Alex Costa
Da redação de Natal
Natal - Um elefante branco em meio às brancas dunas da capital potiguar. O nítido abandono do Parque Natural Municipal Dom Nivaldo Monte, popularmente conhecido como Parque da Cidade, deixa desconcertada a população natalense, que almejava expectativas diferentes para o espaço público. Criado com o objetivo de ser um ponto de lazer e cultura para turistas e potiguares, o local hoje exime a serventia de local de caminhada, em horários em que o calor do astro maior não torne insuportável a permanência no parque; isso porque é impossível entrar no Centro de Visitantes ou visitar o monumento projetado por um ícone da arquitetura nacional: Oscar Niemeyer.
As paredes começam a descascar e manchar com o tempo sem passar por nenhum tipo de manutenção. As trilhas já apresentam ervas-daninhas nas calçadas e a falta de cuidado com a preservação do local assassina a beleza do parque. "Não podemos subir lá no alto. Não há nada para fazer aqui dentro. As trilhas estão disponíveis, mas a esta hora não dá para caminhar. É muito quente e úmido", expressa Júlio Castro, de 44 anos. O turista paulista passeava com a família no Parque da Cidade e levou apenas como recordação uma foto no monumento.
Os banheiros interditados deixam o local ainda mais inóspito. Sem água ou qualquer outro serviço de alimentação, o parque tem um volume maior de visitas apenas no início do dia, quando abre às 5h. Para a caminhada, os aventureiros se preparam para se deparar com fezes humanas em alguns trechos e guaritas de proteção com paredes pichadas por vândalos.
"Escondidos" por trás do salão de convivência interditado e com vidros sujos ficam acumulados restos de construção civil, como ferragens e concreto, e espaços inacabados, que deveriam ter sido construídos há bastante tempo. Inaugurado antes de ter sido concluído, no final da gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, em 2008, o Parque da Cidade não teve suas obras continuadas e os problemas se acumularam ao longo dos últimos três anos.
"Acho que é bem bacana, essa torre maluca, esse bicho enorme olhando por cima do verde. Tem a assinatura de Niemeyer, que é inconfundível.
Mas, quando esse parque vai estar terminado mesmo?",
questiona o aposentado Augusto Ramos, de 67 anos.
Situado na Zona de Proteção Ambiental - 1 (ZPA-1), o Parque Natural Municipal Dom Nivaldo Monte é uma unidade de conservação de proteção integral criada pelo decreto municipal 8.078/06.
A obra foi iniciada no final do ano de 2006, orçada no valor de R$ 17 milhões. O parque, além de ser uma primeira experiência de gestão em ZPA, deveria desempenhar a função de espaço destinado ao lazer ecológico, cultural e equipamento estratégico de promoção da educação ambiental. Porém, a situação é complicada. De acordo com o secretário-adjunto de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), Eugênio Bezerra, apesar de ter havido uma inauguração na gestão anterior, foram identificados 600 itens inacabados ou feitos de maneira indiscriminada, precisando de novos ajustes.
"O Parque da Cidade foi construído numa área que não era de domínio público. Era um conjunto de lotes que pertenciam a particulares. Passamos dois anos inteiros só resolvendo essa questão da desapropriação dos terrenos. Já estamos com 95% desse problema resolvido. Mas ainda há outros pontos que precisam ser retratados para que o local possa ser amplamente utilizado pela população", explica o secretário. Segundo Eugênio, a área do parque passou de 64 hectares para 122 hectares, após o trabalho da gestão atual.
Prefeitura reconhece que acesso é perigoso
O não uso das áreas construídas é esclarecido pelo secretário como precaução. "É impossível permitir o acesso das pessoas à área de convivência. É perigoso demais. O elevador é outro local que precisa ser totalmente reformulado. Isso sem contar questões de acessibilidade, fornecimento de energia, saídas de emergência. É um trabalho simples de se fazer, porém caro", frisa.
A Prefeitura busca, hoje, uma terceira empresa que seja capaz de concluir a obra.
Eugênio Bezerra afirmou ainda que até o final deste ano o Centro de Visitação do Parque estará aberto. Com relação à torre na qual deveria funcionar um museu, não há data precisa para abertura.
"Como disse, precisamos comprar um novo elevador que possa se adequar ao projeto arquitetônico da torre. Isso demanda certo tempo, mas acredito que devemos inaugurar o espaço no final do ano", afirma.
A área da biblioteca será reaberta em junho próximo. Todo o acervo de livros com temas voltados ao meio ambiente e ciências da terra, como geologia, botânica, biologia e outros assuntos, que hoje está no prédio da Semurb, será trazido de volta e colocado à disposição do público. Ao todo, sete mil volumes fazem parte do acervo da biblioteca.
O secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Eugênio Bezerra, rebateu as informações de que haja falta de conservação das estruturas do Parque da Cidade. Segundo ele, a incompletude das obras originou a necessidade do cumprimento de outras demandas.
"Nós temos um aquífero subterrâneo com água potável bem abaixo do parque, todo ele preservado. A erosão das dunas foi contida com a plantação de novas árvores. Só no ano passado, mais de 500 novas plantas foram colocadas no local", informou.
Para a Semurb, a recuperação da mata nativa é uma missão incansável, bem como a preservação da fauna existente na região. "A torre permanecerá fechada, mas temos que olhar pelo lado positivo. O risco de acidentes no local é elevado. Estamos fazendo um trabalho de segurança aos visitantes. Com certeza, com a conclusão da obra, o espaço será devidamente bem aproveitado", argumenta Bezerra. O Parque da Cidade abriga em seu interior a sede da Guarda Ambiental, que faz a segurança do local 24 horas por dia.
Vislumbrando a Copa do Mundo de 2014, a considerável área do parque já faz parte do Cadastro Nacional de Unidades de Conversação do Ministério do Meio Ambiente. Isso possibilitará o parque, que deverá ser concluído ainda neste ano, de fazer parte dos projetos da cidade para a divulgação da cidade-sede para o mundo. "A Copa do Mundo que será estrelada no Brasil tem uma temática muito verde e nossa cidade tem esse peso de preservação ambiental", acredita Eugênio.
Para o RN, a importância do parque é enorme. Área verde ampla, com ecossistema característico da cidade, com espécies raras, aumentam ainda mais o tom de importância do Parque. "Sem contar a fantástica obra de Oscar Niemeyer, que não pode deixar de ser considerado um ponto turístico", diz o secretário. Segundo ele, a gestão anterior já havia gasto R$ 21 milhões com a implantação do Parque da Cidade. De acordo com a avaliação feita pelo secretário, o orçamento das obras remanescentes não deve ultrapassar os R$ 3,5 milhões.
NA PROMOTORIA
De acordo com a assessoria do Ministério Público Estadual, o promotor do Patrimônio Público, Afonso Deligorio, encaminhou em abril do ano passado as peças informativas que podem ou não servir para a abertura de uma investigação ou instauração de um inquérito civil pela Promotoria da Cidadania. Segundo a assessoria, o Ministério Público ainda atua nessa questão e os dados permanecessem pendentes.
Paisagista diz que parque é mal aproveitado
Bem estruturado e bem dimensionado, porém mal aproveitado. Segundo o paisagista Eugênio Medeiros (não é o mesmo que o anterior; só o nome é o mesmo), tudo parecia perfeito na data de inauguração. "Tinham algumas coisas para concluir, mas eles estipulavam no máximo 60 dias. Mas foram logo cortando a tirinha para nós conhecermos o mais novo espaço de preservação ambiental para uso público", conta.
A ilusão foi ganhando forma com o passar dos anos, quando todos perceberam o abandono. As obras não foram continuadas, as empresas que trabalhavam na continuação dos trabalhos simplesmente abandonaram a obra por falta de pagamento e os usuários do Parque da Cidade ficaram a ver navios. Ou melhor, apenas tinham a visão do grande monumento do lado de fora, mas não podiam entrar nele. "Ouço muitas reclamações do espaço como ele está hoje em dia. E, como visitante usual, digo que a situação não é das melhores", revela.
Segundo Eugênio Medeiros, na época da abertura havia pessoas para cuidar do local, distribuição e venda de água, os banheiros eram utilizáveis e as sombras das guaritas eram suficientes. Hoje, o monumento (para ele, horrível) está abandonado e todo o parque sofre com a falta de cuidados. "Eu acho que o centro de convivência deveria ser todo aberto. Eles têm lá ar condicionado e luz artificial, que deveriam ser poupados com o uso da ventilação natural do local e iluminação. Tudo muito impensado", reforça.
"Com o monumento inacessível e elevadores e vidros quebrados, o Parque da Cidade clama por atenção do poder público e pela implantação de artefatos que rebusquem a natureza presente no local", completa o paisagista. Para ele, a estrutura dos prédios de Oscar Niemeyer contrasta com o verde e branco das dunas, e não parece pertencer ao mesmo contexto. "Parece um prédio tirado de um filme de ficção científica", finaliza.
Jornal de fato
[o mesmo destino,
inutilidade, será dado ao ‘Arena das Dunas’, certamente um futuro elefante
branco...O ABC já tem seu estádio; o América era bem servido com o
‘Machadão’...o Arena servirá aos interesses privados para realização de alguns shows e
um ou outro jogo. Dinheiro jogado fora e uma falsa expectativa criada sobre os
benefícios que decorreriam da escolha como sede de uns poucos jogos da copa. Na
verdade, acredito que o lançamento de Natal como sede para a copa teve muito
mais a motivação de criar ‘uma cortina de fumaça’ sobre as investigações que
apontavam para algumas estrelas políticas: familiares de ex-governadora;
ex-governador; deputado...]
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