A dois meses da Rio+20, conferência ambiental que terá o Brasil como
vitrine, a Câmara está na bica de propiciar a Dilma Rousseff uma segunda
derrota na votação do Código Florestal. Nesta terça (24), os deputados
votarão uma proposta de código redigida por Paulo Piau (PMDB-MG).
Carrega 21 alterações ao texto que o Senado aprovara e que Dilma
adorara. Restaura parcialmente os termos de uma proposta que, em votação
anterior à dos senadores, a Câmara referendara no ano passado. E Dilma
detestara. A cereja do bololô são as chamadas APPs (Áreas de Preservação
Permanente).
Na versão que Dilma aprecia, os produtores rurais que desmataram as
margens dos rios seriam obrigados a replantá-las. Para cursos d’água de
até dez metros de largura, a recomposição teria de alcançar 15 metros de
vegetação. Na fórmula de Piau, que Dilma deplora, essa obrigação some.
Em nota levada ao Twitter na noite passada, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, escreveu:
“Semana quente. Código Florestal sem acordo . Vai para o voto num clima
tenso. TV transmite. Terça. Vou defender relatório Piau.” Alcançado
pelo blog, Henrique disse que vai usar as 24 horas que antecedem a
votação para tentar retirar o governo da posição de Napoleão a caminho
de Waterloo.
“Chego a Brasília nesta segunda (23). Vou procurar os ministros
envolvidos com o tema para ver se conseguimos chegar a um entendimento.
Um assunto dessa importância merece que a gente se empenhe pelo acordo
até a última hora”, disse o líder pemedebê.
E se prevalecer o dissenso, como parece provável? Bem, nesse caso,
“vamos para o voto. Democracia tem dessas coisas. Uma hora a maioria
precisa decidir.” Estima-se que a maioria de que fala Henrique, composta
de agrodeputados e colegas simpatizantes, ultrapassa em muito a
fronteira dos 300 votos.
Em minoria, o PT vai ao ringue do plenário no córner oposto ao do
‘aliado’ PMDB. Jilmar Tatto (SP), o líder da bancada petista, tacha de
“inaceitável o relatório do deputado Piau. Tatto fala até em “obstruir” a
sessão. Prefere não votar a aprovar o inaceitável.
A obstrução, por regimental, é parte do jogo. Levando a intenção
adiante, porém, o PT não conseguirá senão retardar a votação. Tomados
pelo que dizem em privado, os adeptos do texto de Piau descerão ao front
dispostos a levar a batalha até a madrugada de quarta (25), se for
necessário.
Prevê-se que, mesmo sem obstrução, os embates tomarão tempo. Depois
de deliberar sobre o texto de Piau, os deputados terão de votar os
“destaques”. São emendas que visam modificar ou suprimir artigos dos
projetos de lei. Para cada destaque, uma votação diferente.
Proclamado o resultado, o código alçará a mesa de Dilma Rousseff. A
Constituição dá-lhe poderes para vetar a lei –total ou parcialmente.
Para Henrique, um bom acordo ainda seria melhor que a demanda. “O veto
presidencial é um direito da presidenta Dilma. Mas não se pode esquecer
que o veto não é a última palavra.” Verdade. Embora seja incomum, o
Congresso pode, se tiver coragem, derrubar o veto.
[mais uma vez Henrique está em rota de colisão com Dilma e o PT...Quem vai encarar???]
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