PECADO CAPITAL: SURGEM NOVAS INFORMAÇÕES DO MATERIAL 'VAZADO' E MEIO MUNDO É CITADO...
DO BLOG DE OLHO NO
DISCURSO
Faltavam cerca de duas semanas para o primeiro
turno das eleições de 2010. O senador José Agripino (DEM/RN) realizou um coquetel em seu
apartamento na capital natalense. O apartamento, uma cobertura, possui
uma secção superior que os íntimos chamam de sótão.
Uma escada, fina, leva ao piso superior.
[apareceu uma data, mais fácil ainda de comprovar
ou não o evento...]
O empresário paulista, sócio do advogado Luiz Antonio
Tavolaro, Alcides Barbosa, foi convidado para a festa.
Alcides, que faz parte do grupo que organiza e toca a inspeção veicular em
Natal, o Consórcio Inspar, tem uma relação muito próxima aos tucanos Aloysio
Nunes Ferreira e Clóvis Carvalho.
Estava em Natal tentando emplacar um negócio de construção
de casas junto ao governo do estado na gestão de Iberê Ferreira de Souza.
Barbosa foi convidado quase como representante dos tucanos de alta plumagem
citados acima.
Ao chegar na festa, Alcides encontra seus sócios, o advogado
George Olímpio e o suplente de senador João Faustino (PSDB). O coquetel
vai avançando e, quase no fim, Agripino pega João Faustino pelo braço e sobe
para seu sótão, ao lado de George Olímpio. Despede-se de Alcides,
mandando recomendações a Aloysio Nunes Ferreira. Pouco depois desce as
escadas, se desculpa com o empresário e chama-o a subir também.
[descreve a dinâmica do encontro...]
Lá em cima, Agripino é apresentado a George por João
Faustino. George diz ao senador que deseja
investir R$ 1 milhão para a sua campanha. Agripino lembra que é o fim da
campanha e estando todo mundo no aperto, o dinheiro era bem aceito.
[apresentado a George no sótão-cobertura? Então tinha
muita gente no coquetel, posto que, só teriam se encontrado no final?]
No entanto George diz não ter o dinheiro naquele momento e,
em poucos instantes, todos chegam ao acordo de esquentar
a doação com cheques - não se sabe se de George ou do Inspar. José
Agripino resolve ligar para o seu suplente, José Bezerra Júnior, o Ximbica, e
lhe pede que venha a seu apartamento.
[a doação seria ‘esquentada’ ou registrada na Justiça
Eleitoral? Como se ‘esquenta’ dinheiro supostamente fruto de desvios com
cheques que deixam pistas?]
Ximbica chega e é apresentado a George. Falando alto,
Bezerra cita Lauro Maia como responsável pelo Inspar, questionando Agripino por
ter-lhe posto naquela situação. Na conversa, todos chegam a um acordo: George Olímpio daria a José Bezerra Júnior R$ 1 milhão em
quatro cheques de R$ 250 mil, a serem descontados mensalmente a partir de
janeiro de 2011. Ximbica faria o depósito do dinheiro imediatamente.
[operação fácil de ser rastreada...não é?]
Após esse episódio, George alardeava a segurança do negócio
com base no fato de que dera esse volume de dinheiro a Agripino. Também por isso, em fevereiro, José Agripino desistiu do
desgaste de confrontar o governo Rosalba em prol do Consórcio Inspar.
No dia do anúncio do fim do convênio, em 09 de fevereiro,
Agripino chamou George para uma conversa em Brasília e anunciou-lhe ser
impossível prosseguir no pleito com governo. Por isso, devolveu os dois
últimos sem descontar. Quanto ao dinheiro inicialmente pago a José na
campanha, não há registro de que tenha sido efetivamente devolvido.
Entre várias coisas que George dizia nesse caso, a que mais
o afastou do atual governo foi ter afirmado que doara o dinheiro para a
campanha de Rosalba Ciarlini também - mas Agripino usou o dinheiro
integralmente.
Essa história foi contada na delação premiada
realizada por Alcides Barbosa para o Ministério Público do RN. Seu
advogado, Daniel Alves Pessoa, confirma as informações como sendo o teor do
depoimento dado no âmbito do acordo com o MP-RN.
Mas tem mais. E
outros nomes foram citados.
O depoimento explícita que há uma relação, não bem
explicada, entre a dupla Luiz Antonio Tavolaro e Alcides (que era uma espécie
de sócio), com o senador Aloysio Nunes Ferreira. A relação diz respeito,
inclusive, a Clóvis [Carvalho?], que viajou de jatinho fretado a Natal para
tratar da questão da inspeção veicular. Qual o
interesse dos tucanos nesse negócio?
Tavolaro, caso você não se lembre, era o Procurador-Geral do
Município em São José do Rio Preto (SP). Pediu exoneração no dia que foi
deflagrada a Operação Sinal Fechado. Tavolaro é responsável pelas cenas e
relatos de ameaça a Alcides e sua esposa.
Luiz Trindade, um dos advogados ligados a Tavolara, é
acusado de ter ameaçado a esposa de Alcides, dizendo que quem muito fala
termina por morrer em um acidente na rua. E mais de uma vez.
Alcides demonstra ter ficado e se sentido bastante
isolado. Parece que armaram para que ele pagasse sozinho pelos
crimes. E conseguiram fazer com que ele adiasse a delação que tinha
intenção de fazer desde o primeiro dia.
As vantagens indevidas
Segundo relata Alcides, João Faustino teria pedido R$ 150
mil a Carlos Zafred para a campanha de 2010 a fim de cumprir um compromisso com
José Agripino. Mas Carlos não pagou e por isso “deu pau”.
Essa época é aquela em que o acordo com José Maranhão para
financiamento de campanha. Alcides relata o
acordo com José Maranhão na Paraíba,
já explicitado na denúncia do Ministério Público.
E afirma que George Olímpio deu R$
200 mil para Eduardo Patrício,
que havia acabado de se separar, e um carro, conseguido junto a Joca, filho de
Iberê Ferreira.
Alcides informa ainda que George
Olímpio pagou R$ 300 mil ao deputado estadual Ezequiel Ferreira de Souza para
elaboração e aprovação da lei que instituiu a inspeção veicular
obrigatória, em agosto de 2009.
Barbosa também esclarece que o
ex-governador Iberê Ferreira
participou na licitação, na inspeção e teria uma
participação percentual na inspeção - de 15% nos lucros. Esse é o mesmo percentual que caberia à ex-governadora Wilma de Faria. Já a João Faustino cabia dez por cento.
Sobre o novo governo, Alcides diz que havia
garantias da Facility, no Rio de
Janeiro, e por Marcos Rola (da EIT), em São Paulo, de que o negócio seria
reativado com a entrada dos novos sócios.
Havia um entendimento no grupo, à época, que apenas Robinson Faria se opunha à reativação do negócio em virtude de uma
informação repassada por Ezequiel
Ferreira de Sousa de que George Olímpio continuava sendo sócio de Marcus
Vinícius no escritório.
Outros desembargadores
Alcides Barbosa também relata que foi feito um
acerto, já em 2011, com Érico Ferreira e seu pai, o desembargador Expedito Ferreira: cada um receberia, mensalmente, R$
50 mil em dinheiro vivo, a partir do momento em que Érico assumiu a
diretoria-geral do Detran
até o dia da Operação Sinal Fechado.
Para garantir o cartório, que rendia R$ 700 mil, a organização repassou R$ 1 milhão para o ex-governador Iberê
Ferreira. Uma parte desse dinheiro ficou com Luiz Carlos Chop. Além
de Iberê, seu filho Joca também tinha uma participação nos cartórios e na
inspeção.
Segundo Alcides Barbosa, já no governo Rosalba, Paulo de Tarso
Fernandes trabalhava pela manutenção da inspeção, mas substituindo
Marcus Vinícius por Rosseaux Rocha, identificado como testa-de-ferro de Iberê
Ferreira e seu filho Joca. Alcides dá a entender que Paulo de Tarso sabia
perfeitamente as circunstâncias, criminosas até, do Consórcio. Citar
Paulo de Tarso seria o mesmo que citar Robinson Farias?
O depoimento de Alcides Barbosa também envolve outros
desembargadores, além de Expedito Ferreira. Segundo ele, o que João Faustino mandava, Saraiva Sobrinho fazia - o filho de João, e também réu, Edson
Faustino, era assessor de Saraiva. O grupo também foi conversar com o desembargador Osvaldo
Cruz na casa dele - a quem George Olímpio já havia dado R$ 100 mil em favor dos negócios dos
cartórios. Além disso, George pagou a
festa da posse de Saraiva na presidência do TRE.
Meses atrás, publiquei que o desembargador Saraiva Sobrinho
teria recebido vantagem indevida para transportar o processo da Inspeção
Veicular para a Justiça Federal.
Alcides confirma que houve uma decisão favorável a isso no
âmbito do Tribunal de Justiça. Não sabia no entanto que fora pronunciada
por Saraiva Sobrinho - em 19 de abril de 2011, Saraiva remeteu o instrumento
recursal ao TRF da 5a Região.
A última denúncia de destaque no texto diz respeito a
Rousseaux. Segundo Alcides, Rosseuax utilizou o nome de
Valter Alves e de seu pai, o
senador-ministro Garibaldi Alves Filho,
para tentar uma propina de R$ 2,5 milhões para liberar a construção de casas no
padrão das que se realiza em São Paulo. Alcides acha que a
solicitação de repasse de dinheiro é um blefe e que os dois políticos do PMDB
de nada sabiam.
Bate-papo
Conversarmos, rapidamente, com o advogado Daniel Alves
Pessoa sobre o teor do depoimento de Alcides:
Blog: Desde o primeiro momento, Alcides
diz que desejou realizar a delação premiada. Porém, tendo recebido
ameaças da parte do próprio advogado, desistiu. Que tipo de ameaça ele
recebeu?
Daniel Pessoa: Primeiro, a
própria situação gera temor porque envolve interesses de muitas pessoas.
Além disso, ele recebeu essas visitas que, fizeram uma ameaça direta e
explícita, ele se sentiu intimidado. E o fato de terem ido ao encontro da
mulher dele, ameaçando-a também.
Blog: Alcides demonstra um certo
arrependimento de algumas coisas que falava nas interceptações. Você pode
explicar isso?
DP: Na verdade, ele não demonstra
arrependimento. Ele esclarece alguns conteúdos das interceptações e dos
e-mails trocados. Fazia parte do jogo, principalmente com os parceiros de
Natal.
Blog: O advogado Luiz Trindade disse à
esposa do seu cliente que ela poderia sofrer um acidente na rua, caso falasse
demais. Parece, então, que intimidação e ameaça fazem parte do jogo desse
grupo. O que vocês fizeram a respeito?
DP: Vai ser inserido no processo e vai se apurar
provável crime de ameaça.
Blog: Qual o próximo passo da defesa de
Alcides Barbosa?
DP: Aguardar a citação para poder realizar a defesa
prévia.
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