CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Mais uma vez, o Banco Central mudou. Não se compromete
mais, como deixara claro antes, a manter os juros básicos (Selic)
estacionados por certo tempo nos 9,0% ao ano, onde estão desde 18 de
abril. Ao contrário, indica que o processo de baixa pode continuar - o
que significa que a redução vai prosseguir.
A Ata do Copom - correspondente à reunião do dia 18 - não esclarece
as razões da mudança, mas parece sinalizar que se deve ao
enfraquecimento da atividade econômica. Como o Banco Central previa, no
início do ano, avanço do PIB de 3,5%, fica a suposição de que, neste
momento, o setor produtivo trabalha em ritmo ainda mais lento.
O texto-chave (parágrafo 35) avisa que "qualquer movimento de
flexibilização monetária adicional deve ser conduzido com parcimônia".
Traduzindo: flexibilização monetária é o mesmo que baixa de juros; é
mais dinheiro na economia, cujo resultado é o barateamento do seu preço -
os juros. O termo parcimônia adotado em seguida é a senha para a adoção
de corte menor do que o 0,75 ponto porcentual decidido nas duas últimas
vezes (março e abril) que o Copom baixou a Selic.
Esses números não são meros buracos de queijo. Ainda quando parecem
ser só um pouco maiores ou menores, implicam transferências de enormes
volumes de dinheiro dentro da economia. Assim, está aberta a temporada
para as apostas sobre o tamanho dos próximos passos da redução de juros:
se vai ser de 0,50 ou 0,25 ponto porcentual ou uma sucessão desses dois
números. Em todo o caso, quem faz um cesto faz um cento, diz o ditado. O
Banco Central tem mudado tanto que pode mudar mais vezes. Ou seja, é
bom não levar essa decisão às últimas consequências porque também está
sujeita a novas alterações da hora e do jogo geral.
No cenário básico ao qual se atém o Copom, a inflação de 2012
converge para o centro da meta, de 4,5%. Não é o que os fazedores de
preços estão esperando. Últimos levantamentos do próprio Banco Central
indicam que, na média, o mercado trabalha com uma inflação de 5,47% para
todo este ano. Mas os formuladores da política de juros acreditam que a
cabeça dos agentes econômicos mudará à medida que a inflação mostrar
arrefecimento.
Com a queda dos juros, o rendimento da caderneta de poupança, já um
pouco mais alto do que o de alguns fundos de renda fixa destinados a
aplicações mais baixas, deverá ficar ainda mais vantajoso para o
aplicador a partir de 30 de maio - data para a qual está agendada a
próxima reunião do Copom.
Embora a ata silencie sobre esse efeito, o governo federal não parece
preocupado com a eventual migração das aplicações financeiras dos
fundos de renda fixa para a caderneta. São três as suas fortes razões
para manter intocáveis as atuais regras: (1) não quer ser criticado em
ano de eleições por esvaziar a aplicação financeira do povão; (2) quer
aproveitar o aumento da competitividade da caderneta em relação aos
fundos de investimento para pressionar os bancos a reduzir as taxas de
administração, elevadas demais, cobradas dos aplicadores; e (3) quer ter
uma ideia melhor sobre o potencial de migração das aplicações para a
caderneta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário