a Delta é uma empresa pastel?
Arregimentado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um grupo de
congressistas da CPI do Cachoeira decidiu promover um cerco judicial à
Delta Construções. Concebida à margem da comissão, a iniciativa é
qualificada por Miro, advogado de formação, como uma “guerrilha de
ações”.
Integram o grupo congressitas da banda independente do condomínio
governista e também oposicionistas. Na linha de frente, além de Miro,
encontram-se os senadores Pedro Taques (PDT-MT), Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Planejam agir já nesta semana.
Antecipando-se à iminente declaração de “inidoneidade” da Delta pela
Controladoria-Geral da União, o grupo vai protocolar na Justiça Federal,
em Brasília, uma ação popular contra a empreiteira e a União. A peça
começou a ser redigida nesta terça (15). Assenta-se em dois pilares de
natureza cautelar.
Pretende-se requerer à Justiça o bloqueio dos bens da Delta e a
abertura de uma conta bancária judicial para que a União deposite em
juízo os pagamentos à empreiteira, maior tocadora de obras do PAC. “Não
vamos deixar que esses camaradas saiam com os bolsos cheios de dinheiro e
às gargalhadas”, diz Miro.
Egresso do Ministério Público Federal, o ex-procurador da República
Taques classifica a Delta como “empresa pastel”. Suspeita que sob a
fachada da sexta maior empreiteira do país não há senão “pastas e
telefones”. O senador escora suas suspeitas na recém-anunciada venda da
Delta à J&F Participações.
“Como pode uma empresa de 40 anos, que amealhou contratos de quase R$
5 bilhões com o setor público nos últimos oito anos, ser vendida assim,
num intervalo de menos de 40 dias?”, questiona Taques. A transação tem
contornos inusitados. Não envolve o desembolso de nenhum centavo do
comprador.
Controladora do frigorífico JBS, do qual o BNDES é sócio com 31,4%, a
J&F assumiu o controle da Delta na última segunda-fiera (14). Fará
uma auditoria nos contratos e nas contas. Concluída a varredura, vai
decidir se exerce ou não a opção de compra. Se fechar negócio, vai pagar
a Fernando Cavendish, o dono da Delta, com os dividendos que a
empreiteira for capaz de amealhar.
Depois de protocolar a ação de Brasília, o grupo parlamentar que age à
margem da CPI levará sua “guerrilha” aos Estados onde a Delta beliscou
contratos públicos. Taques, por exemplo, patrocinará uma ação no Mato
Grosso. Miro verá o que já foi feito no Rio e o que ainda é preciso
fazer. Informados sobre o movimento, outros congressistas arregaçam as
mangas.
Miro relata: “O Ônix Lorenzoni [DEM-RS] me disse que, no Rio Grande
do Sul, ainda não tem nenhuma ação contra a Delta. Mas a empresa está
querendo receber por lá R$ 30 milhões, R$ 40 milhões. Então, ele quer
entrar com uma ação no Estado.”
De resto, o grupo analisa até esta quinta (17) que outras iniciativas
podem ser adotadas no âmbito do governo federal. Analisa-se, por
exemplo, a hipótese de protocolar uma petição na Advocacia-Geral da
União, órgão responsável pela defesa dos interesses do governo no
Judiciário.
Todas essas iniciativas poderiam ser adotadas por meio da CPI.
Decidiu-se agir por cima da comissão para fugir ao torniquete
burocrático. Há, hoje, cerca de 200 requerimentos pendentes de votação.
Se optassem por apresentar suas requisições na CPI, o grupo teria de
sujeitar-se à fila, ao crivo do relator Odair Cunha (PT-SP) e à
aprovação da maioria.
“A CPI não tem poder para decretar coisas como bloqueio de bens e
abertura de conta judicial. Teríamos de aprovar requerimentos e, depois,
peticionar à Justiça. Então, vamos direto ao Judiciário, numa ação
paralela”, afirma Miro. Taques ecoa o colega: “A CPI recorreria à
Procuradoria do Senado, que poderia preparar a ação. Mas nós não
precisamos tratar disso na comissão. Podemos atuar como parlamentares.”
O
grupo parlamentar reúne-se regularmente desde o início dos trabalhos da
CPI, há duas semanas. Decidiu agir num encontro realizado na noite de
segunda (14), no restaurante do Clube de Golfe de Brasília. Acometido
por uma crise de sinusite, Jarbas Vasconcelos endossou as deliberações
pelo telefone.
Por ora, a CPI não logrou ouvir nenhum membro da quadrilha de
Carlinhos Cachoeira. O depoimento do contraventor, que seria tomado
nesta terça (15), foi suspenso pelo ministro Celso de Mello, do STF, e
remarcado pela CPI para a próxima terça (22).
No plano de trabalho apresentado pelo relator Odair e aprovado pela
CPI, a Delta só começa a ser roçada no dia 29 de maio. Nesse dia,
pretende-se realizar a inquirição de Cláudio Abreu, o ex-diretor da
empreiteira para a região Centro-Oeste. Ele foi demitido depois vieram à
luz suas relações com a quadrilha de Cachoeira. Relações fortes o
bastante para que a Justiça decretasse sua prisão preventiva.
Há na CPI três requerimentos de convocação de Fernando Cavendish, o
sócio majoritário que negociou a Delta com o grupo J&F. Mas o
relator absteve-se de levá-los em conta no seu cronograma. O PT
esforça-se para circunscrever a investigação da Delta ao Centro-Oeste,
evitando que a CPI chegue às obras do PAC.
A empeiteira exibe um portfólio de cerca de R$ 4 bilhões em obras
públicas. Os recebíveis somam cerca de R$ 900 milhões. Se o grupo
extra-CPI tiver sucesso em sua investida judicial, essa verba seria
depoistada em juízo. Afora os contratos firmados com a União, a Delta
opera em 23 Estados.
blog do Josias
[espero que o 'verde' senador Paulo Davim (PV-RN) faça o mesmo aqui no RN...]
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