O que guarda – e vai guardar – a sala-cofre da CPI
Apesar do vazamento integral na internet do inquérito da Operação
Monte Carlo da Polícia Federal, que desmantelou a quadrilha do
contraventor Carlinhos Cachoeira e expôs as relações dele com o senador
Demóstenes Torres (GO), o presidente da CPI que investiga o esquema,
senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), lembra que ainda existe muito
material sigiloso a ser resguardado na sala-cofre da comissão.
Vital cita, por exemplo, os autos da Operação Las Vegas, deflagrada
pela PF em 2007 e que se estendeu até 2009, considerada a “mãe” da Monte
Carlo, já encaminhados à CPI. E a documentação de conteúdo explosivo
que ainda está para chegar, relativa à quebra do sigilo bancário e
fiscal de Carlinhos Cachoeira nos últimos dez anos. A abertura do sigilo
do contraventor foi decretada pela comissão na última quarta-feira (2).
Futuramente, a comissão deverá quebrar o sigilo, também, de empresas
ligadas ao esquema de Cachoeira.
A Operação Vegas foi a primeira investida dos policiais contra o
esquema de jogo ilegal em Goiás e na região do entorno do Distrito
Federal. Foi nos autos dessa operação que surgiram os primeiros grampos
telefônicos, captando conversas entre Demóstenes Torres e Cachoeira. O
processo foi remetido ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
em 2009, mas ele não tomou providências. Alegou que aguardava o desfecho
da segunda operação, Monte Carlo, para pedir a continuidade da
investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), diante da prerrogativa
de foro de Demóstenes.
Cálculos dos investigadores que atuaram na Operação Las Vegas apontam
que os rendimentos da organização criminosa chegariam a R$ 180 milhões.
O delegado responsável por essa operação, Raul Alexandre Marques Souza,
será ouvido pela CPI na próxima terça-feira (8).
O aparente excesso de zelo de Vital do Rêgo com a preservação do
sigilo dos documentos irritou os parlamentares que integram a CPI.
Deputados e senadores não podem acessar a sala-cofre portando celulares
ou outros equipamentos eletrônicos. Além disso, há câmeras e policiais
vigiando o local. Os parlamentares só podem adentrar o local com canetas
e bloco de anotações para conferir a documentação, que está sendo
digitalizada e estará à disposição em três computadores. Os 64
integrantes da CPI, entre titulares e suplentes, terão de se revezar no
uso dessas máquinas.
Alvo de críticas, Vital diz que está tentando criar um modelo de
segurança para a CPI e não descarta aperfeiçoá-lo. “A minha parte eu vou
fazer”, defendeu-se em uma entrevista coletiva. Em conversas
reservadas, desabafou dizendo que esse “estresse inicial” dos
parlamentares faz parte do começo dos trabalhos. E ironizou lembrando
que em CPIs anteriores, como a CPI do Banestado (2003), houve documentos
secretos que nem chegaram a ser consultados.
estadao.com
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