre o modelo de gestão da escolas? É possível atribuir importância ao modelo de gestão escolar no desempenho dos alunos? Aparentemente, a resposta é positiva. Num estudo recente (Abdulkadiroglu et al, 2009), alguns economistas mostraram que em escolas do tipo “charter” (escolas públicas, mas com gestão privada) os alunos acabavam tendo um desempenho melhor do que em escolas públicas tradicionais.

Enquanto as primeiras se apresentavam mais flexíveis em diversos aspectos como, por exemplo, na contratação e demissão de professores (o que implicava no melhor controle de desempenho), na determinação das horas aula dos alunos (estes tinham em média mais horas aulas, aulas nos finais de semana, nas férias de verão, etc.), as escolas públicas tradicionais se mostraram pouco flexíveis, particularmente no aspecto de contratação e demissão de professores, ou na determinação das horas aulas, do conteúdo programático, ou ainda da razão professor-aula na sala de aula.

Tomando carona no modelo de gestão implantado nos novos hospitais e emergências (UPA’s) de Pernambuco, não seria o momento de discutirmos o modelo de gestão em nossas escolas públicas? Seria o modelo de escolas “charter” um modelo a ser seguido? O certo é que do jeito que está não é possível continuar, caso contrário estaremos perpetuando o nosso modelo de desigualdades de renda e oportunidades. Lembrando um ditado popular “o que engorda o boi é o olho do dono”. No caso das escolas públicas tradicionais, o “olho” do dono, aparentemente, está sofrendo de cegueira aguda.

Atila Abdulkadiroglu, Joshua Angrist, Susan Dynarski, Thomas J. Kane, and Parag Pathak (2009) “Accountability and Flexibility in Public Schools: Evidence from Boston's Charters and Pilots” NBER Working Paper No. 15549

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